wolv_logan_x 29/04/2011
Musashi - Uma Obra-Prima Oriental
Este volume, ligeiramente menor que o anterior, curiosamente parece possuir um peso maior no que diz respeito à quantidade de ensinamentos presentes na história, e à profundidade que eles alcançam.
Desde o início se mostrando uma obra ambiciosa, cujo desenrolar fluido torna sua leitura agradável, o volume 2 de Musashi confirma o que o primeiro já comprovava: Eiji Yoshikawa é um dos grandes escritores japoneses, e um dos melhores que este mundo já viu.
Neste a história assume um ritmo mais lento, em contraste com o turbulento final do volume anterior, o que funciona como uma retomada de fôlego, um momento de transição para a história e seu protagonista. Há uma mudança marcante na maneira como Musashi passa a encarar sua própria jornada até ali, e o verdadeiro sentido por trás dela. Musashi assume uma postura mais humilde e contemplativa, e passa a encarar a vida de um ponto de vista mais elevado, enxergando agora o "caminho do guerreiro" como algo que vai além dos duelos.
Mas Eiji não se esquece do magnífico trabalho de composição e desenvolvimento de personagens exibido no primeiro livro, e aqui prossegue mais à vontade, conduzindo cada um deles com naturalidade ao longo da trama, tirando proveito da empatia que seus leitores estabeleceram com vários dos coadjuvantes.
É tocante e admirável ver a maturidade alcançada por Otsu, e sua resignação, ao mesmo tempo que demonstra uma esperança inabalável, e uma devoção que alimenta cuidadosamente, demonstrando o enorme equilíbrio alcançado ao longo dos anos de espera. Além disto, é a protagonista de uma das seqüências mais emocionantes do livro, que serve de catalizadora da redenção de outra personagem. Otsu é, de longe, a personagem mais apaixonante da obra.
Osugi continua a velha senhora que amamos odiar no primeiro volume, cuja incansável busca por vingança continua gerando ótimas tiradas de humor. Enquanto Matahachi desperta nossa compaixão, levando-nos a lamentar os erros que comete quase que por compulsão, apesar das várias chances que recebe de dar um rumo melhor para sua vida.
Embora não dê para esmiuçar aqui o desenrolar das histórias de cada coadjuvante, vale mencionar a introdução de Iori, o novo discípulo que Musashi ganha neste volume, cuja personalidade Yoshikawa consegue diferenciar muito bem da de Joutaro. Takuan tem poucas mas ótimas aparições na história, ainda exibindo o enorme carisma que conquistou muitos leitores no volume 1. E, claro, temos mais um pouco de Sasaki Kojiro, cuja rivalidade com Musashi vinha sendo alimentada desde a metade do volume 1, alcançando aqui sua culminância.
Além do longamente esperado confronto entre Musashi e Kojiro, este divide com o primeiro aquela que julgo uma das melhores cenas de humor deste volume. Aquela que se passa numa casa de chá, onde Kojiro, conversando com alguns pedreiros, começa a criticar severamente o desempenho de seu futuro adversário na batalha de Ichijoji, apenas para descobrir, minutos depois, que Musashi ouvia toda a conversa enquanto fingia estar dormindo num cômodo vizinho. A forma como toda a cena se desenrola, e o instante em que Kojiro descobre Musashi, ainda deitado, encarando-o fixamente, é uma das grandes provas de quão completo é Eiji Yoshikawa como autor, que se sai bem tanto em cenas cômicas, quanto naquelas de peso mais dramático.
Yoshikawa continua merecendo todos os elogios possíveis com relação à forma como leva o leitor a pincelar em sua mente traços precisos e evocativos dos cenários e paisagens descritos, sem lhe exigir o menor esforço, com a mesma leveza e espontaneidade com que Musashi pinta paisagens no estilo haboku em diversos momentos da narrativa, tudo isto de uma forma envolvente e imersiva.
Por fim, é digna de nota a decisão do autor de encerrar a história de Musashi em seu momento mais glorioso, sem encerrar todas as subtramas até ali desenvolvidas. Este é o maior indicativo que trata-se, acima de tudo, de uma grande homenagem de Yoshikawa a um dos mais fascinantes personagens do Japão, e um convite que deixado ao leitor para continuar desvendando Musashi a partir daquele ponto em outros livros, tornando a experiência tão plena quanto a visão que Musashi alcança do "caminho do guerreiro". Sua vida vai muito além do que dois livros são capazes de retratar, especialmente quando falamos de um homem que conseguiu ser maior que a própria.