denis.caldas 10/06/2023Nove sermões, uma igreja e a guerraConfesso que essa leitura foi desafiadora para mim, devido à grandeza intelectual e espiritual de Lewis; terei que ler atentamente como há tempos não leio. Somente o que me incomoda em Lewis, creio por causa da sua fé anglicana, é a crença na alma imortal; mas tudo que ele escreve é tão lindo, que até esqueço que é anglicano kkkkk (olha o meu ar de superioridade que ele mesmo combate no primeiro artigo)!
"Isso não significa que devamos ter uma atitude solene o tempo todo. Devemos participar do jogo. Mas a nossa alegria deveria ser do tipo (e, de fato, é a mais alegre possível) que existe entre as pessoas que, desde o início, levam-se mutuamente a sério - sem leviandade, sem superioridade, sem presunção." (1. O peso da glória)
Em "Aprendizado em tempos de guerra", Lewis trata sobre a importância e a motivação em se cuidar de coisas triviais e de estudos, mesmo em tempos de guerra. Consideremos que, esse sermão foi feito no contexto da 2ª Guerra e direcionando a alunos ingleses; certamente é difícil ter esperança no futuro quando centenas de Heinkels e outros aviões nazis jogam bombas durante dois meses na cabeça dos ingleses.
"Porque não sou um pacifista" é o terceiro sermão, divagando sobre alguns motivos porque uma pessoa é obrigada a servir em uma guerra. Bem, como libertário não concordei com a maioria das argumentações, mas a de se entender que, um anglicano que acredita que o rei substituiu o papa é de esperar que acredite na suprema autoridade estatal, que não difere de se acreditar piamente na infalibidade papal. O mais interessante é ter lembrado que, foi com Lewis que aprendi a chamar católico de papista kkkkkkk.
Em "Transposição", me parece que Lewis quis tratar do reflexo das coisas espirituais na vida material, algo como que, relembrando aquele versículo de Paulo, o que temos aqui de espiritual é somente uma sombra do que é de verdade lá no Céu. Sei lá, foi um capítulo muito difícil de ler, inclusive por eu nunca ter escutado sobre a Doutrina da Transposição. Acho que é ter a capacidade de transpor o que vemos aqui com o que realmente é no plano espiritual, como a diferença de um desenho 2D e uma maquete 3D, sei lá. "Teologia é poesia" tenta desmistificar que as histórias e personagens cristãs sejam mitos, que o cristianismo não é mitológico como houve a mitologia greco-romana e a nórdica (fiquei sabendo que tá voltando quente entre a juventude escandinava); um dos argumentos é que essas mitologias não têm um Códex como o cristianismo tem a Bíblia (mas fiquei encafifado com a questão islâmica, que tem um Códex). Lewis também se usou de exemplo, falando que esse era um dos motivos dele ter saído do ateísmo para o cristianismo.
"O círculo íntimo" foi uma palestra dirigida a jovens, falando sobre o perigoso desejo em participar de algum grupo restrito de pessoas... Particularmente, acrescentou nada para mim...
Lewis é brilhante mesmo! Depois de um sermão que eu só compreenderei se ler com atenção ou outro que é contrário ao que creio, vem com "Membresia", com uma abordagem épica.
"Se subtrair qualquer um dos membros [da Igreja], você terá produzido uma ferida em sua estrutura. Sua unidade é unidade de pessoas diferentes, quase que de pessoas incomensuráveis. (...) A sociedade para a qual o cristão é chamado no batismo não é um coletivo, mas um Corpo. De fato, é aquele Corpo do qual a família é uma imagem no nível natural. Se alguém vem a ele com a concepção errada de que ser membro da igreja é o mesmo que ser membro no sentido degradado moderno - uma aglutinação de pessoas como se elas fossem moedas ou itens - ele seria corrigido (...)."
"Sobre o perdão" trata simples e maravilhosamente bem sobre a questão do perdão, faz muito tempo que não leio algo sobre de forma tão direta e real.
"Ato falho", pois somos seres humanos em um mundo caído, em busca de redenção e salvação, embora na prática não sei diferenciar essas palavras, acho que são a mesma coisa. Na verdade, nunca pensei sobre isso, mas Lewis nos faz pensar.
Enfim, pensei em dar três estrelinhas na lapela, mas, como o problema está na minha ignorância, não posso condenar esse livro que trouxe bons e inspiradores momentos. E registro a minha insatisfação pela Thomas Nelson Brasil optar em lançar os livros em cara capa dura, diminuindo o acesso; já vi o "Cartas a um diabo" em capa mole vendendo nas Americanas, e outro dia aqui pelo Plus alguém ofereceu um da coleção também com capa mole, mas me parece ser edições disponíveis em algum pontos físicos pelo país, pois na internet só se encontra pra vender as edições "luxuosas"...