Dayane 06/09/2011
A Carícia do Vento - todo mundo já resenhou, mas eu não resisti e vou resenhar também!!
Penso que o mais admirável deste livro é que a autora foi capaz de uma façanha, despertar múltiplas opiniões sobre cada personagem no decorrer do enredo. Você os odeia, ama, admira, se decepciona em igual proporção. Depois dele ficará difícil avaliar outros livros com benevolência,nunca mais vendo vantagem em uma leitura mais simples e descomplicada.
Sheila Rogers é a heroína do livro, mas no início, o que ela te passa é uma imagem frívola, inconseqüente e volúvel, a ponto de imaginarmos: será que uma personalidade tão frágil sustentará esta história? A verdade é que sim, pois a personalidade e o caráter vão endurecendo e se delineando fortemente a medida em que a história vai ocorrendo.
Brad Towsend é o noivo de Sheila, e em um primeiro momento você não compra a vilania que é vendida na sinopse, você pensa tratar-se de um homem orgulhoso, com pulso firme necessário para lidar com a "fedelha mimada" Sheila.
Como a autora só compartilha os pensamentos e emoções de Sheila fica fácil compreender que só nos decepcionaremos verdadeiramente com Brad, quando a mácara cair para Sheila também e não antes.
Laredo, o único americano do bando que seqüestra Sheila, um homem que sob uma superfície dura e uma história criminosa, escondia um amigo, um confidente e em muitos momentos um candidato a mocinho em nossos corações sofridos pela leitura, carentes de momentos de ternura e aconchego. Estes momentos são garantidos pela candura dos olhos azuis de Laredo...
Ráfaga, um homem sem sobrenome, como Moisés ou Apolo ou Adonis... mas quanto conteúdo poderia conter um único nome? Ráfaga... a própria sonoridade já nos dá um vislumbre da complexidade deste herói. O livro começa e termina sem sabermos, de onde ele veio ou como sua história se transformou até trazê-lo até Sheila. Esta aura de mistério é tão bem escrita pela autora que até a metade do livro não sabemos se ele fala ou não inglês e ele não pronúncia mais que 10 palavras, e ainda assim incrivelmente ele domina as páginas do romance com uma presença perturbadora, mexendo com os sentidos de quem está lendo: curiosidade, medo, raiva, desdém e paixão.
Estes são os nomes das pessoas que dão vida a uma história excitante, onde uma garota rica do Texas foge da proteção dos pais para casar-se com um bandidinho de quinta, ser arrastada por ele para o México para lá perder-se em uma estrada, ser abordada por um bando de foragidos da lei, ter o marido morto (graças a Deus) e ser sequestrada.
No meio de uma montanha protegida pelo desfiladeiro, ela vai descobrir que leis são adaptáveis e reescritas, que a chibata não ficou esquecida junto com a abolição da escravatura e que o coração tem razões próprias para se apaixonar. O dela respondia fortemente ao apelo de olhos negros misteriosos, olhos que viam em seus cabelos dourados e em sua vontade de ferro a realeza de uma leoa que viera para reinar com ele nos confins daquela montanha.
Juntos eles vão descobrir suas fraquezas, seus medos e também qual o limite de sua honra, de sua força, de seu amor.
Em um dos momentos mais emocionantes do livro, com Sheila precisando pagar por uma insubordinação, Janet Dailey fez um trabalho sublime descrevendo com emoção todos os sentimentos contraditórios de Ráfaga, dividido entre a obrigação de manter a tradição de seu grupo, garantindo assim a disciplina do mesmo e entre a vontade de poupar a mulher que ama. Este é um momento em que você sofre por Ráfaga, teme por Sheila e se orgulha de Laredo. Como eu disse antes, é um livro sobre pessoas profundas, apaixonantes.
O final é um roubo, te roubará o fôlego e depois o entendimento. Você sentirá por alguns segundos aturdimento e depois entenderá que Sheila correu para a liberdade, a única que existia para ela depois de ter conhecido Ráfaga.
Ráfaga... fugaz como o vento... como a carícia do vento a beijar o rosto de Sheila Rogers naquela montanha...