José Eduardo 08/07/2021
Poético
Impressionou-me a avaliação aquém do meu sentimento pessoal conferida a essa obra. Já nas primeiras páginas senti-me atraído pela linguagem bela e pela história que se desenhava. Não sou de ler contos de fada e, se comecei a leitura deste livro, foi por não ter lido nada a seu respeito quando o achei, apressadamente, nas prateleiras da Barnes & Noble, em 2018, tampouco quando o escolhi entre outros livros da minha estante, por ocasião da viagem na qual celebrei dez anos de casado. Ao final e ao cabo, o acaso levou-me a ler o livro nesse momento especial de minha vida, quando, creio, meu romantismo, então adormecido, aflorou-se.
Não darei spoiler. Apenas antecipo que a história corre no mundo real, o que a torna ainda mais incrível. Como ressalta o autor, "The events that follow transpired many years ago. Queen Victoria was on the throne of England, but she was not yet the black-clad widow of Windsor (...) Mr. Charles Dickens was serializing his novel Oliver Twist; Mr. Draper had just taken the first photograph of the moon, freezing her pale face on cold paper; Mr. Morse had recently announced a way of transmitting messages down metal wires. Had you mentioned magic or Faerie to any of them, they would have smiled at you disdainfully, except, perhaps, for Mr. Dickens, at the time a young man, and beardless. He would have looked at you wistfully". E eis que o nome do primeiro personagem nos é apresentado: "At that time Dustan Thorn was eighteen, and he was not a romantic". Como constou das primeiras linhas da história: "There was once a young man who wished to gain his Heart's Desire".
Mas se poderia dizer que outro personagem da história já havia sido apresentado. "The tale started, as many tales have started, in Wall". O conto nasce em Wall, que serve como paralelo entre o mundo real e Faerie. Wall, de certo modo, parece um personagem por si mesmo, e, espero, pode vir a contribuir com outros livros do autor.
Em uma feira que ocorre a cada nove anos, onde o mundo encantado se aproxima dos muros de Wall, Dustan recebe em pagamento pela estadia de seu não usual inquilino um presente "that will last as long as I live", "Your Heart's Desire". E em seguida ocorre aquilo que dará vida à história do autor.
A narrativa que se segue é extraordinária, criativa, fantástica e poética. Eu, particularmente, senti-me transportado para Wall, sentado ao lado do narrador, a torcer pelo protagonista, ou indignar-me com ele. E ingressei em Faerie, ainda a seu lado, deslumbrado pelo universo desenhado pelo autor. Nas várias pausas, contava à minha esposa, com os olhos a brilhar de satisfação, o quanto estava encantado pela forma como Neil Gaiman traçava, a cada linha, a mágica história de Tristran Thorn e de Yvaine. Tamanho meu apego que, ao alcançar as últimas páginas do livro, passei a evitá-lo. Não queria que a história tivesse um fim e sentia com pesar que o autor também não tivera outra opção, senão entregá-lo a seus leitores.
Lida a última linha, só me resta torcer para que o autor decida revisitar Wall e Faerie.