A Farsa do Neoliberalismo

A Farsa do Neoliberalismo Nelson Werneck Sodré




Resenhas - A Farsa do Neoliberalismo


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Lista de Livros 02/11/2018

Lista de Livros: A Farsa do Neoliberalismo – Nelson Werneck Sodré
Parte I:

“Para o neoliberalismo, o grande inimigo do progresso, ou do desenvolvimento, era o Estado. O Estado era por definição mau gestor, não deveria operar na área em que as empresas privadas operavam, não deveria, de forma alguma, ocupar-se de tarefas que deveriam ser próprias da área privada. Assim, tratava-se, antes de mais nada, de enxugar o Estado, de despojá-lo de empresas que criara em muitos casos por força da incapacidade financeira ou pelo puro desinteresse da área privada. Os serviços públicos que eram, ao tempo da economia colonial, e ao largo da economia dependente, geridos por empresas estrangeiras, as ferrovias que os ingleses construíram, com contratos privilegiados com um século de duração e garantia de juros, toda estrutura econômica que o desenvolvimento material e o processo de urbanização exigiram, e que haviam passado à gestão do Estado, deveriam ser postos em hasta pública e privatizados.
Privatizar, eis a solução para o neoliberalismo. As empresas estatais, surgidas a partir da ruína da estrutura de serviços gerados pelos investimentos estrangeiros, que largamente e secularmente as exploraram, deveriam passar à área privada. E havia, finalmente, que romper o movimento pendular que nos forçara, por exemplo, a aturar e engordar a Light & Power por tantos anos, para depois comprá-la, quando se aproximavam do fim os seus contratos de exploração. Deveríamos voltar a entregá-lo a uma multinacional, e que, agora, aproveitaria dos grandes investimentos que o Estado realizara para transformá-la em entidade apta a prestar serviços. Nesse vai-e-vem de compra e venda, como é fácil deduzir, quem paga é o povo, que, entre outras mazelas, comprou caro e pretende vender barato, nesse tipo de negócio em que o imperialismo se especializou e que o tornou no que é. Lutamos arduamente para convencer os meios políticos de que o Brasil tinha petróleo, porque a ciência estrangeira afirmava positivamente que não tínhamos. Adiante, assumimos os riscos de procurar petróleo quando a “ciência” estrangeira e os chicago-boys da época afirmavam de pés juntos que não dispúnhamos de capitais e só eles, que dispunham de capitais, poderiam enfrentar a tarefa gigantesca dessa prospecção difícil. Acabamos encontrando petróleo e o Estado, uma vez que a iniciativa privada não tinha envergadura para isto, assumiu o risco do investimento. Passaram a afirmar que não dispúnhamos de técnica para a prospecção e eles, que dispunham da técnica, deveriam ser encarregados disso. Criamos ou aprendemos a técnica petrolífera e somos hoje mestres nela. Pois bem, o neoliberalismo quer que entreguemos a empresa petrolífera aqui montada pelo Estado à iniciativa privada, isto é, às multinacionais do ramo. Mas entregar a empresa já pronta, em funcionamento, uma empresa vitoriosa e próspera. Em que, aliás, o Estado não coloca um real, para empregar uma moeda envilecida.
Trata-se, no fim das contas, de passar recibo de nossa pretensa incapacidade, desta incapacidade que os chicago-boys afirmam, com ênfase singular, que é um traço nacional. A ideologia do colonialismo, antes, em velhos tempos, pretendia nos convencer, e convenceu a muitos, principalmente governantes, recrutados numa classe dominante retrógrada e inepta, de que estávamos condenados ao atraso, porque grande parte de nossa força de trabalho era negra e o negro é racialmente inferior; a nos convencer de que jamais poderíamos atingir alto nível de civilização porque vivíamos nos trópicos e a civilização é privativa, segundo eles, dos climas frios. Era moda, ao tempo da vigência triunfal da ideologia do colonialismo, que os nossos credores, aqueles que auferiram lucros prodigiosos com o nosso endividamento, enviassem para cá, para ensinar a esses sauvages de la bas, como diziam os colonialistas franceses, elementos de economia, esclarecendo sempre que não poderíamos gerir senão segundo os princípios que eles adotavam. O último desses financistas, não muito antes do movimento de 1930, deixou um relatório, em que propunha as normas que deveriam presidir a reforma da nossa economia, um relatório que Normano, um dos poucos economistas que entenderam a especificidade do nosso desenvolvimento material, bem qualificou e com rigor como modelo de alienação. Aquele precursor dos chicago-boys era cego para a realidade, mas com uma diferença: ele era inglês e nada tinha conosco, a não ser o fato de estar aqui para servir aos nossos credores externos, então predominantemente ingleses; e os nossos grotescos chicago-boys nasceram no Brasil. Não cometerei a injúria de dizer que são brasileiros.”
*
Mais do blog Lista de Livros em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2018/10/a-farsa-do-neoliberalismo-parte-i_3.html
*
Parte II:

“Como bem sabemos, uma das grandes anomalias da economia brasileira vem sendo o precoce primado do capital financeiro. Esse primado ocorre nas fases de plenitude do desenvolvimento de relações capitalistas, por toda parte. É justamente uma das características dessa plenitude. Entre nós, paradoxalmente, a anomalia começa com o advento tardio dessas relações. O capitalismo, no Brasil, nasceu e vem crescendo na fase justamente de sua crise geral em termos mundiais. Ele chegou atrasado, historicamente. Isso provavelmente está nas raízes da anomalia muito brasileira de predomínio do capital financeiro no conjunto da economia. Chegamos tarde ao capitalismo e cedo ao primado do capital financeiro. Não é preciso ser alguém especialmente observador para constatar como o capital financeiro, entre nós, tem sido o grande beneficiário da nossa crise.”
*
“Esse pretenso moralismo sempre acobertou, entre nós, o reacionarismo mais enrustido. O combate à corrupção, realmente, toca muito fundo a credulidade popular e cria condições para permitir ao candidato mais reacionário exercer com eficiência o seu papel real, que é o de servir bem os interesses dos que promovem a sua candidatura e a sua eleição, inclusive financiando-a.”
*
Mais do blog Lista de Livros em:
https://listadelivros-doney.blogspot.com/2018/10/a-farsa-do-neoliberalismo-parte-ii.html

*
Parte III:

“No Brasil, é fácil lembrar, sempre que repontou qualquer ideia de alteração no regime de obediência silenciosa, absoluta e mansa ao que era determinado pelo imperialismo, mesmo que de dimensão reduzida, recebia a pecha de subversão e a intimidação poderosa de uma força impositiva. Vargas foi deposto e levado ao suicídio porque pretendeu combater a desenfreada remessa de lucros de alguns investimentos estrangeiros, que acabou por denunciar em sua carta-testamento, e por ter permitido a fundação da Petrobrás e da Eletrobrás. João Goulart foi deposto tão simplesmente porque acenou com as chamadas “reformas de base”. Isto para só mencionar dois exemplos clamorosos e bem conhecidos. Todos sabem que a defesa dos interesses nacionais foi, no Brasil, tenazmente perseguida e o nacionalismo confundido como subversão para os fins da mais severa e criminosa repressão. A defesa dos interesses nacionais foi, no Brasil e não só aqui, colocada como crime, punível pela legislação, enquanto a submissão às imposições americanalhadas se constituía em mérito.”
*
Mais do blog Lista de Livros em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com/2018/10/a-farsa-do-neoliberalismo-parte-iii.html
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR