Evasivas Admiráveis

Evasivas Admiráveis Theodore Dalrymple




Resenhas - Evasivas Admiráveis


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Paulo 31/10/2023

Mais literatura, menos psicologia
Um livrinho pequeno com 11 ensaios críticos à psicologia, uma onda inútil e superficial segundo o autor, mais mordaz do que nunca. Todas as diversas correntes da psicologia, no fundo, pretendem o mesmo: afrouxar o senso de responsabilidade do homem para com as próprias ações.
Embora admita que a TCC (terapia cognitiva-comportamental) pode ser benéfica em alguns casos de obsessões ou depressão moderada, o autor diz que ela é superestimada por muitos como uma panaceia para a grande maioria dos males da humanidade.
O sistema de seguridade social é severamente criticado por pretender tratar os transtornos psicológicos como doenças físicas. Por meio dele, o governo cria uma nova classe de dependentes e reduz artificialmente a taxa de desemprego. Afinal, uma pessoa doente não está desempregada, está doente.
O autor também critica a moderna tendência de justificar a conduta humana em razão de supostos desequilíbrios químicos do cérebro, que são tratados com inibidores de serotonina. Houve um afrouxamento do diagnóstico de depressão para abranger todas as formas de infelicidade humana, de maneira que hoje poucos admitem ser infelizes e não deprimidos.
Ao invés da psicologia, Dalrymple indica a literatura como ajuda para o verdadeiro autoconhecimento humano e cita Shakespeare e Samuel Johnson.
Ao final, o autor reafirma a dimensão inerentemente trágica da condição humana, a qual a psicologia pretende negar e ocultar com o verniz da ciência.
Um dos melhores livros do autor. Cada ensaio é precioso.
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skuser02844 07/10/2023

"Se a psicanálise tivesse sido invetada pelos homens das cavernas, ainda estaríamos vivendo nas cavernas"
Theodore Dalrymple, ou melhor, Anthony Daniels, que é o verdadeiro nome do autor, é uma das pessoas mais inteligentes e sensatas que já soube da existência. Ele é um médico psiquiatra, então ele sabe muito bem o que vai falar nesse livro que é curtíssimo, mas gigante em conteúdo.
Aqui o autor vai criticar a psicanálise e apontar todos os problemas presentes nos tratamentos usuais, em especial ao constante discurso sobre auto aceitação e comodismo que é a base da terapia.
Não que ele ache ou diga que tratamentos psicológicos são desnecessários ou algo do tipo, muito pelo contrário, mas ele vai mostrar que muitas vezes esse tratamento é mais uma massagem para o ego do que um tratamento, no sentido restrito da palavra.
Um dos maiores problemas atuais é a teoria de que a verdade é subjetiva e o que eu acho e sinto é mais importante do que a realidade, então balelas como siga o se coração e faça o que te faz feliz vão levando a humanidade cada vez mais para o fundo do poço, e é justamente isso que ele vai criticar aqui.
Já passou da hora de a psicologia fazer com que as pessoas assumam suas responsabilidades, saim da zona de conforto, reneguem o conformismo e enfrentem a realidade.

site: https://hiattos.blogspot.com/2023/08/opiniao-evasivas-admiraveis-theodore.html
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Amanda 07/02/2023

O autor realmente parece ter escrevido este livro em um momento de raiva.
Ele julga toda a psicologia e o behaviorismo, é bem raso o livro quando ele vai falar sobre.
Freud trabalhava com teoria e prática, estudando e atendendo pacientes, as ideias dele podem não estar totalmente corretas mas não é motivo para desvalorizar todo o trabalho dele e de outros psicólogos/psiquiatras, acho muita prepotência falar que se sumisse a psicologia não iria mudar nada em nossa sociedade.
Além das outras críticas rasas.
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fabio.ribas.7 31/01/2023

Evasivas admiráveis
A culpa precisa ser de algo que não esteja sobre o meu controle: as estrelas, a neuroquímica, o ?outro? dentro de mim, vozes fora de mim ou um gene enlouquecido. Tudo isso transfere responsabilidade e nenhuma comprovação tem de fato. Como o próprio título do livro diz, são ?evasivas admiráveis?.

Como funcionam aqueles scanners de mapear cérebros? Se eu penso ou vejo uma imagem da minha mãe e a luz se acende, então aquela é a região responsável pelas emoções. E se um scanner for usado como prova de que uma parte do meu cérebro não poderia me controlar diante do meu crime, assim, a culpa é daquela parte do cérebro. Posso ser absolvido? Haverá atenuantes? E se pessoas que cometem crimes, essas máquinas revelarem que a parte de seus cérebros atribuídas a esses crimes está danificado ? uma luz não se acendeu ? então poderíamos segregar todas as pessoas que apresentassem isso?

