Isabella.Wenderros 15/07/2021Já quero reler.Imagino que todos conheçam a lenda do Rei Arthur, sua Távola Redonda e a famosa Excalibur. Existem diversas versões, antigas e atuais, da mesma história. Então, a ideia de escrever sobre esse assunto pode não ter sido inovadora, mas Marion surpreendeu quando decidiu trazer para o foco da narrativa as mulheres que sempre estão presentes, mas nunca como protagonistas. Lançado originalmente em 1979, As Brumas de Avalon logo figurou na lista dos mais vendidos e conquista leitores há mais de 40 anos.
A editora Planeta colocou em um único volume os 4 livros do que ficou conhecido como o Primeiro Ciclo de Avalon: A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro no Carvalho.
Ao longo de quase mil páginas, muitas coisas acontecem, tecendo a vida de personagens marcantes ao pano de fundo místico e complexo de uma Bretanha marcada por invasões, a chegada do cristianismo e a luta de algumas pessoas para preservarem as tradições antigas. Arthur, Gwenhwyfar, Lancelote, Viviane e Morgana são o núcleo de praticamente todas as interpretações, mas aqui existem muitos outros que vão entrando e saindo de cena, participando ou desencadeando eventos que podem mudar o curso da narrativa. Apesar disso, para mim, o protagonismo dessa obra é de Morgana: ela está presente desde o 1º capítulo ainda como criança, caminha por todos os períodos desse ciclo – mesmo quando não está fisicamente presente, habita os pensamentos do atual narrador –, e perdura além do final de O Prisioneiro de Carvalho. A ilha de Avalon também é quase algo vivo, de onde vários acontecimentos partem ou onde terminam. Nas primeiras páginas, sua influência é grande o suficiente para escolher quem se sentará no trono; conforme o cristianismo avança, esse poder começa a diminuir, mas continua sendo a orientação daqueles que ainda acreditam na Deusa e lutam para que suas crenças sejam respeitadas.
Outro alvo que Marion coloca em sua história é o progresso do cristianismo, que começou como uma religião que conviva pacificamente com as outras que já existiam na região – druidas e padres rezavam juntos e trocavam conhecimentos. Isso muda conforme os sacerdotes passam a desejar mais poder e suprimir qualquer tipo de culto á outras divindades, qualquer atividade considerada pagã e pregar o Deus único e imortal de sua própria fé. As mulheres sábias e fortes de Avalon, que eram consideradas conselheiras valorosas, começam a serem vistas como bruxas; os druidas, como enviados de Satã e a própria ilha como a moradia do diabo. À medida que essa doutrina ganha força, as brumas vão se espessando e afastando cada vez mais Avalon do mundo humano.
Foram meses lendo As Brumas de Avalon, acompanhando personagens que são quase palpáveis em sua humanidade, onde a autora não passa a mão na cabeça de ninguém. Gostei de vários e de todos, foi Gwenhwyfar e sua hipocrisia quem mais me cansou, apesar de entender seus motivos. Acompanhar Morgana da infância até a velhice foi envolvente, mesmo quando ela se perde um pouco com seus planos nos capítulos finais. Tive um ritmo de leitura diferente em cada um dos 4 livros, mas todos valeram a pena. Eu fui tomada por essa obra e Marion realmente me ganhou.