Gostar de Ostras

Gostar de Ostras Bernardo Ajzenberg




Resenhas - Gostar de Ostras


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Liane Duarte 16/06/2023

Eu achei um saco. Infelizmente entrou na lista dos livros recomendados pelo meu namorado em que ele gostou pelo menos um pouco e eu não. Achei Jorge um chato e não tenho muita paciência pra esse tipo de personagem, classe média, vida medíocre, parece que nunca cresceu. A parte que ele disse que não tem paciência pra cozinhar e logo em seguida afirma que vai cada vez mais na casa dos vizinhos e come bem parece um manchild, fiquei com preguiça. Trouxe algumas referências reais (como segunda guerra e manifestações de 2013) mas achei tudo muito vazio de sentido, apenas plano de fundo pra um grande lero-lero, monótono e cansativo. Poderia seguir aqui criticando, mas não vou. Sei que é o estilo de alguns, mas pra mim não rolou.
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Devoradora de livros 23/01/2023

É um livro interessante, sobre um adulto com seus traumas que tem como vizinhos um casal de franceses que curtem a vida como ninguém. É sobre seguir em frente, olhar para a frente, olhar para o passado e entender que não existe futuro sem ele, mas sem deixar de fazer o passado ocupar o seu devido lugar
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Lia 10/01/2023

Gostar de ostras
"O passado a gente constrói no presente." O quanto é importante e necessário contarmos a nossa história para nossos filhos, companheiros, amigos, conhecidos, etc. Qdo eu conto, no presente, a minha história, meu passado passa a ter vida. Se não conto, ele vai morrendo aos poucos e as gerações seguintes nunca saberão o que vivi e ele definitivamente, morrerá, assim como eu.
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Um livro bem interessante que traz a relação entre um adulto solitário, apático, sem perspectivas e um casal de idosos, onde ela traz uma ferida do passado que nunca cicatrizou e ele um senhor cheio de vida, conselhos úteis e disposição para viver mais 80 anos.

Traz um tema forte e cheio de preconceito que me fez pensar sobre a vida e seu valor, sobre a morte e seu valor.
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Krishnamurti 17/11/2017

