Jorge 23/02/2023
Um Ode ao Humanismo
Esta obra pode ser considerada, com certeza, uma das mais importantes da filosofia moderna. É um marco do humanismo tardio do século XIX. Por 320 páginas, Nietzsche transborda inspiração em seus textos sobre muito o que há de se pensar a respeito da vida. É curioso refletir por que ele escolheu este personagem, Zaratustra, figura principal do Zoroastrismo, religião da Pérsia antiga, a qual influenciou muitas linhas de pensamento dualístico, inclusive o Cristianismo.
A respeito da vida é que se fala, e Nietzsche entende que o homem, a mente, e a experiência são o centro de tudo. Como tanto repetem: "Deus está morto". No seu texto, o autor transforma o homem em deus, por si só, cheio de falhas e destrutivo, mas por isso mesmo maravilhoso e criativo. E é por isso que "Deus está morto". É o fim dos valores antigos escritos na pedra e o começo da aventura humana pelas estrelas. O homem não precisa mais delas para lhe darem um significado, ele mesmo o dará, pois agora alcançou a altura delas, e até mesmo pode passar, se já não o fez.
Não pense que o livro se resume a isso, eu fiz uma síntese do que passou para mim, mas a experiência de ler é única e inovadora, especialmente pela linguagem empregada pelo autor, a qual é ornada pelas mais belas analogias e inteligentes contradições e críticas.
Nietzsche recorre para o ato de abraçarmos tudo aquilo a que a religião cristã pregou como pecado. Enlaçar todos os nossos defeitos e a terra, e não sonhar com uma perfeição acanhada e mundos celestes inalcançáveis. É sobre ser humano, acima de tudo, não santo. Santo jamais!
Pois bem, é difícil não associar os pensamentos do autor com o que é conhecido como caminho da mão esquerda pelos esotéricos. Aprender a odiar (o autor fala muito disso), amar e desprezar; intensamente. É o caminho da guerra. Assumir quem você é. O que você ama e o que você odeia, não guardar ou fingir; ser verdadeiro e único. Isto rende a solidão, mas que importa? É a solidão que o grande procura. Na solidão, ele tem a si próprio, e de nada mais precisa.
Ainda mais, aquele que é capaz de subir mais alto, também pode descer mais baixo. A respeito das virtudes, Nietzsche quebra paradigmas há muito estabelecidos. Suas virtudes são de fato suas, elas estão nos seus feitos, e não no que você deixa de fazer. É uma crítica ao aprisionamento da alma. Pois se aprisionar e viver recluso nada tem de virtuoso. A virtude está no âmago do seu ser. Nas suas vontades, que devem ser criadas a alcançadas. Na terra!.
Eu gostei tanto de ler esse livro que até algumas manias de escrita roubei do autor. Me senti mais poeta.
Se cabe alguma crítica, posso fazê-la ao excesso de subjetivismo do autor, o qual é de complexidade maior para se discutir. Afinal, a experiência humana é subjetiva, mas se é impossível assumir objetividade no que é belo, e justo, por exemplo, nossos valores caem por terra. Entendo que este seja o objetivo de Nietzsche (ele repete incansavelmente o axioma: "quebre os valores"), mas acredito em uma discussão objetiva a respeito de certos temas. Tenho uma mente científica, e Nietzsche é deveras abstrato.
Além disso, é importante citar um certo estigma racista e fortemente elitista dos pensamentos antigos do século XIX. É inevitável que autores clássicos carreguem estas máculas nas suas obras, especialmente estes filósofos que buscam a verdade. Mas como o próprio autor repetiu inúmeras vezes, ele vai em direção ao super-homem, mas não o é. Não o encontrou ainda. O homem é algo que deve ser superado, falou o filósofo.