Não vai acontecer aqui

Não vai acontecer aqui Sinclair Lewis




Resenhas - Não vai acontecer aqui


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Karmille 29/01/2024

Uma ficção quase real
Demorei um pouco para engrenar nesse livro. Porém gostei, no fim com uma temática muito atual sobre como democracias podem ser vencidas por regimes ditatoriais, e em como as pessoas compram esse discurso de progresso sem ter de fato uma proposta que se leve ao progresso. Acompanhamos as personagens perdendo pouco a pouco suas liberdades e a luta invisível e extenuante para poder continuar a expressar suas opiniões.
Recomendo se estiver com estomago pra acompanhar um pouco de tortura e com a mente no lugar para ver esse cenario desolador.
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Bella 24/12/2021

É assustador como esse livro é tão atual, mesmo sendo de 1935. Nem sempre a gente concorda com o personagem principal mas o livro traz muitas reflexões importantes. Não é um livro fácil de se ler, não por ser incompreensível, mas por ter cenas fortes demais. Gostei muito.
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Fábio Valeta 12/09/2021

Não precisamos ir muito longe para imaginar o que aconteceria se um homem vaidoso, falastrão, com discurso racista e anti-imigração e fortes tendências fascistas e uma massa de seguidores desprovidos de pensamento crítico e consciência política, fosse eleito presidente nos Estados Unidos, afinal, cinco anos atrás isso realmente aconteceu, mas quando “Não vai acontecer aqui” foi escrito, ninguém poderia imaginar algo assim se tornando realidade.

Escrito no período entre guerras, Sinclair Lewis usa o período da grande depressão e com a imagem viva de regimes totalitários como o nazismo alemão e o fascismo italiano para imaginar um EUA igualmente fascista. E o faz na figura de um político medíocre chamado Berzelius “Buzz” Windrip, que com um discurso populista e antissistema consegue o apoio da massa descontente e miserável devido a depressão. Assim como na Alemanha e Itália, o golpe de Windrip é rápido e certeiro e antes mesmo que alguém perceba, já estão vivendo em uma ditadura totalitária onde um dos maiores crimes possíveis é justamente ousar criticar “O Chefe” como Windrip é carinhosamente chamado.

O livro acompanha a história de um jornalista chamado Doremus Jessup. Dono de um pequeno jornal em uma pequena comunidade longe do centro político americano. Doremus é um liberal com tendências socialistas e percebe desde cedo o perigo que a eleição de alguém como Windrip representa para a democracia, mas ele aos poucos percebe também que muitas das pessoas ao seu redor estão inclinadas a apoiá-las ou mesmo não acham que nada de ruim poderá acontecer se se ele ganhar, pois a ideia de que os EUA se tornassem um regime totalitário é impensável. Simplesmente “não vai acontecer aqui”, diz mais de uma personagem.

Por se passar distante de Washington, temos no livro a sua maior qualidade e, as vezes, seu defeito. Ao seguir a vida de uma pessoa comum e, apesar de bem-informada, distante dos acontecimentos principais, muitos dos eventos chaves que ocorrem no livro dão a impressão de acontecerem rápido demais. Tanto o golpe de Estado de Windrip como outros eventos parecem as vezes jogados na trama, embora não muito diferente do que deve acontecer com qualquer pessoa vendo seu país cair em um regime totalitário sem poder fazer nada para impedir. Ainda mais em uma época em que a Televisão era um artigo de luxo e a internet sequer era um sonho na mente das pessoas. De certa forma, a história do livro lembra também “Complô contra a América” (embora ainda não tenha lido o livro de Philip Roth, vi a adaptação em forma de minissérie ano passado), mostrando pessoas comuns tentando sobreviver a um golpe de Estado. Mas enquanto a família protagonista de “Complô” quer apenas ser deixada de lado, Doremus é um crítico contundente do novo regime, o que lhe dá vários inimigos durante sua jornada.

