As coisas que perdemos no fogo

As coisas que perdemos no fogo Mariana Enríquez




Resenhas -


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Pudima 22/07/2020

A vida real é muito assustadora.
Demorei bastante para formar uma opinião sobre esse livro. Sendo honesta, ainda não tenho opinião completamente formada sobre.
Esse livro mistura terror e suspense. Uma realidade que se mistura com fantasia. Gostei muito da escrita e fiquei aflita com o desfecho dos contos. Mas o que mais me assustou em cada história foi o real.
O fantasioso realmente dá medo. Histórias de fantasmas sempre me assustaram. Mas a realidade da crueldade humana é ainda mais assustadora.
Esse foi um livro pra se pensar em coisas que realmente assustam. Eu não sei se recomendo, e não sei se um dia conseguirei ter uma opinião. Sei que foi uma experiência incrível de se viver e debater sobre.
Paz, amor e bem.
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Ismael.Chaves 17/10/2023

Um marco da literatura latino-americana
A maldição de todo leitor é o fato de que as pilhas de livros sempre irão aumentar e que nunca viveremos o suficiente para ler tudo que gostaríamos. Metas existem para serem alteradas, frustradas e, em alguns casos, alcançadas. Mas, sem dúvida, uma das coisas mais legais na vida de um leitor é ser surpreendido por um livro que você não dava nada, um autor que você jamais imaginou ler ou uma releitura que se mostra uma experiência totalmente nova. Este último foi o meu caso.

Gosto de sentar na minha biblioteca e ficar apreciando os títulos, tirando alguns livros da prateleira para ler a sinopse, pensar em quantos já li e os que ainda não li, me perder em meio a esse universo de autores vivos e mortos, e histórias que atravessam o tempo e espaço, gêneros e idiomas. Não existe “alta” e “baixa” literatura na minha biblioteca (e nem deveria existir em lugar nenhum!). Autores de literatura popular contemporânea dividem o mesmo espaço que autores clássicos ou filósofos. Às vezes passo horas junto dessas companhias. Pois bem, numa dessas vezes em que meus olhos flanavam pelas prateleiras, peguei este livro de contos da escritora argentina Mariana Enriquez, que eu já havia lido há alguns anos, e dei uma folheada. Quando percebi, já estava imerso e relendo-o.

Mas a verdade é que parece que foi a primeira vez que eu o li. Confesso que, com exceção do primeiro e o último contos, eu não lembrava de praticamente nada no livro (e mesmo nesses contos minha memória me enganou). Foi maravilhoso retornar a esse microuniverso da autora e, de fato, conhecê-lo pela primeira vez. Certamente, agora, com uma bagagem maior e mais madura sobre a história e a literatura latino-americana (que, na época, eu não tinha). Mariana faz parte desse time de autoras latinas – como Samanta Schweblin (“Distância de Resgate” e “Pássaros na Boca”), Maria Fernanda Ampuero (“Rinha de Galos” e “Sacrifícios Humanos”), Giovanna Rivero (“Terra fresca da sua tumba”), Dolores Reyes (“Cometerra”) e Agustina Bazterrica (“Saboroso Cadáver”) – que usam o horror, o macabro, o grotesco, o estranho e o insólito para provocar e refletir o passado e o presente político da América Latina.

Em “As coisas que perdemos no fogo”, temos histórias de fantasmas, de rituais, de seitas e deuses antigos, de assassinatos, mas sobretudo de uma Argentina cujo maior horror vem do seu passado ditatorial e de questões sociais ainda não ou mal resolvidas. E não se engane – não importa o quanto críticos preconceituosos tentem negar e enalteçam ou discutam outros tópicos dentro de uma tradição literária -, esse é um livro de terror e Mariana Enriquez, que é uma grande fã e conhecedora do gênero, nunca negou isso.

Dentre os 12 contos que integram o livro, destaco os seguintes:

“O menino sujo” abre o livro com uma história trágica, que aborda a triste situação de mulheres e crianças que moram nas ruas, à mercê das drogas e da violência, mas sobretudo abandonadas por uma sociedade que, segundo a própria protagonista do conto, vira o rosto e finge não enxergá-los. Além do terror social, Mariana também lança mão de lendas e da cultura, manifestados através de entidades e festivais ritualísticos, além da violência que pode tanto ter origem sobrenatural ou humana.

Em “A Hospedaria”, os fantasmas da ditadura emergem, literalmente e metaforicamente, através de locais marcados pela violência, mas que também revelam a diferença social entre quem tenta esconder o passado e lucra em cima de quem conhece esse passado mas não tem forças para enfrentá-lo.

“A Casa de Adela” segue o gênero de casas ou locais assombrados. Esse, com um final ainda mais impactante que o anterior, lembra o quanto o passado da ditadura ainda provoca calafrios no presente e como o desaparecimento de pessoas no antigo regime ainda é uma dor e angústia presentes no país. Um retrato que muito se assemelha ao Brasil, que, ao contrário da Argentina, jamais reconheceu ou puniu os responsáveis por esses crimes à humanidade.

“Pablito clavó un clavito” evoca a lenda do fantasma do Baixinho Orelhudo, que aterrizou a sociedade ao assassinar crianças com extrema dose de sadismo. É o conto mais violento do livro e Mariana não poupa nas descrições.

“O quintal do vizinho” trabalha muito bem o duelo entre o que é real e o que é psicológico. Mais do que um conto que evoca a atmosfera hitchcockiana sobre um suposto crime presenciado de uma janela, Mariana resgata a atmosfera do emblemático “O Papel de Parede Amarelo” de Charlotte Perkins e discute a velha tradição patriarcal de pôr em dúvida a sanidade das mulheres, não raro imputando-lhes a alcunha de “loucas”. Algo ainda muito enraizado na sociedade e relacionamentos tóxicos.

“Sob a água negra” é o meu conto favorito. Aqui temos um conto que se encaixa perfeitamente no gênero crime e policial, com uma protagonista que investiga o assassinato de dois adolescentes por policiais em uma periferia cercada por um rio poluído. Além de abordar a violência e a corrupção policial em comunidades pobres e questões ambientais como poluição da água e a falta de saneamento básico, Mariana escancara suas influências literárias e nos presenteia com uma história lovecraftiana de seitas e deuses antigos.

“As coisas que perdemos no fogo” é o conto que dá titulo ao livro e encerra o mesmo, apresentando uma fábula aterrorizante sobre a violência contra as mulheres, em uma representação até exagerada, mas sobretudo catártica, que denuncia e nos faz refletir sobre a violação do corpo e da mente feminina. É como um grito de protesto, uma declaração de guerra, contra a sociedade patriarcal. Mariana joga a gasolina e ascende o fósforo, e ao leitor só resta se deixar queimar por esse livro perturbador e fascinante.
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shaiane.niches 23/09/2023

Incrível!!
Contos maravilhosos e perturbadores com uma escrita que te prende a cada página! Eu com certeza irei reler este livro. Super recomendo esta leitura.
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