Everything Under The Sun

Everything Under The Sun J.A. Redmerski




Resenhas - Everything Under The Sun


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Layla 12/10/2017

"Ela era... minha, decido. Minha o quê, exatamente, eu não sabia. Minha responsabilidade? Minha amiga? Minha outra coisa completamente diferente? Não importava - ela era minha."
Nas noites mais frias e escuras, nas tardes mais ensolaradas e vivas, nos momentos de maior solidão que vocês já se encontraram, faça chuva ou faça sol, aí no fundo de seus corações... o que vocês acham que existe mais no mundo: a bondade... ou a maldade?

Distopia é, por definição, um local ou mundo imaginário em situações hipotéticas em que se vive momentos desesperadores, com excesso de opressão, seja ela de um líder, um parente ou relação, e também perdas em demasia - sejam perdas essas as vidas de pessoas queridas, perdas de características que são humanas, ou perdas de aspectos tão nossos que não podemos nos imaginar vivendo sem.

Qualquer demonstração de um social no futuro que seja rodeado por circunstâncias de vida intoleráveis é cabível como uma demonstração distópica. Essas demonstrações são úteis para mais do que entreter, mais do que fazer o leitor segurar um livro em mãos por horas e horas sem querer largar - elas servem para que se faça e analise de maneira crítica a sociedade atual em que vivemos, além de ridicularizar as utopias, enaltecendo os seus males e refletindo que não há lugar perfeito ou ideal para se constituir uma vida.

"Com meus olhos fechados eu procurei pela boca dele, e ele me beijou com tanta paixão e amor que ele nunca teria que dizer que me amava enquanto vivermos, e eu sempre saberia que ele me amava."

Pensando nisso, como é que vocês lidam com livros ou filmes distópicos? Vocês gostam de seus extremos, suas situações tão exploradoras e descabíveis, horríveis e mesmo assim, tão palpáveis? A minha experiência com livros e filmes e seriados nesse estilo é ótima e, perdendo apenas para fantasia, é meu gênero favorito de qualquer coisa. Estou acostumada com seus alicerces, seus meios de chocar e pôr em cheque a realidade em que vivemos e a realidade nas páginas, criada pelo autor. E se você também é chegado a esse estilo de livro, sabe que, junto e por meio dos personagens, nós passaremos por tudo o que pode ser necessário na luta pela sobrevivência: nos acostumaremos a fome, a sede, e nos habituaremos a violentações psicológicas e físicas; temos muita chance de sermos amigos íntimos da solidão e da tristeza, apesar de nunca esquecermos das verdadeiras amizades e amores de quando os tempos eram outros, e tantos mais diversos desafios. Nós sabemos - eu sei - que esse tipo de leitura trará reflexões quanto ao meu dia a dia.

Contudo, não recordo-me de nenhuma leitura distópica que tenha feito eu me reencontrar com os meus conceitos, com o amor e o que penso dele, com a nossa fé e a minha concepção particular de fé, de Deus, da bíblia, e de tudo o que acho mais precioso em nossa existência e em mim mesma de forma tão bruta.

"Mas como você pode estar em guerra com Ele, eu disse gentilmente, se você não acredita n’Ele?"

É comum que um livro distópico desperte sentimentos negativos e angustiantes em quem o lê, pois esse tipo de leitura mostra e exalta os podres da humanidade, o podre em ser o humano e o podre no ser humano; o incomum é um livro do gênero inspirar esperança.

E Everything Under The Sun conseguiu.

"Tudo o que está sob o sol... será seu um dia."

A Terra não é mais a mesma. Depois que uma doença consumiu grande parte da população e nações e capitais foram dizimadas, se iniciou uma corrida pela sobrevivência. Uma fração da população continuou em grandes centros, outras fugiram para lugares menos povoados, e um total assustador virou canibal ou simplesmente batedores, matando viajantes e quem quer que se atreva a passar por eles.

É importante ressaltar a escassez de mulheres que há nessa história - elas eram sequestradas e vendidas, nas melhores hipóteses, destinadas a poderosos e ambiciosos e sanguinários homens que colecionavam-nas como objetos de alívio, de prazer, e aparatos para a continuação da espécie. Fora isso, com um mundo sem as facilidades do nosso, com energia e refrigeramento e ferramentas descontaminadas, muitas morreram com infecções e com os partos.

"Nunca deixe um homem pegar de você algo que não pertence a ele. Eles estão tomando tudo o que resta. Você é tudo o que você tem."

Reparem nas diferenças dessa Terra com a Terra que hoje vivemos - mas, principalmente, notem as horríveis semelhanças.

Reparem que há quem acredite em um Deus, mas há aqueles que erguem seus punhos e choram lágrimas de culpa e angústia pois, se existe mesmo um Deus, como ele permitiria que seus filhos sofressem tanto?

