spoiler visualizarmari ð 22/03/2024
Resgatando histórias de quarto de despejo
Carolina viveu numa situação muito complicada e, pior, numa época que a história do Brasil estava muito conturbada. Acompanhar a história dela, já sabendo com antecedência os eventos daquele período ? 1955 a 1960 ? ajuda a entender a dura realidade dela de uma maneira mais completa. Claro, digo assim, não excluindo a ideia de que existam pessoas na mesma situação hoje em dia. Muito do contrário, por meio da leitura do livro desenvolvi um projeto de arrecadação de alimentos com meus amigos para ajudar pessoas como a escritora.
Na verdade, o que eu digo em relação aos eventos históricos que caminharam junto com a produção do diário e conhecê-los bem é você entender como eles afetam diretamente a personalidade da personagem. No início do livro ela era esperançosa, era mais pacífica. Com o passar do tempo, a esperança morre, ela chega a querer morrer também, fica mais agressiva, menos tolerante.
Falando nessa mudança, e principalmente na tolerância, um exemplo notório é que, logo no início do livro, Carolina já sofria muito com a implicância por parte de seus vizinhos, mas ela tentava relevar isso em pró da sua "paz". Depois da quebra de 1955 para 1958 ela já não suporta mais piadinha, encheção de saco ou qualquer coisa que a incomodasse diretamente. Tanto que, por mais do preconceito típico do sudeste com o povo nordestino ? que a autora claramente carrega consigo ?, ela chega a mentir sobre ter uma proximidade com os nordestinos quando briga com alguém, afirmando estar aprendendo usar uma peixeira com eles, para ameaçar quem lhe incomoda.
Enfim, houveram também as partes mais "românticas", como o caso de seu Manoel, o cigano, pai da Vera, não sei o que e não sei o que lá. Não fotam partes muito desenvolvidas, também não gosto muito de romance, então não foquei muito nisso, mas achei justo mencionar ao dizer: gostei muito de todas as vezes que ela se afirmou auto suficiente e sem necessidade de um homem, mesmo quando tinham homens atrás de si. Ela não queria e não fingia querer para agradar seu ninguém.
É isso, é um ótimo livro! Trabalha muito bem a política, a fome, o feminismo ? especialmente o feminismo negro ?, recomendo demais.