Joviana 25/02/2016Profundidade singela e genialidadeÉ sempre uma experiência única fechar um livro e continuar ligada a ele. Aquele livro onde não importa quantas páginas li hoje porque nem vi elas passarem, apressadas, diante dos meus olhos. Só as virei.
Moça com Brinco de Pérolas é um desses livros.
Ganhei ele de presente de aniversário há alguns anos, e não sei porque demorei tanto a dar uma chance para a sua leitura. Que grata surpresa!
Há de se dizer: a escrita de Tracy Chevalier é brilhante. Não há como adjetivarmos por menos. Ao contar a história de um famoso quadro do pintor Vermeer pelos olhos da personagem fictícia que teria posado para ele, Chevalier cria um ambiente quase palpável de tão real. As cenas que Griet, a protagonista, descreve, dançam pelos nossos olhos como mágica! Uma cidade/personagem, descrita na medida certa, se ser enfadonha.
A personagem principal é construída nos detalhes que escorrem pela página, sem se fazer alarde, ou usar metáforas pomposas. Ela é extremamente bem construída, assim como a trama, que não deixa a desejar em nenhum ponto.
O livro é escrito quase como se fosse um diário de Griet, onde ela revela seus sentimentos, sensações e luta de forma tocante e com um ar de inocência que oprime e aperta nossos corações. A genialidade da autora em conseguir captar a sensualidade, o crescimento, a maturação e o amor, sem usar essa palavra a esmo, mostrando, não dizendo, chega a ser comovente.
O pintor e a maneira como as obras nascem de sua paleta colorida são críveis. A escrita cria um clima de tensão que cresce ao longo dos dias em que Griet passa com a família Vermeer, levando inexoravelmente a um final que demanda uma escolha de vida: a descoberta do que somos ou o que nos resta ser.
Profundidade singela.
Não conseguirei nunca mais olhar para esta pintura sem me lembrar com carinho de Griet.