ViagensdePapel 28/08/2017
Os excluídos da história é um clássico em termos de historiografia. Publicado no Brasil inicialmente em 1988, a obra de Michelle Perrot apresenta uma proposta pouco usual no período, ao tratar de setores da sociedade ditos menores, logo, sem o direito de serem considerados parte da história. São eles as mulheres, os operários e prisioneiros. Antes mesmo da publicação da obra, Michelle Perrot já escrevera artigos acadêmicos sobre tais personagens, demonstrando assim, um grande interesse na temática.
Não quer dizer que operários, mulheres e prisioneiros já não fizessem parte da história. Pelo contrário, até faziam. O problema é você dar protagonismo a eles. Uma coisa é você escrever uma história de uma fábrica sob o ponto de vista do patrão e da produção. Outra coisa é você propor a mesma história, mas dando voz aos operários e às relações destes com o patrão e o sistema imposto. Da mesma forma com os outros dois grupos. E é essa a proposta do livro de Perrot.
O livro é dividido em três partes, respectivamente a cada grupo, sendo elas constituídas por artigos. De maneira geral, a autora aborda os personagens na França do século XIX, detendo-se em pontos específicos, que possibilitam ter uma dimensão mais ampla. Procura trazer práticas do cotidiano, possíveis pensamentos correntes e visões de mundo. Por exemplo, a parte destinada às mulheres faz uma retrospectiva de todo um imaginário em torno da figura feminina e como ele foi construído ao longo do tempo. Pontos como a questão da exclusão delas na sociedade e o papel numa relação matrimonial são abordados no livro.
Algo que fiquei pensando durante a leitura foi a construção narrativa do texto diante das fontes disponíveis. Afinal, trazer tais personagens para um protagonismo é grande esforço, ainda mais quando as fontes podem ter uma visão diferente do que se quer propor. Por exemplo, retomando a questão feminina, durante muito tempo via-se a mulher como a devastadora das rotinas familiares e da ordem burguesa, em alguns casos como louca e histérica. Isso era tido como verdade uma vez que havia material que comprovava aquilo. Mas como perceber que tudo isso era uma construção? Aí entra o esforço da historiadora em fazer uma leitura crítica, tentando enquadrar tais pensamentos em determinado período e mostrar outro lado da história. Michelle Perrot narra, numa das partes mais legais do livro, a questão das mulheres lavradeiras e a sociabilidade ali presente. É algo que provavelmente não se tem fonte falando sobre, mas a partir de um esforço maior acaba trazendo isso a tona.
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