Demônios Domésticos

Demônios Domésticos Tiago Germano




Resenhas - Demônios Domésticos


4 encontrados | exibindo 1 a 4


Carol - @ressacaliteraria_ 09/04/2020

Resenha
"Demônios Domésticos" é um livro de crônicas e boas memórias.

"...o verdadeiro artista é aquele que sabe o valor inestimável das coisas esquecidas."

Apesar do nome lembrar algo "ruim", o autor fala sobre sentimentos e recordações. É um livro que nos remete a memórias da infância, dúvidas que nos acompanham durante a vida, observações e comentários que captam os pequenos acontecimentos que nos movem.

"Com a coragem que hoje, nos eventos de que participo, procuro, mas não acho, arranquei do fundo da alma a dúvida atordoante: 'Padre, o Papa vai ao banheiro?'"

Palavras são colocadas nas páginas com intensidade, de maneira que nos faz perceber exatamente tudo o que o autor quer passar através da escrita e exatamente a importância que isso tem ao nos mover.

"...mas livrai-nos do 'Malamen', não é assim que todos rezam?"

O livro é dividido em quatro partes, sendo elas: "A infância, seus modos e seus medos", "O amor, seus gestos e seus gostos", "A rua, suas bocas e seus becos", e "O ofício, seus mitos e seus mundos". As crônicas relatam justamente temas que são abordados nos títulos destas partes, e os relatos são escritos de maneira única, nos transmitindo um misto de sensações e ainda arrancando boas risadas.

"Minha coleção de palavras, que de repente cresceu e se desmembrou, hoje não cabe mais em meus cadernos. Aqueles dois grandes grupos foram criando subgrupos de palavras que diferentes de seus significados originais, se confundem com cores, dias da semana, cidades ou pessoas da família. Quem nunca se olhou no espelho e se achou com cara de domingo?"

E falando em crônica, todas (TODAS), foram escritas excepcionalmente bem, nos fazendo viajar para dentro do livro e nos banquetear a cada uma lida. E falando a verdade, não consegui escolher minha favorita pois foram muitas!

"De repente, daquelas duas bochechas cheias de amendoim, vi brotar o único sorriso que restava de inédito no mundo."

Um emaranhado de ideias muito bem delineadas, que nos fazem viajar. A edição ficou muito bonita sendo toda colorida por dentro, e com uma diagramação simples, porém extremamente confortável para ler. É uma leitura fluída, e que ao mesmo tempo em que nos tira da realidade nos mostra exatamente essa, mas de forma original e descontraída.

"Desconfiar da sorte é como amar sem se arrepender. E nós amamos como nos arrependemos: mais pelo que não houve que pelo o que está por vir. Nós amamos como sentimos saudades: menos pelo que nos foi tirado que pelo que nos acrescentou. Nós amamos como morremos: sempre em vida, nunca no instante próprio da morte."

Um livro bem curtinho, que nos faz refletir, mas que dá gosto de ler. Vale a pena pelo capricho, simplicidade dos traços e intensidade das palavras. E quando finalizamos, sentimos que acrescentou imensamente em nossa bagagem literária.

"Peço a meus leitores que não desistam: quem sabe se. num dia de estiagem, minhas vacas magras não resolvam se alimentar de suas fábulas? Quem sabe se, nesses dias, um apetite descomunal não faça florescer boas crônicas, com o humor que tanto lhes apetece e com uma pitada de realismo mágico? Quem sabe se, você, leitor, isso mesmo, você, não se convide a escrevê-las de seu próprio punho? As ideias você já as tem, o desafio eu o estendo a você.
Sua vida renderia um romance? Então, escreva."

Meu exemplar ficou inteiro cheio de post-its e se desse eu colocaria todos os quotes incríveis aqui rs Super recomendado!

site: http://www.ressacaliteraria.com.br/2017/10/resenha-demonios-domesticos-tiago.html
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Renatita 05/02/2021

Neste livro, Tiago Germano reúne uma série de crônicas divertidas, sérias, questionadoras, traz também alguns apontamentos corriqueiros.

É leve.
Me fez lembrar Rubem Alves.
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Paulo Silas 11/10/2017

Uma leitura agradável e que mexe com o leitor de modo que apenas um conjunto coeso de boas e memoráveis crônicas faria. Eis aqui o resultado de algo estruturalmente sólido, ensejando em algo também sólido e ao mesmo tempo fluido. É como fosse uma linha que conduz o andante para vários lugares diferentes ao mesmo tempo, porém, impedindo-o de se perder diante do destino certo a que aquele trajeto conduz. Satisfação é a sensação sentido pelo leitor do início ao fim do livro. É, portanto, uma excelente pedida a leitura.

