Marjory.Vargas 27/08/2023A obra Quarto de despejo é resultado dos diários de Carolina de Jesus: uma mulher negra, mãe solteira e moradora da favela do Canindé.
Os relatos do diário compreendem o período de julho de 1955 à janeiro de 1960, e narram aspectos do dia a dia de Carolina.
Mãe de três filhos, ela se desdobra para alimentar e criar a família: trabalha como catadora de papelão e metal e também como lavadora. Porém, muitas vezes não dá conta. Pior que a fome dela, é a fome dos filhos.
"Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, umas latas, e lenha."
Esta é uma leitura muito difícil, que expõe a situação crítica das pessoas que não têm o mínimo de qualidade de vida (sem saneamento básico, sem coleta de lixo, sem água encanada, com fome e rodeados de muita miséria).
Infelizmente, lendo o texto, percebemos que, apesar de ter sido escrito e publicado há sessenta anos, muitas das dificuldades com as quais Carolina convive todo dia estão presentes ainda em 2020. A própria situação política do país não mudou praticamente em nada.
Esse é daqueles livros que nos leva a pensar e refletir sobre nossas vidas. E, vendo a ausência de tanta coisa na vida de outras pessoas, nos faz agradecer por tudo o que nós temos (e que muitas vezes nem dos damos conta).
É uma leitura extremamente necessária à todos nós.