Fabio Martins 07/08/2015
Nunca houve um homem como Heleno
Estava em meu último ano do colégio, quando um professor que sempre falava de futebol comigo e que sabia do meu gosto por livros me disse: “Fábio, você já leu a biografia do Heleno de Freitas? É um ótimo livro”. Naquela época eu nem sabia quem era esse jogador. Isso pode parecer um crime para os amantes da história do futebol, mas eu realmente nunca tinha ouvido falar dele. Respondi que não havia lido ainda, mas prometi que iria procurá-lo.
E assim o fiz. Fui à livraria e comprei o livro Nunca houve um homem como Heleno, de Marcos Eduardo Neves, sem ao menos saber muito bem quem era o personagem central. Para a minha grata surpresa, a história me prendeu logo nas primeiras páginas. Heleno era um jovem garoto mineiro de família abastada e temperamento forte. Desde pequeno, era craque de bola. O menino cresceu e foi para o grande Botafogo com a missão de substituir Carvalho Leite, ídolo da época.
Hoje em dia, na era dos flashes e cifras milionárias, é comum vermos jogadores tratados como estrelas, algumas vezes acima do bem e do mal. Nos anos 1940, época das formalidades, longas roupas e com o futebol engatinhando no profissionalismo, Heleno despontava como craque pop-star, diferentemente de todos os outros jogadores humildes que jogavam na época.
Fora dos gramados, o craque sempre se apresentava bem vestido e muito bem acompanhado, frequentava a alta-sociedade carioca e se esbaldava com seus frascos de lança-perfume. Mas o maior destaque era o que fazia dentro das quatro linhas. Atacante rápido, arisco e matador, Heleno jogou por oito anos no Botafogo, tornando-se o maior ídolo do clube na era pré-Garrincha. Foi contratado pelo Boca Juniors, em 1948, pela maior quantia registrada até então no Brasil. Jogou ainda pelo Vasco da Gama, Junior de Barranquilla e América.
Com o passar dos anos, seu temperamento que já era forte, se tornou quase insustentável nos jogos. Heleno se tornava cada vez mais irascível e descontrolado com seus companheiros e adversários. Assim como o futebol, a vida também é uma caixinha de surpresas, e ele descobre que seu destempero é resultado de uma sífilis em estágio avançado – e que já atacava seu sistema nervoso – adquirida em uma de suas farras de bon vivant. O gênio genioso tentou lutar contra a doença, mas já era tarde demais. Morreu praticamente esquecido em um sanatório, aos 39 anos.
Nunca houve um homem como Heleno remonta a trajetória desse grande nome do futebol brasileiro. A obra é muito bem escrita e detalhada, fruto de grande pesquisa de Marcos Eduardo Neves. A narrativa é descontraída e direta, e relata, sem censuras, os mais variados tipos de situações que Heleno viveu.
Do anonimato à fama. Da fama ao auge. Do auge ao drama. Em todas as fases de sua vida, Heleno de Freitas sempre foi uma pessoa com pensamentos diferentes e peculiares. Uma verdadeira estrela entre os peões da bola. Depois de terminada a leitura do livro, tive a mesma certeza do autor... Nunca houve um homem como Heleno.
Seis anos depois de descobrir esse fascinante personagem, é lançado no Brasil o filme Heleno, baseado no livro de Marcos Eduardo Neves. Ainda não tive a oportunidade de assisti-lo, mas farei o quanto antes. Ao que parece, o ator Rodrigo Santoro conseguiu incorporar muito bem as características do craque.
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