Décadas antes da eleição de tipos como Trump e Bolsonaro, “Não vai acontecer aqui” deixa claro que a força das “Instituições democráticas” só existe quando não são constantemente fragilizadas por aqueles que deveriam protegê-las. Lido anos atrás, seria um alerta. Lido hoje, não deixa de ser um grande “eu avisei” ...
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Bruno Malini 10/03/2021

Às vezes se arrasta mas é leitura indispensável
O livro mostra claramente como se estabelece um regime fascista num país, transformando pessoas ignorantes em soldados a serviço de um regime que só tira direitos das pessoas. Polêmico, atual, mas sem dúvida uma leitura indispensável.
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Biblioteca Álvaro Guerra 23/07/2019

É possível que os Estados Unidos da América se transforme em um país fascista?
Escrito em 1935, Não vai acontecer aqui não poderia ser mais atual. Recuperado pela crítica e pelo público após as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o livro de Sinclair Lewis Discute a fragilidade da democracia e o espectro fascista que ronda todo regime livre.

Este livro conta a história de Buzz Windrip, um candidato do interior norte-americano, populista e preconceituoso, que vence a eleição para presidente dos Estados Unidos. Ele declara o Congresso obsoleto, reescreve a Constituição e desencadeia um onda fascista no país. Para combatê-lo, o jornalista Doremus Jessup us a imprensa clandestina e uma rede de apoiadores.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788556520524
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regifreitas 17/02/2019

Imagine os EUA, o país que se considera o baluarte da liberdade e do liberalismo mundial, governado por um presidente com tendências fascistas. Esse foi o exercício proposto, em 1935, pelo romancista Sinclair Lewis - primeiro escritor estadunidense a ganhar o Nobel de Literatura. Naquele momento histórico o país ainda sofria as consequências do Crash da Bolsa de NY (1929), enquanto na Europa, Hitler e Mussolini conduziam seus países com mão de ferro, e a eclosão de um novo conflito mundial era praticamente inevitável.

Por muito tempo esquecido, o romance de Lewis foi reabilitado pela crítica, ganhando nova projeção a partir da eleição de 2016, que elegeu Donald Trump à presidência do país mais poderoso do mundo. Essa revitalização da obra se deu muito por conta das semelhanças entre o personagem principal do romance de Lewis, Berzelius Windrip, e Trump: ambos são falastrões, demagogos, anti-imigrantes e nacionalistas extremados, além de manterem uma relação não muito amigável com a imprensa. Por conta desse último fato, não é coincidência que a principal figura opositora de Windrip no romance seja um jornalista - Doremus Jessup.

A obra é formada por 38 capítulos, e embora não exista uma divisão formal, pode-se perceber claramente duas partes distintas na narrativa. Em um primeiro momento, Lewis traça o panorama que tornou possível a eleição de alguém com características tão excêntricas. Depois, acompanhamos as consequências desse governo, que se revela autoritário desde o início: fecha o Congresso, reescreve a Constituição, cria uma força paramilitar para coibir seus opositores, chegando a abrir campos de concentração para onde são mandadas as pessoas contrárias ao regime.

Embora canse um pouco, em muitos sentidos é uma obra visionária, que merece ser conhecida. Mais ainda no tempo em que vivemos, no qual as pessoas elegem figuras tão grotescas quando Trump e Bolsonaro.
afonso 20/06/2019minha estante
Gostei muito da sua resenha! Me deu gás para encarar o livro, que está parado na minha estante




Inácio 05/03/2018

Lewis e a capacidade de transformar os fatos em literatura
Vamos combinar: fevereiro não é mês favorável à leitura. A cachaça atrapalha. Daí, depois de concluir os últimos contos de Rodolfo Walsh (‘Essa mulher e outros contos’), só tirei da estante o recém-comprado ‘Não vai acontecer aqui’, um livro escrito em 1935 por um americano chamado Sinclair Lewis. A data de publicação neste caso ganha uma tremenda importância.

Hitler havia chegado ao poder há apenas dois anos. Os processos de Moscou sequer tinham começado. No entanto, os italianos chamavam Mussolini de Duce há pouco mais de uma década. Bastou isso para Lewis apreender o que dava cria e o que sustentava o fascismo e o totalitarismo.

É isso o que mais impressiona em ‘Não vai acontecer aqui’: enquanto um monte de idiotas não reconhece as sementes do terror em pleno 2018, mesmo com tantos avisos, estudos, filmes séries de TV e informações, esse americano sacou tudo enquanto acontecia. E transformou em literatura, num livro que serve como alerta para o crescimento do próprio nazismo nos Estados Unidos, abortado – felizmente – com o ataque a Pearl Harbor. Não é a toa que, por lá, esse livro ganhou nova edição e publicidade com a Trump.