"Vá se foder, eu disse como se o Deus em que eu não mais acreditava estivesse ouvindo. VásefoderVásefoderVásefoderVásefoder.
Obrigado, mas vá se foder."

Jessica nos presenteia com dois pontos de vista - o de Thaís, uma jovem cheia de fé e determinação, sempre inclinada a fazer o certo e fazer o bem a qualquer um, mesmo que aquele um em especial tenha lhe feito mal. E o de Atticus, um militar numa cidade em que os homens são muitos e as mulheres são poucas, com um forte senso de justiça e moral que luta constantemente com as coisas ruins que ele tem que fazer para sobreviver a uma sociedade abusiva, principalmente o mal que ele faz a uma jovem em especial.

Uma coisa que amei sobre esse livro é que ele nos dá as visões dos dois personagens ao mesmo tempo, coisa que fico a cargo de nossa imaginação em todas as outras leituras que fazemos. A autora organizou de modo maestral os capítulos em que os pensamentos de Atticus e Thais apareciam - o pensamento de um deles ficava entre parênteses, e o de Atticus, por exemplo, estaria em negrito, enquanto de Thais possuía a formatação normal. Este modo de narrar a história fora importantíssimo e me proporcionou uma leitura extraordinária - saber o que ambos pensavam e sentiam nas mesmas situações, nas mesmas passagens, é um ganho muito grande para todo o enredo e para o leitor.

" - Se eu pedisse para você me beijar de novo, você beijaria?
- Eu... não sei, Thais. (A mentira do século).
Eu sorri, e perguntei-me se ele podia sentir a forma dos meus lábios enquanto pressionava meu rosto contra seu peito.
(Eu sorri, apenas em pensamento, e perguntei-me se ela pode sentir, com sua cabeça estando tão próxima de meu coração.)"

Nos livros que costumamos ler, não importa o gênero ou o foco, é comum vermos a luta do bem contra o mal, o grupo bom combatendo o mau, seus ideais em disputa e contradição. No mundo devastado de Redmerski, vemos essa briga dentro de nossas personagens, o que é muito mais intenso e pessoal. É visceral e um martírio, pois eles enfrentam esses pensamentos e ações a todo segundo, enfrentando tudo o que mais amam e odeiam sobre si mesmos sem descanso, o que se torna uma tortura - e não de um modo maléfico, mas de um modo de esgotar nossas emoções e sentidos - para os leitores também. Porque mesmo que não percebamos, temos pensamentos de luz e de trevas todos os dias. Porque mesmo que não percebamos, lutamos com o que sentimos e o que amamos e odiamos sobre nós, sobre a vida, sobre os outros e o que queremos todos os dias.

Contudo, a revelação que os personagens têm - e que os leitores podem ter também, já que não é um insight que todos encontram de forma fácil - é que ter esses pensamentos, essas batalhas diárias e incessantes, não significa que temos mais inclinação a fazer o mal do que a fazer o bem.

Não.

Apenas significa que não importa a situação, nunca deixamos de ser humanos.

"O mundo nunca realmente ficou sem bondade. A maldade apenas sempre pareceu superá-la. As escalas sempre estiveram apontadas para a direção errada. E assim permanecerá até que... bem, acho que até pessoas suficientes se erguerem e mudarem isso."

Com quatorze páginas de anotações e trechos sobre uma história tão crua e emotiva, ainda não sei definir se o livro fora bom ou ruim. Ele me machucou e me curou, me mostrou a impiedade do mundo e da vida e, ao mesmo tempo, que somos agentes e que temos potencial para realizarmos o que quer que desejamos. Ele foi uma palheta de cores quando tudo parecia preto e branco, e minhas sensações com ele são tão contraditórias que não sei se esse colorido me alegrou ou acabou por me deixar perturbada.

Um livro que me deixou em lágrimas de tristeza e de esperança, com sorrisos alegres e amargos e de coração partido e remendado por tudo o que somos e podemos fazer, Everything Under The Sun é mais do que um romance sobre duas pessoas completamente diferentes - é sobre a ambiguidade de nossa alma.


site: http://leitorasinquietas.com.br/
Lu Oliveira 12/10/2017minha estante
I need. Os quotes me convenceram.


Layla 12/10/2017minha estante
E esses da resenha nem são os mais lindos (na minha opinião). Leia sim, é bem emotivo e me deixou um caco. E me diga se ler, tá? Preciso conversar sobre!




Danny 17/04/2024

Não gostei, se houve um dia que eu gostei da escrita dessa mulher. Eu era doida.

É um romance pós apocalíptico, é longo, tem violencia.
E eu achei o casal nada a ver
comentários(0)comente



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