Itin | @merasliteratices 04/01/2011Em 2003, durante o bombardeio dos EUA, em território iraquiano, o Zoológico de Bagdá, acabou destruído, e vários animais sumiram ou foram roubados. Entre esses, quatro leões, escaparam e vagaram livres e famintos pelas ruas de Bagdá. A história da Guerra do Iraque você já conhece, mas agora é contada sob um ponto de vista completamente diferente... O ponto de vista dos leões...
Quatro leões cativos do Zoológico de Bagdá, se vêem livres depois que bombardeiros americanos destroem o lugar. Agora sem as regalias ou limites aos quais estavam acostumados, devem se acostumar as novas situações pelo destino impostas, sobreviver a esse selvagem mundo novo.
Brian K. Vaughan que já tinha se consagrado com a excelente história de sobrevivência abordada em “Y, O Ultimo Homem”, agora ataca com essa excelente fábula do mundo moderno. Zill, o macho conformado e indeciso; Safa, a anciã que já provou como a vida é difícil e prefere a tranqüilidade do cárcere; Noor, uma jovem leoa que “Born To be Wild!” – ahá, essa foi massa; e Ali, um filhote que não conhece a vida fora do cativeiro, e está ansioso para conhecer o mundo – parece muito com um certo leãozinho que arrebentou no cinema uns anos atrás – são os quatro leões que compõe o grupo de protagonistas da trama. Com pitadas de George Orwell, Vaughan dá características bastante humanas para os animais, e dessa forma compõe sua excelente viagem rumo ao horizonte, numa verdadeira jornada em busca da liberdade e com tantos problemas – seja de origem humana ou animal – em seu caminho, sentiram o quão caro é o seu preço.
Á exemplo de A Revolução dos Bichos de George Orwell, Os Leões de Bagdá conta com um forte enredo psicológico, étnico e político, tornando-se não só uma crítica sobre a interferência do homem na natureza, como também uma critica ao sistema, se baseando na própria falta de liberdade do povo iraquiano. Apesar da analogia com a raça humana, os animais de Vaughan ainda mantêm todas as características do mundo animal, como temperamento, comportamento e organização, característica essa que fica fantástica não só nos leões, como em todos os outros animais usados na trama.
Para uma Graphic Novel tão inteligente e cativante, não poderia deixar de mencionar um fator substancial para a vida da obra: as ilustrações. Desenhada por Niko Henrichon, a história ganha uma dimensão fantástica, e muita profundidade. Os traços ficaram fantásticos, tanques de guerras, casas e prédios em ruínas e o sombreamento são estupendos, a anatomia dos animais é precisa e brilhante, e cabe as expressões faciais das criaturas conferirem dramaticidade e realismo à trama. Tudo isso foi imortalizado por Niko Henrichon, que fez dos quatro leões personagens inesquecíveis – destaque para Ali, que com o mesmo temperamento e mesma aparência, é uma cópia de Simba, de O Rei Leão.
“Baseada em fatos reais”, a obra vencedora do Harvey Awards como melhor Graphic Novel, é forte e dramática, cheia de lições que o homem deveria aprender. Assim como algumas belas obras de Esopo, Os Leões de Bagdá, é uma magnífica fábula moderna.