Se você conhece alguém que pretende votar em Bolsonaro ou bate palminhas para a intervenção militar no Rio, leia: vai ajudar a perder todo respeito por esse tipo de gente.
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Betinha 10/01/2018

Pílula amarga e eficaz
Durante a Crise de 1929 e em tempos de eleições presidenciais, surge um candidato com uma plataforma um tanto insólita: redução de poderes do Congresso, extinção da maior parte dos sindicatos (exceto aqueles que se sujeitem ao governo), perda de direitos para judeus, negros e mulheres e reconhecimento financeiro para heróis militares. Seria obviamente rechaçada por qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, certo? Errado! O candidato Buzz Windrip tem também algumas promessas sobre aumento de recursos anuais para toda família branca e aí tudo começa a ficar perigoso. Em meio à Grande Depressão, com uma enorme onda de desemprego, a promessa de uma renda anual de cinco mil dólares (talvez dez), além do apoio do venerável orador bispo Prang (e sua multidão de seguidores), o que parece assustador passa a ser visto por muitos como a única chance de melhorar a vida da população.

O personagem principal Doremus Jessup convive com uma família bastante peculiar: a esposa fútil e desinteressada, a filha mais velha que só vive para o filho e para o marido (até certo ponto), o filho dogmático e a caçula atrevida e moderna. É em torno de suas experiências que a história se desenrola, com cada personagem crescendo ou se enterrando ainda mais no fanatismo.

"A tirania dessa ditadura não é primordialmente culpa do Mundo dos Negócios, tampouco dos demagogos que fazem seu trabalho sujo. É culpa de Doremus Jessup! De todos os conscienciosos, respeitáveis, mentalmente indolentes Doremus Jessups da vida que permitiram aos demagogos se imiscuir no poder sem protestar com suficiente veemência."

A linguagem do livro parece muito atual. Se não tivesse sido escrito em 1935, eu diria que o autor se apoiou muito no atual cenário político americano. Desenha um candidato capaz de convencer as pessoas com promessas, bastante carisma, uma boa dose e humor e aparente simplicidade. Ele chega a uma população cansada e pouco informada, disposta a tudo para resgatar os velhos e “bons tempos”. Existe, ainda, a crença de que ele seja inofensivo e bem intencionado, apesar de parecer “um pouquinho” radical.

"A senhora Jessup disse alegremente, “Ora, Dormouse, esse bispo não tem nada de fascista - é o Radical Vermelho de praxe. Mas essa proclamação dele significa alguma coisa, de fato?"

Para dar o último tempero à história, dias antes da eleição surge um grupo de jovens seguidores uniformizados e treinados, que garantem a segurança dos apoiadores de Windrip. Eles andam pelas ruas e repelem manifestações contrárias o então candidato a presidente.

"E esses Minute Men, seus seguidores – ah, foi bem torpe o que eu que vi na rua, mas, mesmo assim, a maioria deles é muito educada, uns rapazes de boa estampa. Ver Buzz e depois escutar o que ele tem a dizer de verdade causa uma certa surpresa - meio que faz o sujeito pensar!"

Assusta bastante ver a evolução dos Minute Men, a tirania crescente de Buzz e de seus representantes e o medo das pessoas. Faz pensar que a instauração de uma ditadura depende apenas de um sujeito carismático e com “boas intenções” e pessoas dispostas a abdicarem de direitos essenciais para terem pequena melhora de vida. Nessa história, aliás, essa melhora nunca chegava.

"A cada semana o governo se pronunciava menos sobre as descobertas da junta de investigação que decidiria como os cinco mil dólares por pessoa podiam ser arranjados. Passou a ser mais fácil responder aos descontentes com o tabefe de um Minute Man do que com as respectivas declarações de Washington."

O livro foi um pouco difícil de ler. Cansativo em alguns pontos pela contínua explicação dos planos e cenários políticos, e aparente pouco desenvolvimento da ação. Só na segunda metade percebi a importância de toda essa contextualização e, só não dei ao livro nota maior, porque acredito que a primeira parte poderia ter sido um pouco mais sucinta.

