LT 18/10/2017
Cristina leva uma vida normal. Trabalha em uma loja de eletrônicos e mora sozinha. Com seu salário, paga o aluguel e ainda guarda dinheiro para faculdade, porém, nada de diferente acontece em sua vida. No auge dos seus 23 anos, parecia mais jovem, já que havia herdado a beleza de sua mãe e o sarcasmo de seu pai.
“Acordar, desligar o despertador, escovar os dentes, tomar banho, tomar café e sair para o trabalho.”
Sua rotina era simples, por mais que gostasse de trabalhar, ainda teria que lidar com seu “colega” que sempre flertava com ela. Todavia, quando o movimento de clientes chegava, ela entrava em um ritmo frenético e assim o dia passava mais rápido. Quando Cris chegava em casa, era a mesma monotonia: trocava de roupa e ia para o sofá comer alguma besteira e torcer para não adormecer lá. No entanto, naquela noite, algo mudou, ela notou um detalhe que lhe pareceu como um sinal.
“Ela se levantou e ficou sentada no sofá, por algum motivo aquele pássaro lhe parecia familiar, era grande e tinha as penas em um estranho tom de azul, um azul tão intenso que quase parecia estar emitindo brilho próprio.”
Algo fora do comum, mas que parecia apenas uma fantasia que ela desejou que fosse real. E no fim das contas, era. Após sua rotina matinal, Cris o viu de novo, ao ir trabalhar.
“(...) mas desta vez ela notou algo sobre uma placa em um ponto de ônibus que prendeu sua atenção, era o mesmo pássaro que ela havia visto na noite anterior.”
O que será que ele queria? Estava aparecendo sempre para ela. Queria chamar a sua atenção e com a beleza que irradiava, conseguiu. Seguindo-o, ela entrou em um beco. O pássaro queria entrar em um bueiro e precisava da ajuda de Cris, mas, por que ali? Ao satisfazer seu desejo, ela se encantou com o que via ali dentro, e em um descuido caiu. Essa parte me lembrou um pouco de Alice no País das Maravilhas, confesso.
“Um turbilhão de pensamentos invadiu sua mente antes da morte certa, mas o que mais se agitava em sua cabeça era o fato inacreditável de que aquilo não era um bueiro.”
Onde estava? Tudo parecia normal, e que ela havia chego a uma praia. Porém, ao tropeçar, deparou-se com um robô, algo fora do comum como aquele pássaro em um lugar totalmente estranho. Quando o “humanoide” ligou, Cris notou que o lugar poderia parecer igual ao seu mundo, mas do mesmo jeito totalmente diferente.
“– Foram aqueles piratas, eles querem usar a minha inteligência e tecnologia para melhorar a própria capacidade.
– Você disse piratas?”
Ok, aquilo parecia um sonho, do qual ela não conseguia acordar. Um local totalmente fantástico e diferente que poderia ser um escape. Um lugar cheio de coisas novas e brilhantes, contudo, não era um sonho. Logo os piratas chegariam e com isso eles teriam que escapar, mas, como?
“ – Não podemos ir mais rápido?
– Com este barco de merda, não.
– Pensei que inteligências artificiais fossem mais educadas com as palavras.
– Perdão, senhorita – ele fez um som imitando uma pessoa limpando a garganta. – “Com este barco desprovido de maior velocidade não poderemos escapar de nossos algozes.”
– Acho que prefiro a sua outra versão mesmo (...)”
Nada parecia sensato no mundo onde ela estava, piratas, pássaros incríveis, lugares exóticos e robôs. Primeiro onde ela estava? Um lugar desses só poderia ser visto em filmes, ou sonhos.
“– Mas onde exatamente nós chegamos?
– Nas terras selvagens da Internet.
– Puta merda... – disse Cristina, se espremendo na parede e postando-se ao lado de Said.”
Agora mesmo que ela não compreendia, Internet? Para ela, era apenas uma rede de computadores e ela estava dentro dela? Como isso pode acontecer?
“ – No meu mundo, ou na realidade de onde eu vim, a internet nada mais é do que uma rede de computadores conectados.”
Said não conseguiu parar de rir, e isso a irritou. Era a verdade, agora ela estava em um lugar chamado assim. Ela tinha que voltar, mas, como? Ao perceber isso, o robô iniciou uma nova missão, levá-la para casa. E só teria uma pessoa que a levaria de volta, um Deus.
“ – E que coisa é essa? – indagou ela apreensiva e curiosa.
– O deus Google.”
Quando comecei a leitura desse e-book, pensei: “Vai ser igual à Alice. Cair em um buraco, conhecer um mundo diferente e tentar sair dele.” No entanto, ele superou minhas expectativas. Cristina é uma mulher independente com uma vida normal, que se digna a trabalhar para ter algo novo, um luxo a cada final de ano. E então ela conhece Said e seu mundo, um mundo que para ela é, na verdade, apenas um computador.
Não é difícil se encantar com o universo apresentado e com Said. O enredo nos conquista, o que Cris passa lá “dentro da internet” e conhece é, único. E para falar a verdade, o mundo da internet em si, ainda que o venhamos usando e muito, é algo que conhecemos tão pouco...
Gostei da forma com que o autor trouxe uma nova proposta sobre o tema, um tema importante e que faz parte da nossa realidade. Algo monótono, para algo surreal, diferente e animador. A escrita de Paulo Mateus é leve, simples e nos transporta junto a Cris pela internet.
Se recomendo? É uma litura curtinha, rápida e que nos prende, conseguindo cumprir a proposta a que veio, nos entreter, e ainda que sem audácia para tal, nos fazer pensar nesse universo que, em verdade, faz parte dos nossos dias. Então, sim, recomendo essa leitura nacional!
Resenhista: Analuiza Amorim.
site: http://livrosetalgroup.blogspot.com.br/