Admirável Mundo Literário 27/05/2020
Resenha n°9 - Quase memória - Carlos Heitor Cony
Você valoriza e guarda suas memórias? Já parou para pensar como seria nossa sociedade se todos perdessem a memória repentinamente? Não, isso não é uma premissa de um livro de ficção científica, é apenas uma das minhas inúmeras indagações que tive ao ler este quase romance, quase crônica, quase reportagem; este livro que traça uma linha tênue entre ficção e não ficção, provocando seu leitor a imaginar, mas nunca descobrir.
Tudo se inicia quando o narrador-personagem (o próprio autor), Cony, recebe um pacote com um nó perfeito ao centro. À primeira vista, Cony logo reconhece que seu pai, Ernesto, seria o remetente, pois o pacote possuía todas as características que o faziam lembrar dele: a laçada que deu origem ao nó e que apenas o pai poderia fazer, com maestria e perfeição; o cheiro de alfazema e brilhantina; o papel pardo e límpido; enfim, não poderia ser de qualquer outra pessoa se não de seu pai. O que intrigava não só Cony, mas todos os leitores, era que seu pai havia morrido há 10 anos, portanto, como este pacote chegara até ele? E, mais instigante, o que havia dentro do pacote?
A partir do recebimento desse inesperado embrulho, Cony leva seus leitores a percorrer as histórias inesquecíveis do seu pai e a conhecê-lo melhor, através de profundas e detalhadas memórias, ou quase? Cony conta as inúmeras vezes que seu pai, um homem especialista de inutilidades, o fizera passar por situações constrangedoras e engraçadas, que nos aproximam dessa amorosa relação de pai e filho.
Este livro, trouxe-me incalculáveis sentimentos, fez-me questionar a valorização do presente para que hajam memórias e, mais importante, para que possamos revivê-las.
Citação: "Amanhã… amanhã vou guardá-lo, tal como o pai o deixou. Quando digo “amanhã” nesse tom (amanhã…) penso nele quando dizia, cada noite, antes de dormir: “Amanhã farei grandes coisas!” Mesmo quando não fazia nada, para ele o viver, o chegar à outra noite e se prometer que no dia seguinte faria grandes coisas era, em si, uma grande coisa."
Nota: 9/10