Recomendo uma leitura com calma e muita reflexão. Se a experiência não for suficiente, que mais livros assim nos ajudem a compreender o perigo da instauração de governos ditatoriais.

site: http://pacoteliterario.blogspot.com.br/2017/12/resenha-nao-vai-acontecer-aqui.html?m=1
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livrosepixels 19/12/2017

Já está acontecendo aqui...
Em agosto deste ano, os Estados Unidos foi palco de um evento de muito mal gosto e altamente polêmico. Grupo de pessoas saíram às ruas com faixas, tochas acesas, depredando locais e gritando palavras de ordem de cunho racista. Entre outras coisas, gritavam “vidas brancas importam” e “fora judeus, homossexuais, negros e imigrantes”. E o pior de tudo, as declarações sobre o movimento dadas pelo presidente Donald Trump eram vagas, não condenando de forma enfática esses atos racistas e terroristas.

Mas o que isso tem a ver com o livro de Sinclair? Bom, tanto o movimento supremacista quanto o livro, que foi escrito em 1935, coloram em pauta a discussão de algo que já causou grande mal à humanidade e que aparentemente ameaça voltar: o apoio aos movimentos extremistas e fascistas (entre outros). Não é a toa que a obra, há muito esquecida, fora resgatada por críticos e intelectuais e republicada em um momento de grande conturbação política e social, seja na América ou mesmo no Brasil.

“Curar os males da Democracia com os males do Fascismo! Terapia mais esquisita. Já ouvi falar de curar sífilis deixando o paciente com malária, mas nunca ouvi falar de curar malária deixando o paciente com sífilis!”

A trama narrada no livro surgiu como resposta crítica e política ao que estava acontecendo na América naquele ano. Havia pequenos núcleos de pessoas apoiando cada vez mais a implantação de regimes fascistas como única solução de tornar o país grande e rico outra vez. Pra piorar, no ano seguinte ocorreriam eleições presidenciais e, entre os candidatos, havia um que adotava as mesmas ideias, e seu discurso era carregado por racismo, preconceito e medidas extremistas. Sinclair via a tragédia eminente: um país livre como a América estava se abrindo seus braços para abraçar o horror e a morte.

De forma parecida, no livro temos um candidato à presidência, Buzz Windrip, que prega medidas extremas, promete elevar os Estados Unidos á uma grande nação novamente e, que para isso, acha necessário expurgar algumas classes de pessoas da sociedade, entre elas, os judeus. Quando assume o poder, ele ponha em prática suas medidas extremistas, subjuga os não nativos americanos, e o caos começa a reinar. Similar à Hitler e Mussolini, Buzz funda o Corpoísmo, regime que seria o responsável pela morte de milhares de pessoas. À frente do Corpo, está Lee Sarason, o vice-presidente e braço direito de Buzz. Em poucos anos, os Estados Unidos adere aos ideais fascistas, e milhares de pessoas são mortas.

Em contra partida, Doremus Jusep se vê em um poço sem fundo. Ele acompanha de perto a evolução e ascensão do Corpoísmo e, para seu desgosto, vê familiares seus apoiando e aderindo à mudança. Doremus, que já tinha vivido os horrores da Grande Guerra, não conseguia acreditar que novamente viveria em meio ao sofrimento e dor. Mas a realidade era cruel. A única coisa que podia continua fazendo era publicar o seu jornal e se opor ao atual presidente. Mas ele sabia que seria questão de tempo até a ditadura atingir também os meios de comunicação. Fora assim na Itália, fora assim na Alemanha. Também seria ali.

“Todo homem é rei contanto que tenha alguém a quem menosprezar.”

Algo que achei interessante nesse livro é mostrar como os meios de comunicação, mesmo diante da repressão, ainda podem servir de armas para a população. Um governo pode lutar com armas, facas e bombas, pode até mesmo controlar os meios de produção da informação, mas a comunicação, seja ela verbal ou impressa, e sendo verdadeira, sempre encontra um meio de se propagar. Impressa ou não, a informação tende a se espalhar rapidamente, e isso é algo muito difícil de impedir. Doremus ariscou a vida de sua família e a sua própria. Assumiu riscos que muita gente jamais assumiria. E mesmo assim, se manteve firme. Se havia alguma forma de ajudar a libertar a América, ele ajudaria.