PARA GOSTAR DE OSTRAS ou ainda, como abrir uma ostra sem cortar os dedos.
Somente o ser humano pode modificar a si mesmo no curso da vida e dar sentido e valor ao que vive, transformando a realidade a partir disso. Transformação. Eis a atitude que urge! Habitamos um planeta com recursos finitos, que vêm sendo destruídos progressivamente. Na fase atual do capitalismo financeiro, percebemos contradições e desigualdades sociais tão gritantes que não há racionalidade capaz de justificar a fome de muitos coexistindo com a abundância na produção de alimentos; informação e tecnologia também vêm sendo produzidas como nunca antes na história, mas, junto com elas, proliferam a alienação, a apatia, a amnésia coletiva e a exclusão social. Violências espraiam-se de múltiplas formas: das explícitas às mascaradas e silenciosas; as relações humanas, em diversas esferas da vida social, vêm sendo progressivamente atravessadas por uma lógica comercial e consumista, que cada vez mais nos leva a tratar pessoas como se fossem coisas – úteis por um tempo, depois descartáveis. A dignidade humana vem sendo sistematicamente afrontada.
Diante de uma situação mundial que caracteriza-se pela alta ocorrência de eventos hostis e infelizes, uma palavra se incorpora ao nosso dicionário. A partir de um dos ramos da Física, a Estática, que estuda a resistência dos materiais, encontramos a palavra Resiliência, e um material é denominado resiliente quando a energia de deformação máxima que ele é capaz de armazenar não gera nele deformações permanentes. Com esse conceito, é possível se fazer uma analogia ao termo utilizado pela física: a relação tensão/pressão com deformação não-permanente do material corresponderia à situação que ocorre entre uma situação de risco/estresse/experiências adversas e respostas finais de adaptação do ser humano. Assim nossa situação hoje no mundo, busquemos saídas. Não podemos continuar a ser meros observadores passivos de nossa história, mas capazes de buscar recursos em nós mesmos e no ambiente que nos rodeia.
O escritor Bernardo Ajzenberg lançou recentemente pela Editora Rocco, seu mais novo romance “Gostar de ostras”. Ali está representada de maneira magistral a típica vida do homem médio urbano deste início de século XXI. Jorge Blikstein é um jornalista que, aos 30 anos, vive numa verdadeira mornidão existencial, sem “nenhum projeto mais ambicioso que não seja a manutenção do dia a dia”. Das voltas que a vida dá e que costumamos dar o nome de coincidências, resultou a convivência e amizade com um casal francês octogenário (Rachelyne e Marcel Durcan), que habita o andar superior ao apartamento de Jorge.
O jornalista revela-se homem solitário, de poucos amigos, a arrastar uma profunda tristeza em razão da recente morte da irmã Suzana, atropelada aos 21 anos por um motorista completamente embriagado. Aí temos os ingredientes para uma depressão e a eminência de um abismo.
A amizade entre essas três personagens dá a tônica da relação humana que Ajzenberg urde com muita argúcia. A personalidade de Jorge é exemplo cabal de como muitos de nós vivem, no que diz respeito ao mundo interior,(meramente no “automático” da vida), independente dos tantos e tão diversos tormentos que nos cercam. Vale a pena ler e refletir sobre: “Porém, quando o elevador chegou ao oitavo andar, perdi o fio do raciocínio, como se este tivesse evaporado sem ter tido tempo de iniciar a construção de um elo, ínfimo que fosse, entre ideia e ação, ou entre a concepção e o planejamento de um ato, de modo que, enquanto despejava as compras na cozinha, o assunto simplesmente desapareceu da minha cabeça”. E ainda este outro trecho em que o próprio personagem se define: “Era como se houvesse um limite físico, uma barreira, um bloqueio atravancando o caminho do raciocínio, e este, quando se impunha, aos trancos e barrancos, era sempre limitado”.
E os Durcan quem eram? Marcel um documentarista que conheceu há 40 anos Rachelyne, que por sua vez, é sobrevivente de um campo de concentração nazista da segunda guerra mundial. A convivência e amizade deles com Jorge traz à tona memórias dolorosas daquela época que, de certa forma, foram transfiguradas em uma maturidade que os ensinou a transpor problemas, a encontrar soluções para o constante desafio que é viver, e ressalte-se que não há uma atitude de conformismo ou resignação. Não se trata de adaptar os indivíduos à realidade tal como foi um dia ou está hoje presente, mas de – reconhecendo as reais dificuldades e problemas – fomentar a reflexão, a sensibilidade e o potencial emancipatório dos sujeitos para que possamos construir alternativas para um mundo melhor. Uma boa ideia do que representou a guerra na vida de Rachelyne, é esse trecho de crueldade dilacerante e de como ela ficou em sua memória: “Por isso, me despir, para mim, foi durante muito tempo algo associado à morte, ao ódio, ao olhar gélido de Mengele, esse demônio do campo encarregado da seleção, que nos fazia dar uma volta com o corpo nu com a ponta da sua bengala e decidia quem ia viver ou não”. E para que não se pense que o autor dourou por demais a “pérola”, há ao final do volume um esclarecimento de que a personagem Racheline Durcan foi inspirada na vida da francesa Marceline Loridan-Ivens, sobrevivente do campo de concentração de Birkenau-Auschwitz, e que vive até hoje na rue dês Saints-Péres, em Paris. Tem 89 anos.
Outro aspecto no romance digno de registro é a questão da memória. Nos diálogos entre Jorge e Marcel, este lhe diz: ...“uma coisa é viver no registro do passado, entende? Outra coisa é viver no registro do presente, como a gente tem que fazer, e o passado está ali, como um componente da nossa máquina, mas não é ele que dispara o flash, entende, Jorginho?”. E este, mais adiante reconhece: “Mas até onde sei, e hoje concordo com Marcel e Rachelyne, realmente ninguém apaga o passado, não há como, mesmo que se esforce para fazê-lo, mesmo que se trema de corpo inteiro ao lembrar dele, mesmo que os olhos fiquem doloridos de tanta esfregação”.
Entre sentimentos, emoções, sensações, memórias e detidas reflexões, Jorge ultrapassa sua própria situação adversa, consegue superá-la e dela sair fortalecido, vale a pena conferir como, na prosa inteligente e bem humorada de Ajzenberg, porque, gostemos ou não, viver é aventura para a qual se exige coragem, como afirma Marcel: “Muitas vezes o que mais tememos não é a morte, mas a própria vida, sabia? A liberdade e os riscos que ela coloca”.
A certa altura do romance Marcel diz à Jorginho: “Jorginho, ainda preciso te ensinar como abrir uma ostra sem cortar os dedos. Lembra disso? Eu não esqueço das coisas.”... Com efeito, o panorama no mundo de hoje é complexo e preocupante. Contudo, se de um lado as propagandas e discursos contemporâneos produzem submissão, alienação ou mesmo resignação entre os sujeitos, é fato que nosso mundo também pode acolher e promover o potencial criativo para enfrentamento dessa realidade: ao ser humano é possível iniciar o novo e inventar outras formas de viver. Nesse sentido, a ideia de resiliência pode ser aproximada à de ação política, proposta pela filósofa Hannah Arendt. “Sem a ação, sem a capacidade de iniciar algo novo e assim articular o novo começo que entra no mundo com o nascimento de cada ser humano, a vida do homem, despendida entre o nascimento e a morte, estaria de fato irremediavelmente condenada. A própria duração da vida, seguindo em direção à morte, conduziria inevitavelmente toda coisa humana à ruína e à destruição. A ação, com todas as suas incertezas, é como um lembrete sempre presente de que os homens, embora tenham de morrer, não nasceram para morrer, mas para iniciar algo novo”.
A metáfora que melhor explica o processo de resiliência é justamente a da ostra: para proteger-se do grão de areia que a fere, envolve de nácar (substância secretada por células de certas espécies de moluscos) o intruso, arredondando as asperezas, dando origem a uma pérola, uma bela jóia preciosa. Eis a grande metáfora que este novo romance do premiado escritor brasileiro Bernardo Ajzenberg estimula a refletir e incita à transformação, nesse seu “Gostar de ostras”.
Livro: “Gostar de ostras” – Romance, de Bernardo Ajzenberg. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2017, 192p. ISBN 978-85-325-3077-6
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