Aldemir2 17/02/2022
Humanos que agem como animais e vice versa (não, não estou falando do presidente)
Enfim cheguei no último das quatro grande obras de H. G. Wells: *Guerra dos Mundos, A Máquina do Tempo, O Homem Invisível* e *A Ilha do Doutor Moreau.* Assim como os outros três, este último é um daqueles clássicos que por mais que não se tenha lido ele, a pessoa sabe do que se trata por cima. Um homem chega em uma ilha estranha, comandada pelo Dr. Moreau, e lá encontra seres metade humanas metade animais e precisa lutar para sobreviver. Portanto, o prazer da leitura deste livro não se encontra na história em si, pelo contrário, ela se encontra na verdade nas discussões que os experimentos feitos por Moreau traz, a filosofia por trás deles além da sensação de suspense e mistério que ronda o personagem.
Não falando muito da história pois, como já disse, ela é bastante conhecida e seu plot é aparentemente até bastante simples, mas ao ler o livro percebi que por mais simples que o *plot* seja, as nuances por trás são extremamente complexas, assim como as outras obras de Wells. Das quatro, essa foi a que achei mais bem escrita e construída, além de bem trabalhada em suas questões humanas, por mais que para mim a leitura tenha sido lenta e um pouco densa. Primeiramente, acerca da questão ética dos experimentos, eles não foram feitos com humanos, mas sim com animais, num processo que Moreau chamará de vivissecção. Ele altera o corpo e a mente dos animais para torná-los mais “humanos”, mas afinal, o que é ser humano? Essa é a primeira questão que a leitura irá trazer ao leitor enquanto o protagonista, Edward Prendick, tenta conviver no meio daquela comunidade estranha, enquanto os seres que Moreau tenta transformar em humanos voltam às suas origem animalescas. E é aqui que se encontra a segunda questão: é a negação dos instintos naturais que nos separa dos animais? É isso que nos torna humanos? A abordagem de que o ser humano tem o seu lado sombrio e escondido dentro de si, o lado animal, é um dos pontos mais importantes do livro e que traz mais reflexão, sendo com certeza um dos motivos para dar nota máxima a ele. Além disso, também há a questão de criador e criatura, o se tornar um deus daqueles seres que ele criou e as questões de até onde a ciência pode ir, o quão ético realmente foram aqueles experimentos.
Essa é uma leitura que não deixa o leitor sair ileso dela e com certeza a que eu considero a melhor das quatro grandes obras do autor, por mais que ela não tenha sido fácil para mim. Por vezes sentia sono enquanto lia, era meio densa e não muito fluída, mas é uma coisa que vai de cada um. Se eu pudesse recomendar somente um dos livros do autor (o que não é fácil visto que os quatro que li são muito bons) esse é o primeiro que vem na minha mente, seguido de *O Homem Invisível.*