Dessa forma, ele passa dia e noite conversando com outras pessoas, algumas que apoiam o comunismo, mas se opõem ao fascismo, outras que apoiam o fascismo, mas se sentem amedrontadas, e outras que só querem viver, independente de quem governa ou como governa. Reunindo dados sobre o presidente, sua milícia e estrutura, ele incentiva a população a criar uma frente reacionária, um movimento de oposição. Se o povo todo se unisse, o governo logo cairia. Interessante que a oposição usaria o mesmo lema usado pelos fascistas, a de que o povo unido consegue maiores mudanças do que apenas um indivíduo.

Outro ponto muito relevante do livro é mostrar como o regime fascista se transforma ao chegar ao poder. Como as medidas do governo vão se tornando cada vez mais perversas. Campos de concentração foram criados para “limpar” a sociedade, estabelecimentos comerciais foram tomados pelo governo. Uma milícia armada fora criada, a MM, abreviação de Minute Men, mais uma clara alusão à SS nazista e também aos Camisas Negras italianos. No livro, essa milícia no início serviria apenas para apaziguar o povo, mas com o tempo ganha treinamento e recursos militares. Escolas de formação são criadas e assim um novo exército. Ele seria muito útil para possíveis guerras que seriam desencadeadas, já que para Buzz, era direito dos Estados Unidos se tornar um imenso império e tomar para si as terras do México e também de toda a América do Sul.

“Ora, a América é a única nação livre da Terra. E digo mais! O país é grande demais para uma revolução. Não, não! Não poderia acontecer aqui!.”

O livro dá uma grande aula sobre regimes políticos e o quando eles podem ser prejudiciais à sociedade. O discurso de “elevar a nação”, “juntos somos invencíveis” e “limpar a sociedade” sempre permeiam os ditadores, adeptos do fascismo e extremistas. Além disso, para eles, o Estado também precisa ter o controle de tudo, pois o menor descuido pode significar a ruína desses reinos. O que dá para absorver com o livro, entre as várias lições, claro, é que a liberdade é suprimida diante desses governantes. Você como indivíduo não é importante. Você só deve compor a massa, e deixar que o Estado decida o que é melhor para você. E se você se opõem, bem, a chance de ser substituído (ou seja, morto) é grande.

O alerta que a Sinclair faz é claro: abra os olhos, veja as evidências. Há muitos políticos por aí com discurso nacionalista, de enriquecer a nação, de que para chegar em X é preciso fazer Y, etc, e que estão conquistando o povo pelo simples fato de as pessoas não conseguem identificar os sinais negativos daqueles discursos. A eleição de Trump, por exemplo, apesar de todo o seu posicionamento anti imigrantes, “America first” entre outros, foi eleito com uma boa votação. Para muitos especialistas, Trump é um fascista mascarado. Para outros, é a salvação da nação.

“Sob uma tirania, a maioria dos amigos é um inconveniente. Um quarto deles ficam “razoáveis” e se tornam seus inimigos, um quarto fica com medo de abrir a boca e um quarto é morto e o leva junto. Mas o abençoado último quarto mantém você vivo.”

Sem dúvida não havia época melhor para a republicação desse livro quanto agora. Aqui mesmo no Brasil podemos identificar que os ideias fascistas ganham espaço entre a sociedade, e não é necessário pesquisar muito para ver entre nossos políticos aqueles que também usam desses argumentos para ganhar apoio popular. Porém, aviso de antemão que ler esse livro não será tarefa para qualquer um. Se você possui determinado posicionamento político e ideológico, ou mesmo não gosta de política, as chances de levar dias lendo ou de não gostar do que é apresentado é grande. Também é preciso ter em mente que o início da trama é super lenta, leva quase metade do livro pra ela adquirir um rítmo melhor.

Não Vai Acontecer Aqui funciona como importante retrato da realidade política e instabilidade social vivida em 1935, e novamente, em 2017. É uma grande ferramenta de estudo, conhecimento e compreensão sobre os malefícios que as ideologias fascistas e nacionalistas já causaram ao mundo e, ainda que tenha alguns pontos negativos, nos dá uma importante lição aos dias atuais: identifique os sinais, mantenha-se informado. Se todas as pessoas souberem o mínimo sobre fascismo e estiverem alertas, poderemos dizer com mais certeza que não vai acontecer por aqui.

site: http://resenhandosonhos.com/nao-vai-acontecer-aqui-sinclair-lewis/#more-14713
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douglaseralldo 25/11/2017

