Tamirez | @resenhandosonhos 02/08/2018ABRAKADABRA: A Fênix AzulEu não sou uma estranha a nacionais de fantasia, mas esse foi o primeiro LGBT que li, e o sentimento foi de satisfação. Não há nada mais incrível para um leitor do que descobrir uma história que o surpreenda positivamente e o mova através das páginas com leveza. Se for um autor iniciante e que já mostra talento nos primeiros passos, é ainda mais legal.
Acho que a um primeiro olhar a sinopse pode se aproximar de vários livros que bem conhecemos. Afinal, falou em bruxos, lembrou Harry Potter, certo? Porém, o que diferencia essa obra é exatamente a forma como o autor costura esses elementos para criar algo só seu, que reflete um pouco sobre o Brasil também, mas sem tornar a “nacionalidade” algo pesado, o que pra mim é sempre um problema a não ser que o propósito do livro seja esse. São pequenos detalhes aqui e ali que em momentos específicos nos lembram onde estamos.
Há muitas referências à literatura, expressões marcantes e outros itens da cultura pop. Os personagens vivem no mundo real, mas em uma cidade fictícia do nosso país, fazendo com que a apropriação caminhe até certo ponto apenas. Não há escolas de magia, professores, ou aquela logística que se espera pelo já conhecido. Nossos bruxos recebem os ensinamentos da família, que se desdobra pra trabalhar com seu dom sem se mostrar para o mundo real.
“O pior cenário de uma paranoia é quando ela tem um fundo de verdade.”
E Vlaxio brinca com os clichês. Se parece que a história está indo para um caminho ou usando artifícios comuns, porque não expor aos personagens e ao leitor como um fato e aproveitar a onda que isso causa? O efeito é instantâneo. Eu estava lendo e pensava: “hum, é claro que isso ia acontecer”, ai um personagem vira pro outro e diz: “viu como nossa história está se tornando um clichê enorme? precisamos mudar isso”. E ai, o que poderia ser algo ruim, vira um divertimento na trama, a espera pelo ar descontraído que vira toda vez que um artifício assim for utilizado.
Por trabalhar os personagens centrais em um relacionamento homossexual, é claro que me veio à memória Carry On da Rainbow Rowell, que apresenta essa temática em uma “releitura” a lá fan fiction de Harry Potter. Porém lá os elementos centrais eram mantidos, como a escola de bruxos, por exemplo, e os personagens aqui também soam mais adultos e com um ar mais divertido, sem ser escrachado ou fugir de suas responsabilidades.
“A essência mágica de um bruxo é como um músculo. Portanto, quanto mais você exercitá-lo, maior e mais forte ele ficará.”
O livro basicamente se divide em três atos. No primeiro temos um foco maior na relação que se estabelece entre Edgar e Klaus, e a logística da família Valburgo, além de conhecermos algumas regras sobre esse mundo. No segundo ato um problema que ultrapassa essa situação é apresentado, cartas são expostas à mesa e o relacionamento dos personagens deixa de ser foco central pra trabalhar a real problemática do livro. Já na parte final, é hora do confronto. Batalha, feitiços, estratégias e inteligência. É o momento de conhecermos o verdadeiro poder de cada bruxo e no que eles são bons. É aqui que entendemos também o papel de suas classes e entendemos nosso inimigo.
As duas primeiras partes foram mais fáceis pra mim, e essa terceira foi a mais difícil de me fixar. Eu não consegui visualizar muito bem certos pontos e isso acabou por prejudicar um pouco a experiência. Algumas coisas como um grupo parar para planejar um super ataque e conversar por minutos traçando estratégia enquanto parecia que tudo ao seu redor estava indo pros ares não me soou como algo que fizesse sentido no cenário. Porém isso foi apenas um detalhe que pode facilmente não se aplicar aos outros leitores. Quando o livro acaba, em seu “primeiro final” confesso que esperei por mais. Mas ai temos um epílogo que coloca tudo em movimento novamente e finaliza muito bem a história.
“No fim das contas, os heróis não nascem prontos; são criados em momentos que se deve decidir entre ceder ao inimigo ou seguir em frente.”
Acho isso super importante. Eu já li muitos nacionais que não trabalharam o cliff hanger no fim de seus primeiros livros e, mesmo que na hora sentisse a vontade de segui lendo, com o passar do tempo deixei de lado, porque o anseio de descobrir o que viria a seguir não vinha. Em um mercado onde é difícil de fixar, como o nosso, manter a chama acesa é algo muito relevante e que faz a diferença.
Edgar e Klaus são ótimos e é muito fácil se apaixonar pelos dois. As mulheres da família Valburgo também. Todas de personalidade forte e diferentes entre si. Aliás, a maioria dos personagens aqui é multifacetado, mantendo uma evolução ao longo da narrativa, apontando novos aspectos de sua personalidade, evoluindo. Além dos bruxos também conheceremos outras criaturas que co existem em nosso mundo, e por mais que sejam apenas pinceladas, fica a curiosidade de se veremos mais sobre elas em breve.
O livro é um lançamento pela plataforma digital da Amazon e está concorrendo ao Prêmio Kindle de Literatura 2017, onde o vencedor ganha um prêmio em dinheiro mais a publicação do livro em versão física. Eles está disponível à venda para kindle ou de graça pelo serviço de assinatura unlimited. Por aqui, eu fico na torcida.
Abrakadabra: A Fenix Azul é um livro jovem, divertido, que cria uma mitologia sua que se sustenta, trabalhando a pluralidade em aspectos que vão além da sexualidade. Digo a vocês que fiquei surpresa e aproveitei muito a leitura, que apesar de aparentar ter bastante páginas, passa rapidamente por ter uma fluidez constante na narrativa. Pra quem está atrás de um nacional que cumpra esse papel e que tenha uma história bacana, fica aqui a recomendação.
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