spoiler visualizarsophia 03/02/2024
ânsia mórbida pelo pitoresco
?Só para constar, não me considero uma pessoa ruim (embora ao dizer isso eu realmente soe como um assassino!).?
a popularidade desse livro sempre me atraiu, e mesmo que a história não foi exatamente o que eu esperava, achei ela muito boa. foi uma experiência super interessante acompanhar como todos os personagens lidaram com um trauma muito grande, e onde a ânsia pelo pitoresco e a manutenção das aparências leva as pessoas. donna tartt realmente é um talento incomparável e eu amei a forma como ela escreve frases que ficam na minha cabeça por um longo tempo, me surpreendeu que ela escreveu esse livro em 1992. e ainda tenho vontade de ler esse livro na versão original em inglês.
?Existe, fora da literatura, aquela coisa de "falha fatal", a nítida fenda escura que se estende e racha uma vida ao meio? Eu costumava achar que não. Agora acho que sim. E penso que a minha é assim: a ânsia mórbida pelo pitoresco, custe o que custar.
A moi. L'histoire d'une de mes folies.?
"Lembram-se do que falamos há pouco, das cenas terríveis, sanguinárias, que por vezes são as mais sedutoras?", disse. "Trata-se de um conceito bem grego, e muito profundo. Beleza é terror.
O que chamamos de belo provoca arrepios. E o que poderia ser mais aterrorizante e belo, para mentes como a dos gregos e a nossa, do que a perda total do controle? Soltar as amarras do ser por um instante, estraçalhar a estrutura de nossos egos mortais??
?eu sentia uma estranha mistura de afeição e arrependimento. Eu o perdoava cem vezes, apenas com base num olhar, num gesto, no jeito de balançar a cabeça.?
?A gente gosta de acreditar que existe um fundo de verdade no velho ditado: Amor vincit omnia. Mas eu aprendi algo em minha vida breve e triste: este ditado é falso. O amor não vence tudo. E quem acha isso é um idiota.?
?Mas, ouso dizer, só depois de matar um homem me dei conta do quanto um assassinato é um ato complexo e enganador, não necessariamente provocado por um motivo único, dramático. Atribuí-lo a tal motivo seria fácil demais. Existiu, decerto. Mas o instinto de autopreservação não é tão decisivo quanto se crê. Afinal, ele não representava um perigo imediato, e sim um risco lento, paulatino, do tipo que pode, pelo menos em teoria, ser adiado ou afastado de várias maneiras.? [?] ?Não pensei que ajudava a salvar meus amigos, certamente que não; nem pensei no medo; nem na culpa. Mas nas pequenas coisas.
Nos insultos, insinuações, pequenas crueldades. As centenas de humilhações que se acumularam no decorrer dos meses, sem retribuição. Pensei nelas, e em mais nada.?
?atribuam tudo a minha fraqueza, ao orgulho de Henry, ao excesso de exercícios de prosa e grego ? a qualquer coisa.?
?Recusava-se a ver em nós características negativas, concentrando-se nas qualidades mais marcantes, que cultivava e estimulava, excluindo o que houvesse de tedioso e indesejável. Apesar de eu sentir um prazer supremo em me adaptar a esta imagem imprecisa ? e, no final das contas, em descobrir que quase me tornara o personagem que representei por tanto tempo com habilidade -, jamais restou dúvida sobre sua recusa em nos ver inteiros, ou, a bem da verdade, fora dos papéis magníficos que inventou para nós: genis gratus, corpore glabellus, arte multiscius, et fortuna opulentus ? rosto suave, pele macia, bem-educados e ricos.?
?Em certo sentido, era tudo teatro, mas estávamos em Hampden, onde a expressão da criatividade valia mais do que qualquer outra coisa e a simulação fazia parte do currículo.?
"Não adianta sentir medo das coisas que desconhecemos completamente", disse. "Vocês são iguais a crianças. Sentem medo do escuro."
??Só quero dizer que minha vida, em sua maior parte, tem sido muito aborrecida e desanimada. Morta, entende. O mundo sempre foi um lugar vazio para mim. Era incapaz de sentir prazer, até nas mínimas coisas. Eu me sentia morto em tudo o que fazia.? Ele limpou a sujeira das mãos. Mas tudo mudou", ele disse, ?na noite em que matei aquele homem.? [?]
?Foi o fato mais importante de minha vida?, ele disse calmamente. "Permitiu que eu fizesse o que sempre havia sonhado.?
?E o que era??
?Viver sem pensar.??
?Para mim sempre foi difícil falar de Julian sem romancear. De muitas maneiras, eu o amava; em sua presença, sentia o impulso de enfeitar, melhorar, de basicamente reinventar tudo. Creio que isso ocorria porque Julian também dedicava-se constantemente ao processo de reinventar as pessoas e os fatos que circundavam, atribuindo gentileza, sabedoria, charme ou bravura a ações que não continham nada disso. Era um dos motivos pelos quais eu o amava: a luz lisonjeira sob a qual me via e que me tornava a pessoa que eu queria ser em sua presença, pois ele me permitia este prazer.?
?O que mostramos a ele invariavelmente se reflete de volta, criando a ilusão de profundidade e calor, quando na verdade ele é superficial e duro como um espelho.?
"Não há nada de errado no amor pela Beleza. Mas a Beleza ? a não ser que esteja vinculada a algo mais significativo - é sempre superficial. Julian não somente se concentra em determinados aspectos importantes; ele também prefere ignorar outros igualmente importantes"
?tentei ir além, em resumo, de minha tendência fatal de tornar boas as pessoas interessantes. E sei que disse antes que ele era perfeito, embora não fosse, longe disso; sei que ele era tolo e fútil, distante e até cruel, e mesmo assim o amamos, nós o amamos apesar e por causa disso.?
?Perdoe-me por todas as coisas que fiz, e principalmente por aquelas que não fiz.?
"Os fantasmas existem mesmo. As pessoas, em todos os lugares, sempre souberam disso. E acreditamos neles, assim como Homero. Só que hoje em dia usamos nomes diferentes. Lembranças. O inconsciente."
?Os mortos aparecem em nossos sonhos, disse Julian, pois é a única maneira pela qual podemos vê-los. Mas o que vemos não passa de uma projeção, vinda de uma distância imensa, a luz brilhante de uma estrela morta.?