10 CONSIDERAÇÕES SOBRE NÃO VAI ACONTECER AQUI, DE SINCLAIR LEWIS OU COMO SURGEM AS TIRANIAS
1 - Tão necessário quanto 1984, Nós e Admirável Mundo Novo, Não Vai Acontecer Aqui é um alerta necessário contra os ideais fascistas e populistas que volta e meia reaparecem em ondas de intolerância patrocinada por políticos aproveitadores, que na vida real existem às pencas tais quais o antagonista desta narrativa, Buzz Windrip, pertencente à galeria dos grandes tiranos da literatura;

2 - Escrito em 1935 (e recentemente retomado por leitores e críticos) o romance está dentro daquele período marcado pelo surgimento das narrativas distópicas clássicas que expressavam justamente o momento desesperançado a que estavam inseridas num mundo tomado pelo fascismo em diversas partes, de modo que em sua obra Lewis demonstra que não apenas escritores europeus mostravam-se preocupados com o totalitarismo, sendo ele uma representante na América;

3 - O livro parte da premissa de que os Estados Unidos não estaria imune aos movimentos totalitários e que o fascismo e a ditadura poderia constituir-se na América, mesmo a despeito da descrença de seu corpo social marcado pela frase "não vai acontecer aqui" que acaba dando nome ao título do livro. Para mostrar que o contrário era possível, Sinclair Lewis apresenta uma trama em que pelas vias democráticas numa eleição vencida pelo déspota e populista Buzz Windrip de que "no futuro" as ditaduras também poderiam ocorrer nos Estados Unidos...

Resenha completa no Blog

site: http://www.listasliterarias.com/2017/11/10-consideracoes-sobre-nao-vai.html
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Karini.Couto 19/11/2017

Recebemos este livro em parceria e estava bem curiosa, pois apesar de um livro antigo ele ganhou notoriedade devido as eleições de Donald Trump. Este livro foi escrito em 1935 e teve essa nova reedição pelos motivos que eu pronunciei esse ano pela Editora Alfaguara pelo grupo Companhia das Letras; onde um homem com muitas opiniões fortes que iam de anti-imigrantes à uma vaidade excessiva estava concorrendo as eleições dos Estados Unidos e acabou ganhando; sei que é quase que improvável que você não compare a situação atual do presidente dos Estados Unidos - Donald Trump.



E eis que percebemos que existe uma linha tênue que rege a democracia. Buzz é do partido democrata, o que de certa forma com meu conhecimento (mesmo que limitado sobre política), diz que democracia é mais uma palavra do que algo realmente aplicado nesse livro.



Buzz tem uma promessa de política que beira a maluquice, como eu disse colocando a democracia de lado e fazendo com que pensemos em ditadura ou algo pior..



Afinal haviam propostas ou decisões a respeito dos direitos à votos e cargos públicos, por exemplo, a negros, levando as mulheres a regredirem ao invés de exercer cargos que exerciam, sendo direcionadas a cargos que condizem "com a condição" da mulher e não serviços considerados "para homens", entre outros, dando "total poder" ao presidente para mandar e desmandar como bem entender! E o pior é perceber que mesmo assim muitos apoiam esse tipo de política, claro que com alguns pensando que aquilo não era bem assim, era algo irrelevante que iria apenas melhorar certas situações.. Porém a coisa foge ao controle. Depois de Buzz ser eleito vem toda a promessa e acaba se tornando um ditador implacável e criando uma situação macabra!



Não posso dizer que o livro em si é ruim, mas também não foi dos melhores; quando pedi esperava um pouco mais.. Mesmo assim a leitura foi proveitosa!


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 23/10/2017

Sinclair Lewis - Não vai acontecer aqui
Grupo Editorial Companhia das Letras (Selo Alfaguara) - Tradução de Cássio de Arantes Leite - Lançamento no Brasil: 02/09/2017.

Escrito em 1935 por Sinclair Lewis (1885-1951), primeiro norte-americano a ser agraciado com um prêmio Nobel de Literatura em 1930, este romance, que não era normalmente destacado em sua bibliografia, ganhou muito espaço na mídia este ano devido à eleição de Donald Trump e o crescimento dos movimentos de extrema direita em todo o mundo. Sinclair Lewis imaginou que a eleição de 1936 nos EUA seria ganha por um candidato populista, xenófobo e vaidoso com base em uma campanha que prometia aos eleitores um país próspero e grande novamente. É irresistível não comparar este personagem ao polêmico presidente norte-americano atual e sua plataforma política, fazendo do autor e sua distopia contra os regimes autoritários um perigoso alerta para o futuro.

