50livros 11/02/2018Livro bom para quebrar a caraEstava esperando muito desse livro, mas ele acabou me decepcionando. Verdade, eu já tinha lido outro livro com a mesma temática que marcou DEMAIS a minha vida literária (Priest, de Sierra Simone), então seria uma proeza e tanto se Profano me impressionasse da mesma forma. Só que isso não aconteceu, infelizmente.
Já vou falando que não é um livro ruim, mas ele tem algumas falhas bem pontuais. Primeiro, a trama tenta colocar junto com a história de fundo elementos teológicos e passagens psicológicas com o intuito de misturar as noções de sagrado e profano da moral cristã, só que fica meio jogado, sem propósito, parecendo uma parábola e não diálogos entre personagens ou até mesmo elocubrações mentais.
Apesar desse problema, a história é bem feitinha, mas os personagens é que foram o problema principal. Padre Alessandro, o personagem que deveria despertar nossas paixões e empatia, só deixa a gente meio de saco de cheio. Entendo que dentro do ordenamento católico deve haver mesmo muita dúvida e tentação, mas isso não ficou claro, meio que virou um "mimimi" sem propósito. Se bem que ele dá para relevar, mas a mocinha... Eva não está nada bem construída, ficou esteriotipada, onde a cada 10 palavras, 7 são gírias baianas. Ficou caricato.
Outro problema que eu encontrei foi o fechamento da trama. Creio que a autora tentou fazer algo diferente, inusitado, mas não conseguiu acertar o objetivo. Se o propósito central do livro era mostrar as belezas dentro de todos os tipos de amor, seja carnal, amoroso, familiar ou transcendental, a parada ficou bem suspeita. No meio do livro, Alessandro e Eva se separam, o padre está devastado emocionalmente e, mesmo assim, arranja emprego e moradia para a mocinha com seu próprio irmão. Volta para a paróquia, todo cagado, mas decide voltar para concretizar seu amor. Só que ele chega lá e a "bendita" Eva está NOIVA do IRMÃO DELE! Sério isso? No final, ao invés de mostrar a efemeridade dos sentimentos humanos, Eva ficou com cara de "gold-digger", ou seja, oportunista.
Eu consigo entender as dificuldade do processo criativo, ainda mais quando a gente é intensamente ligado à trama. Então, a meu ver, esse tipo de equívoco acontece mesmo, mas acho que faltou aquele leitor crítico que está ali para apontar as pontas soltas e não para agradar o autor. É mega difícil esse trabalho, mas precisa ser feito. O triângulo amoroso desse caso ficou fraco, a gente sentia que a história estava se perdendo. Os dois realmente não precisavam ficar juntos e, se a escolha inicial da autora era manter Alessandro como pároco, sem problema, só que isso tinha que ter sido revisto, mais pensado, pois ficou jogado e a decisão final do trio não me convenceu.
Uma coisa que eu achei mega chata foi um recado que vinha logo no início falando que aquele livro possuía muitas passagens reflexivas e que "não era para todo mundo", ainda mais para quem procurava um romance tradicional. Não acho isso, o livro Priest mostrou bem mais essas questões e seguiu também um caminho bem espinhoso e não se perdeu. Acho que, no final, tentou-se fazer algo muito diferente e acabou pecando pelo excesso de emoções.
Vejam, não é um livro ruim, na verdade é super bem escrito e a autora consegue fazer uma escrita fluida e bem palatável, apesar de citar muitas passagens bíblicas, tanto que o início e o meio estavam me convencendo intensamente, apesar dos personagens terem aqueles problemas já mencionados. Mas o final desceu a ladeira sem freio e caiu na lama, o que é muito triste, porque tinha um potencial enorme para se estruturar.
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