@retratodaleitora 26/10/2017Nunca é tarde demais para o amorO Maravilhoso Bistrô Francês é o segundo livro da escritora alemã Nina George publicado no Brasil pela editora Record. Sua publicação anterior, A Livraria Mágica de Paris, conquistou milhares de leitores e foi best-seller na Alemanha e em vários outros países. Apesar de não ter lido a obra de maior fama da autora, não resisti a leitura desse lançamento quando recebi sua cópia não finalizada; no mesmo dia eu já comecei a ler, e não parei até chegar ao fim. O livro chegará às livrarias em Novembro!
Este livro já começa com nossa protagonista, Marianne, tomando uma difícil decisão, uma das poucas que tomou sozinha na vida: ela decidiu morrer, se jogando nas águas do rio Sena. Presa em um casamento abusivo, com um marido infiel e controlador, que nunca demonstrou sentir amor por ela e que jamais a incentivou a buscar seus sonhos, nem mesmo trabalhar e ter seu próprio dinheiro, Marianne, aos 60 anos de idade, já não tem mais perspectiva para o futuro e, em uma viagem à França, resolve por um fim em tudo.
Sua tentativa de suicídio é frustrada quando é salva por alguns nativos e mandada a um hospital. Lá ela recebe a temida visita do marido, que não parece preocupado com ela de fato, mas com sua própria reputação e os gastos que teria com ela. Mas Marianne não passa muito tempo ali e, antes da consulta com um psicólogo, ela foge, levando consigo nada mais que uma bolsa e um pequeno objeto que roubou da enfermaria: um lindo azulejo pintado à mão ilustrando um lindo porto, o Porto de Kerdruc. Encantada com aquela imagem, ela vai embora decidida a encontrar aquele lugar; ali, naquela paisagem paradisíaca, ela finalmente partiria em paz.
"Eu queria ter afundado nele - disse Marianne, baixinho. - Teria enterrado tudo. Primeiro, teria me arrastado para longe, e depois me esqueceria. Assim deveria ter sido. Eu buscava a morte.
_ Mas então? - Perguntou Pascale, temerosa.
_ Então a vida se intrometeu."
Sua viagem é cheia de pequenas coincidências, alguns mal-entendidos e muitas surpresas. Mas as surpresas mais agradáveis, com o poder de mudar sua vida, ela encontraria em seu destino final, o porto. Ao chegar naquele lugar agradável e conhecer os moradores dali, tão receptivos e calorosos mesmo com uma estranha que não sabia mais que duas palavras em francês, Marianne percebe o quanto esteve perdida, o quão pouco viveu de verdade e tudo o que estava perdendo do mundo; ali, ela reencontra a vida, e está decidida a vivê-la.
O Maravilhoso Bistrô Francês é um livro para ser devorado; sua narrativa em terceira pessoa é envolvente e instiga o leitor a continuar. Os capítulos, bem curtos, também contribuem para uma leitura rápida. E, realmente, quando comecei o livro não via o tempo passar: estava totalmente imersa nessa história.
Acompanhar a trajetória de Marianne para reencontrar a si mesma, seus sonhos, desejos e sua própria voz, foi inspirador. Uma senhora de 60 anos, que já não vê mais sentido na própria vida, decide acabar com tudo, mas essa decisão desencadeia uma série de episódios que a levam para mais perto felicidade e a independência tão desejada.
"Quantos desvios, atalhos e mudanças definitivas de rota uma mulher pode tomar até encontrar seu caminho - e só porque ela se adapta cedo demais, cai cedo demais na corda bamba do código moral, defende-se dos velhotes tarados e de suas carrascas, as mães que queriam para as filhas apenas os mais valorosos. E perde um tempo imenso se refreando para se ajustar às convenções! E quanto tempo ainda sobre para corrigir o destino. (...) E ainda assim. A vida da mulher determinada não é um mar de rosas. É um grito, uma batalha, é uma preparação diária contra a acomodação. "
Não vi, de fato, a necessidade de um envolvimento amoroso, mas ele existe sim e, apesar de a trama não girar em torno deste fato, eu apreciei muito as escolhas da autora, inclusive sobre o interesse amoroso da protagonista, outro personagem muito bem construído.
Este é um livro muito poético, carregado de dramas, conflitos, e muita emoção. Um verdadeiro drama francês, com uma ambientação incrível e personagens secundários que fazem toda a diferença e, acrescentando ainda mais no drama, todos são bem trabalhados.
Eu estranhei um pouco, no começo, o estilo narrativo do livro. Em terceira pessoa, acompanhamos os vários personagens que compõe a obra sem um ponto de vista principal, que neste caso eu esperava que fosse o da protagonista. Fiquei bem surpresa, mas acostumei depressa e, como disse ali no começo, devorei o livro; não existe outra forma de realizar a leitura. Quando você vê, já acabou.
"As pessoas não mudam nunca! Nós nos esquecemos de nós mesmas. E, quando nos redescobrimos, pensamos que mudamos. Mas isso não é verdade. Não se podem mudar os sonhos, apenas matá-los. E alguns de nós somos assassinos muito bem-sucedidos."
Não é um livro perfeito, e alguns pontos ficaram, em minha opinião, perdidos na trama, como a inserção de algumas características do realismo mágico. Por exemplo, existe aqui uma cena onde a personagem principal consegue afirmar, ao tocar a barriga grávida de uma outra personagem, que o bebê é uma menina. Em outra cena, ela, com suas mãos, consegue trazer calma e uma sensação de bem estar a outro personagem. A autora também introduz na história um pouco de lendas celtas, o que no final acaba tendo uma ligação com a própria protagonista, mas não é explicado.
O livro cumpre o que promete, trás assuntos interessantíssimos para reflexão. O Maravilhoso Bistrô Francês é sobre amizade, tempo; sobre nunca deixar de sonhar, muito menos de correr atrás do que se realmente quer. Nunca é tarde para amar e para recomeços. Vemos tudo isso na dinâmica entre os personagens do livro, a maioria na casa dos 60, nos diálogos calorosos, nos romances e nos afetos. Um livro que aquece o coração.
Não posso escrever nada sobre a edição, pois recebi a cópia não revisada, mas logo logo o livro estará nas livrarias e vocês poderão conferir a obra por si mesmos :)
Acesse o blog para mais informações e fotos do livro:
site:
http://umaleitoravoraz.blogspot.com.br/2017/10/o-maravilhoso-bistro-frances-de-nina.html#more