O romance narra a trajetória de Berzelius Windrip, ou simplesmente "Buzz" como foi chamado durante a campanha, um candidato do partido democrata, demagogo e preconceituoso, que vence a eleição com base em uma plataforma política absurda que submete todo o sistema financeiro do país ao controle de um Banco Central Federal de propriedade do governo, controle dos Sindicatos Trabalhistas, controle da renda líquida anual por pessoa, ampliação do efetivo militar e poderio bélico norte-americano para "assegurar a paz e as relações amistosas no mundo", direito de emissão de moeda pelo Congresso, extinção das liberdades políticas, proibição do direito de voto e cargos públicos para todos os negros, transferência gradual de todas as mulheres empregadas para atividades "peculiarmente femininas" como enfermagem e salões de beleza e, finalmente, emendas à Constituição para restrições ao Congresso e a Suprema Corte, tudo isso para que o presidente eleito tenha autoridade para instituir e executar "todas as medidas necessárias" para a condução do governo como julgar melhor.

O autor mostra em um tom de sátira amarga como a população se divide e o candidato "Buzz" acaba, inacreditavelmente, encontrando apoio político de boa parte dos eleitores porque enquanto alguns entendem que tudo não passa de uma tremenda besteira, "Isso não vai acontecer aqui na América, impossível! Somos um país de homens livres." outros acham que não há motivo para ter medo da palavra "fascismo": "É só uma palavra — só uma palavra! E talvez não seja tão má, com todos esses vagabundos preguiçosos que vemos esmolando assistência hoje em dia e vivendo do imposto de renda meu e seu — não muito pior do que ter um genuíno Homem Forte, como Hitler ou Mussolini — como Napoleão ou Bismarck nos bons e velhos tempos — e tê-los de fato a 'dirigir' o país e fazer dele eficiente e próspero outra vez. Em outras palavras, ter um médico que não ature boca dura e sim mande no paciente e o faça se curar, quer ele queira, quer não!" (Pág. 25).

Após a eleição a população assiste incrédula às primeiras medidas do governo que ignora completamente o Congresso e transforma o regime em uma ditadura totalitarista, similar ao crescimento do nazismo e fascismo na Europa. O país se vê rapidamente mergulhado em um pesadelo de proporções assustadoras com perseguições políticas, tortura, campos de concentração, implantação de uma força militar paralela (os absurdos e temidos "Minute Men" - MM's) e até mesmo um plano de invasão ao México para ganhar maior apoio político interno. O jornalista liberal Doremus Jessup é o protagonista que irá sofrer os efeitos do novo governo no seu cotidiano e de sua família e criará uma rede de conspiradores contra o governo.

"Agora podia ser propalado ao mundo, como decididamente o foi, que o desemprego, sob o benevolente reinado do presidente Berzelius Windrip, praticamente desaparecera. Quase todos os homens sem emprego foram reunidos em gigantescos campos de trabalho, subordinados a oficiais MM. Suas esposas e filhos os acompanhavam e se incumbiam de cozinhar, limpar e costurar. Os homens não se limitavam a trabalhar em projetos do Estado; também eram contratados por empregadores privados ao razoável soldo de um dólar por dia. Claro, tão egoísta é a natureza humana, mesmo em Utopia, que isso levou a maioria dos patrões a dispensar aqueles para quem vinham pagando mais de um dólar diário, mas isso se resolveu por si só, pois esses descontentes bem remunerados, por sua vez, foram forçados a ficar nos campos de trabalho. De seu dólar diário, os trabalhadores nos campos tinham de pagar entre setenta e noventa centavos diários por cama e comida." (Pág. 172)

Definitivamente não é o melhor livro do autor, "Babitt" de 1922, uma sátira da classe média norte-americana, é normalmente apontado pela crítica como sua obra mais relevante. No entanto, "Não vai acontecer aqui" torna-se uma leitura indispensável em nossos dias devido às ameaças que ocorrem em todo o mundo contra os ideais de liberdade e democracia, tão duramente conquistados. Tomara que os dons visionários de Sinclair Lewis não se comprovem e que tudo isso permaneça para sempre como apenas mais uma distopia no inocente campo da ficção.
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