Paulo Sousa 13/02/2024
Leituras de 2024
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Alguma poesia [1930]
Carlos Drummond de Andrade (?? 1902-1987)
Record, 2023, 128p.
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?Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira? (pág 44).
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Confiteor: em matéria de poesia, me considero um inepto total! A minha lista de poetas e poesias lidas é magra demais para qualquer numerário.
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Então recordo os alegres dias, lá no passado, quando me deleitava com os versos do Poetinha - Vinicius de Moraes, no seu ?Para viver um grande amor?. Houve ali, de cara, me recordo, uma identificação com aquelas linhas sentimentais ao extremo, perfeita simbiose para a época e para meu coração sôfrego de sentimento, quando eu claudicava escrevendo versos em busca de compor uma canção que acabaria nunca composta.
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De lá para cá, foi se alargando a frequência que busquei ler poesia. Talvez, algumas da antologia do cronista baiano Adroaldo Ribeiro Costa. Depois, não sei ao certo se me debrucei a algum poeta. em específico. Um verso aqui, outro acolá. Enfim, paciência.
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?Alguma poesia? é o primeiro livro publicado pelo escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade. São 49 poemas reunidos no volume, nesta novíssima edição da editora Record, que traz ao final um posfácio generoso, com cartas trocadas entro Drummond e Mario de Andrade, além de várias listas cronológicas da vida do poeta e os acontecimentos nacionais/internacionais paralelos.
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Os versos, aprendo, são eivados de traços do estilo em voga, muito europeizado, então combatido pela recém ocorrida Semana de Arte Moderna. Já eu, esse incauto leitor de versos, vejo alguma cousa bem abrasileirada neste estilo de verso livre, uma cadência musical, um balançar vagaroso como coqueiros levados pelo vento.
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Os poemas também têm um traço de tristeza e saudade em comum. Falam da inextricável passagem do tempo e os seus efeitos eternos. Falam de revoluções, insurreições, dos primeiros amores, da preguiça nada leviana do verso que se nega a materializar-se. Drummond tem uma pena original para falar das coisas de Minas, esse Estado que tanto admiro e que tanto gosto de visitar. E, mesmo apesar de não ser capaz de adentrar plenamente ao seu universo poético, é claro que essas páginas agradam, pela leveza, pelo simbolismo, pelo toque sutil, pela emoção evocada por sua leitura. Vale!