Mr.Sandman 31/12/2023
Hisoka X e X Kuroro (O retorno da Arena Celestial)
Esse volume demonstra com primor a qualidade narrativa de Yoshihiro Togashi. Não é apenas uma luta, é uma dança, a dança do caçador. Além de uma demonstração da forma como a história se orienta pelas hierarquias, pelas atmosferas e pelos tom cinza de cada conflito, aqui temos a exploração de como o antagonismo funciona em Hunter X Hunter. Os antagonismos são diversos, mas muito bem explorados por função X e X desejo. A função narrativa é estabelecida em contrastes e em pontes bastante explícitas que se articulam por meio do combate de vários desejos. A luta entre Kuroro Lucilfer e Hisoka mostra isso. O desejo de Kuroro a princípio é retomar seus poderes nen e para isso depende do Jonenshi que Hisoka encontrou. Nesse caso, o objetivo de Hisoka é simplesmente lutar contra Kuroro. E nada melhor que a Arena Celestial para isso. A Arena Celestial serve tanto como função narrativa quanto como elemento para fundamentar ainda mais a mitologia daquele mundo e estabelecer uma expectativa sobre a luta. E funciona perfeitamente.
A luta é um embate de poderes nen, de sagacidades, de inteligências, mas também de personalidades. Elas se chocam mas funcionam como uma dança, uma performance que articula a vontade de viver e a vontade de matar de cada um dos dois. Mais um motivo para a escolha do lugar. Não vou me delongar na luta em si, mas ela é um ponto chave para a obra num geral, porque consegue ao mesmo tempo que avançar na história e recompensar o leitor, ser um retalho de comentários sobre o próprio mundo em que se estabelece.
O volume não se fecha apenas na luta, por mais que ela seja central e estabeleça novos núcleos dentro da viagem para o novo continente. O núcleo de Kurapika tem seu desenvolvimento nesse volume e a grande trama da sucessão se estabelece com mais direcionamento agora. Mais uma vez Togashi mostra sua maestria narrativa encaminhando uma ousada história com inúmeros personagens dentro de um espaço bastante complexo e sob um contexto bastante específico. É simplesmente cativante de ver.
O arco do Continente Negro não só se estabelece como uma ampliação de tudo que é Hunter X Hunter, mas também como uma amostra do potencial ilimitado desse mundo criado por Togashi. Vale muito a pena!