Os relatos vão e voam longe. Através de curtas crônicas, o autor consegue (intencionalmente ou não) estabelecer uma espécie de conexão com o leitor. Sim, aqueles momentos vivenciados e transmitidos pelo narrador na obra geram recordações naquele que lê. A dúvida que fica é se essas lembranças que surgem para o leitor são reais ou se confundem com aquelas expostas nas crônicas.

As crônicas são belas. Muito bem escritas. Galanteiam com êxito o leitor logo quando das primeiras linhas daquela que inaugura a obra ("Óculos Ray-Ban"). A partir daí, não há espaço para qualquer tipo de decepção, pois o leitor é seduzido a todo o instante.

O papa vai ao banheiro? Colecionar palavras é melhor do que colecionar selos? Há razão para temer os cabeleireiros? Existe uma ética própria na publicidade das funerárias? Essas são algumas das várias questões que permeiam o livro, as quais são (ou não) respondidas despretensiosamente.

Histórias contadas por meio de crônicas. Memórias, infância, reflexões, escrita - um apanhado de observações através do literário. Um livro que convence e agrada. Vale e muito e leitura!
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Kyanja 11/12/2017

Crônicas para evocar vários estados de espírito
"Demônios Domésticos" é uma coletânea de crônicas de Tiago Germano selecionadas a dedo e agrupadas por temas. Além do Prefácio magnífico, matador de Bráulio Tavares (que presente, hein, Tiago?), temos crônicas que abarcam diferentes tempos, estados e esferas: o tempo da infância (A Infância, seus Modos e seus Medos), o estado do amor (O Amor, seus Gestos e Seus Gostos), a esfera da rua (A Rua, suas Bocas e seus Becos).

Concordo quando Bráulio Tavares diz que as crônicas de Tiago Germano "mostram um cuidado atento e nítido com a palavra (nenhuma pode estar fora do lugar, nem do tom) e ao mesmo tempo dando a impressão de que aquilo é uma conversa de mesa de bar ou de cadeira de barbeiro. (...) É uma crônica de tessitura mais literária, onde o coloquialismo não está ausente, apenas domesticado à composição geral que exige cada palavra com os parafusos bem apertadinhos, sem poder ser mexida, sem poder chacoalhar". Navegamos pelas crônicas de Tiago Germano como que conduzidos por um hábil barqueiro que conhece diferentes rios e mares, sem perder o prumo.

Se é verdade que toda crônica é dedicada a um personagem do cotidiano, e quando você encerra a leitura de uma crônica em que o autor faz uma homenagem singela aos renegados da história? Diz ele: "Nutro sincera compaixão por esses personagens, por seus enredos que não constam dos livros e não encontram registros sequer na memória. São eles os guerreiros mais gloriosos, porque a glória de um guerreiro envolve outras vidas, e cada vida, por si, já é sozinha um testemunho de glória. São eles os artistas inolvidáveis, pois a verdadeira obra de arte é aquela que está por vir, e o verdadeiro artista é aquele que sabe o valor inestimável das coisas esquecidas". Não dá para ficar indiferente a esse texto, concorda?

Ou quando o autor lança o apelo: "Não me leiam. Olhem para o mundo e descubram sozinhos. Se chegarem a descobrir o óbvio: que não há razão alguma para, neste dia, estarem lendo este livro, já estão em um bom caminho". Dizem que o escritor é um fingidor, e eu acredito que seja, porque quem resistirá ou o obedecerá quando diz: "Por que continuar a me ler? Leiam o mundo. O mundo é menos tímido do que eu, que escrevo para me esconder. O mundo já está escrito...". Ah, pode estar já escrito, Tiago Germano, mas não traduzido com tanta verve, lirismo ("Mateus descobre as estrelas"; "Velha Mania"; "Parênteses"), delicadeza ("Maíra coleciona sorrisos"), candura (em suas descobertas infantis, como quando descobre a identidade do temido Extrato - "Malamen e o Extrato"), reparo ("Hoje").

E me desculpe, caro cronista, mas você pode ser tudo, menos um escritor de amenidades — no sentido de banalidades. A partir do momento em que determinado elemento ganha o seu foco, algo se alarga e desperta dentro do leitor. Talvez a percepção de que no cotidiano cabe tudo. Até a eternidade.

Definitivamente, esses Demônios Domésticos não são crônicas esquecíveis e datadas; podem ter sido escritas sob a inspiração de um momento, mas perduram em sua dimensão de raios-X do ser humano.
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