João Moreno 04/04/2020O Covid-19 é uma justificativa ideológica para a crise capitalista (OURIQUES, 2020) ou "Não, o problema não é a Carga Tributária. Ou os Direitos Trabalhistas".Não, o problema não é a Carga Tributária. Ou os Direitos Trabalhistas.
Em tempos de Covid-19, dizem que não há dinheiro para políticas sociais. Comemoramos a migalha de R$ 600 reais aprovada no Congresso Nacional (que Esquerda que nos tornamos...). Todavia, a "venda de swaps bancários é acelerada, o Banco Central queima reservas em favor de uma coesão burguesa (...) [e permanecemos, assim], sobre o reino da escassez" (OURIQUES, 2020).
Dizem que o Estado quebrou e que o confinamento irá "aumentar o rombo". Guedes tem um discurso fiscalista, de Estado Mínimo. Só não contou que, em 2010, pagamos 125 bilhões para o rentismo:
Em 2011, 181 bi;
Em 2012, 147 bi;
Em 2013, 186 bi;
Em 2014, 251 bi;
Em 2015, 397 bi;
Em 2016, 318 bi;
Em 2017, 341 bi;
Em 2018, 280 bi.
Como explicar o discurso de Austeridade enquanto quatro bancos tem lucros recordes?
Em a 'A era do Capital Improdutivo', o professor doutor em Economia Ladislau Dowbor expõe a transformação capitalista.
O que o pesquisador faz é mostrar que a desregulamentação dos Mercados, em 1970 e 1980, com Reagan e Thatcher, levou, ao contrário dos que os liberais afirmam, à oligopolização, à concentração de renda e à transformação de uma economia baseada na produção em especulação.
O livro passa pela transição de um Estado de Bem-Estar ao Neoliberalismo. Demonstra como a flexibilização dos Mercados concentrou poder, com a "privatização" da Democracia, através da compra de diferentes sistemas políticos em todo o mundo.
Dowbor escreve que, com um capitalismo transnacional, torna-se impossível para Estados-nação resistirem às imposições corporativas, uma vez que a regulamentação estatal é local e não há governança mundial.
Seria assim, segundo o autor, que diferentes empresas continuam a existir apesar dos diferentes crimes. Os acordos impedem a condenação; como as multas são baixas, é mais lógico continuar com a prática criminosa.
No fim, Dowbor explica como a Economia brasileira chegou aonde chegou, partindo do Plano Real, do financiamento privado de campanhas, da desregulamentação do sistema bancário, do oligopólio de bancos, das altas taxas de juros, da acumulação via Dívida Pública e da austeridade fiscal em nome do rentismo parasitário.
Venderam pra gente que o Estado gasta mais do que arrecada e por isso ele deveria ter um limite de gastos ("qualquer dona de casa sabe disso", diziam), venderam pra gente que direito social impede o empresário de "empreender" e que é melhor "mais emprego e menos direito do que muitos direitos e emprego nenhum" (fala do atual presidente). Na Previdência, extinguiram o benefício futuro para os mais pobres (idade mínima + tempo de contribuição acaba com o benefício pra população mais pobre) enquanto a mamata permanece e foi expandida para certos setores.
E assim vamos.
Sem tocar no ponto principal de um sistema de intermediação financeira parasitário o qual comanda a Economia do país.
* Juros exorbitantes pra pessoa física e jurídica, os quais consomem R$ 1 trilhão de reais (15% do PIB brasileiro são juros pagos aos intermediadores financeiros: atividade improdutiva que faz com que quem produz tenha pouco lucro e quem paga pague muito consumindo pouco: vai tudo pra banco!)
* Crediário que funciona como agiotagem legalizada (Casas Bahia, Ricardo Eletro entre outras tem lucros exorbitantes não com a venda de móveis, mas como vendem esses produtos: você compra uma televisão e paga duas).
* Cartões de crédito com taxas exorbitantes;
* Dívida Pública que drena a capacidade produtiva do Estado, via pagamento de juros (Foram 400 bilhões pagos em juros. É uma parada que quanto mais se paga, mais se deve).
* Evasão fiscal na ordem de 570 bilhões (ou 9% do PIB);
* Tributação regressiva;
* Paraísos fiscais que acomodam, em seu total, quase U$ 500 bilhões de dólares (se compararmos, seria o equivalente a 28% do PIB, com dados de 2018);
* Fundos de pensão na ordem de R$ 700 bilhões que são autorizados a investirem 100% na Dívida Pública, em capital especulativo, de forma semelhante ao que acontece no Chile.
site:
https://literatureseweb.wordpress.com/2020/04/04/a-era-do-capital-improdutivo-de-ladislau-dowbor-um-resumo/