Lauraa Machado 05/04/2018
Queria que tivesse sido melhor
Antes de mais nada, quero dizer que tinha algumas expectativas pela sinopse, o título e a capa, e que estou bastante decepcionada com a leitura. A autora, Michelle Pereira, é um amor de pessoa, e dá para ver já por várias partes desse livro que ela é uma boa escritora. Mas, talvez por ser seu primeiro, algumas coisas ficaram perdidas e incertas e a ideia não chegou nem perto de ser tão aproveitada quanto merecia.
O principal problema que eu tive com a leitura foi a falta de ambientação. Se tirasse os capítulos do Eron, esse livro poderia ser sobre qualquer adolescente em qualquer colégio. O título, O Demônio no Campanário, a capa e até o prólogo dão uma ideia de que vai ser algo um pouco místico, bastante fantasioso, para provocar tensão e ansiedades. O fato do livro ser situado em um convento, por exemplo, já dá a impressão de que terá um certo clima de regras e religião que poderia ter acrescentado muito valor à história. Mas, infelizmente, ele também nunca aparece. Faltou a atmosfera misteriosa e contagiante que a sinopse e o título prometiam.
A narrativa poderia ter sido mais sensorial, também poderia ter explorado mais dos personagens e suas personalidades, principalmente da Eva. Em vez disso, a narrativa se resumiu quase somente à rotina escolar nada peculiar ou interessante da Eva e suas amigas e ficou cheia de diálogos desnecessários, nada naturais, muitas vezes repetitivos e que em nada acrescentavam à história. O verdadeiro enredo começa quando já está faltando só umas trinta páginas.
E o que mais me desanima é o quanto fiquei animada com o prólogo, é a quantidade de promessa que alguns capítulos do Eron traziam. Ele era a parte mais interessante do enredo, mesmo que seus capítulos também tenham caído rápido em repetição e inutilidade. O final dele, também, quase foi ideal, mas a tentativa de introduzir mais ação ao livro no seu clímax só o deixou confuso e um pouco ilógico. A fantasia da história, que parece ser o ponto principal pelo título e a sinopse (e não é) nunca é explicada e não conseguiu me convencer, principalmente porque pareceu quase sempre aleatória.
As últimas críticas que preciso fazer são para a rivalidade feminina e a superficialidade das garotas em volta da protagonista (a única que tinha algum conteúdo, mesmo que tenha provado em todas as cenas que era passiva e nunca salvaria a si mesma). Elas só falavam de vestidos e garotos, tanto que elas mesmas percebem isso. E eu adoro os dois tópicos, mas em um livro que era para ter fantasia, lendas e adaptação da protagonista em uma situação e um lugar tão diferente, nenhuma delas parece se importar com qualquer coisa que tenha um pouco mais de substância.
Mas pior que tudo é a rivalidade. Não havia qualquer necessidade da Karina existir ou ser a vilã de novela mexicana que foi. Não gosto desse tipo de coisa sendo propagada em livros. Quero ver personagens femininas se apoiando, não medindo o comprimento da saia de uma garota que está interessada no mesmo cara que elas e a considerando inferior por isso.
Minha parte favorita talvez tenha sido a Cristal, ainda que ela não tenha tido a atenção e o desenvolvimento que merecia! Foi minha favorita principalmente porque foi a única inesperada. Queria que a autora tivesse perdido muito menos tempo em coisas triviais e focado mais nas que poderiam fazer leitores se identificarem e refletirem, como a questão da Cristal, ou em cenas que tivessem mais impacto e significado. E queria também ter sentido que entrava em um mundo novo e misterioso nesse livro, ter me identificado com alguma das personagens, ou até me encantado com outros.
Mas, como disse, esse é só o primeiro livro da autora, que ainda tem uma carreira longa e próspera pela frente! E o livro é curto, deu para ler em um dia!