Samara 13/04/2024Outubro de 2017. É o que está escrito na capa da revista da Tag Experiências Literárias que veio junto com esta edição de "As alegrias da maternidade", de Buchi Emecheta, e é desde esta data que o livro estava lá, na minha estante, esperando ser lido. Hoje eu me pergunto porque demorei tanto para fazê-lo.
"As alegrias da maternidade" conta a história de Nnu Ego, uma mulher que nasceu no início do século XX e presenciou as mudanças que a Nigéria sofreu ao longo dos anos. Nnu Ego é filha de um chefe muito rico, Agbadi, e de sua favorita (e orgulhosa) amante Ona. Infelizmente, Ona morreu no parto, o que fez com que Nnu Ego fosse criada pelo pai e recebesse uma educação tradicional.
Nnu Ego então cresceu acreditando que só teria valor se se casasse e tivesse um filho homem, pois homens sustentam seus pais quando crescem, enquanto filhas só servem se conseguirem um bom dote do noivo.
E é contando a história de Nnu Ego que Buchi Emecheta nos mostra um pouco dos costumes, das tradições e crenças dos nigerianos antes e durante a colonização inglesa, assim como conta como esta mesma colonização e consequentemente a Segunda Guerra Mundial afetaram as pessoas que ali viviam.
A narradora do livro (que não é uma personagem, mas com certeza é uma mulher) narra naturalmente o que acontece com Nnu Ego, a princípio sem tecer comentários julgando as tradições de uma cultura tão patriarcal, apenas mostrando como esta cultura afetou nossa heroína para que nós julguemos, e aos poucos a narradora vai se tornando mais presente ao ponto de no fim rezar por Nnu Ego, querendo que ela não sofra.
A trajetória da protagonista também tem um arco. No início, ela não questiona a cultura patriarcal mesmo sendo vítima dela, e até passa as mesmas crenças para seus filhos e filhas, aos poucos ela vai se transformando, mas não deixando de ser uma mulher real, com qualidades e defeitos.
"As alegrias da maternidade" é um livro maestral. Eu, que sou muito crítica com minhas leituras, às vezes pensava "ah, podia ter isso ou aquilo para ser melhor", e daqui a pouco Emecheta me presenteava com o que eu esperava, mostrando que sabia muito bem como contar a história que criara.
Assim, terminei o livro pensando que demorei demais para começar a sua leitura, e que quero ler todos os livros da autora agora.