No fim, Deus é o problema. O que os cientistas querem é explicar o inexplicável, mesmo que suas explicações sejam mera ilusão. Vocês acreditam que o Trivers, no prefácio de seu ?O gene egoísta?, dedica seu livro ao líder do grupo revolucionário Panteras negras! Realmente, no fim de tudo, é tudo uma guerra de religiões, um conflito de cosmovisões, sistemas de crenças na arena pública e privada: todos contra o Cristianismo. E Theodore Dalrymple faz questão de desmascarar essas ?evasivas admiráveis? dos neodarwinistas. Se agarram a explicações, mesmo que essas sejam absurdas.
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Gab 10/01/2023

A Psicologia em Pauta
EM EVASIVAS ADMIRÁVEIS, THEODORE DALRYMPLE EXPLICA POR QUE A AUTOCOMPREENSÃO HUMANA NÃO FOI
MELHORADA PELAS FALSAS PROMESSAS DAS DIFERENTES ESCOLAS DE PENSAMENTO PSICOLÓGICO. A MAIORIA DAS EXPLICAÇÕES PSICOLÓGICAS DO COMPORTAMENTO HUMANO NÃO SÃO APENAS EXCESSIVAS SIMPLIFICAÇÕES RIDICULAMENTE INADEQUADAS, MAS SOCIALMENTE NOCIVAS NA MEDIDA EM QUE PERMITEM QUE AQUELES QUE ACREDITAM NELAS FUJAM DA RESPONSABILIDADE PESSOAL POR SUAS ACÕES E CULPEM UMA MULTIDÃO DE BODES EXPIATÓRIOS.
DALRYMPLE REVELA COMO AS ESCOLAS MODERNAS DE PSICANÁLISE, BEHAVIORISMO, NEUROCIÊNCIA MODERNA E PSICOLOGIA EVOLUTIVA IMPEDEM O TIPO DE AUTOEXAME HONESTO NECESSÁRIO PARA A FORMAÇÃO DO CARA-TER HUMANO. EM VEZ DISSO, ELES PROMOVEM A AUTO-
-OBSESSÃO SEM AUTOEXAME E O EXCESSIVO USO DE MEDICAMENTOS QUE AFETAM A MENTE.
EVASIVAS ADMIRÁVEIS SUGERE QUE A LITERATURA É UMA JANELA MUITO MAIS ILUMINADORA PARA A CONDICÃO
HUMANA DO QUE A PSICOLOGIA JULGA SER.

?Isso me remete ao que diz Edmundo, filho malévolo e ardiloso do Conde de Gloucester, em Rei Lear:

Eis a sublime estupidez do mundo; quando nossa fortuna está abalada
- muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos culpamos o Sol, a Lua e as estrelas pelos nossos desastres;
como se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por influência celeste;
escroques, ladrões e traidores por comando do zodíaco;
bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obediência a determinações dos planetas;
como se toda a perversidade que há em nós fosse pura instigação divina.?
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Lucas.Correa 31/12/2022

Bom, mas insuficiente.
O grande problema desse livro é o pequeno número de páginas. Os pontos defendidos no livro são interessantes, mas parece que são apenas "jogados", sem uma argumentação maior. Há algumas coisas que para mim pareceram tão óbvias após a leitura, mas que para outra pessoa, devido ao seu repertório socio-cultural, parecerá no mínimo estranho.

Há afirmações neste livro que carecem de fontes e/ou de explicação, o que deixa-o subaproveitado em alguns momentos.

É um livro bacana, traz muitas verdades importantes e pouco faladas dentro da Psicologia, mas ele deveria ter no mínimo o dobro de páginas para desenvolver as ideias.
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almeidalewis 17/12/2022

Opinião
DALRYMPLE Faz uma crítica a cerca que a compreensão de si mesmo não foi melhorada pelas escolas de psicologia e psicanálise ao invés disso elas podem até impedir o autoexame dificultando assim uma analise honesta de si mesmo que ele considera muito necessário a formação do caráter humano. Dalrymple considera que as psicologias vêm os comportamentos de maneira bem simplificada, inadequadas e também as vê como nocivas na medida que os que acreditam nelas não assumam responsabilidade pessoal por suas maneiras de agir e procuram colocar e ou responsabilizar os outros ( bodes expiatórios )

....essa é a opinião do psiquiatra THEODORE DALRYMPLE nessa sua obra.

Em 17de dezembro 2022, Alexsandro.
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Mandy Nerújo 06/12/2022

Esclarecedor
Esse livrinho, super curto, explica muitos dos problemas que vemos na sociedade atual. Pessoas 100% capazes de assumir responsabilidades pelos seus atos se esquivando deles com essas evasivas admiráveis respaldadas e frisadas pela psicologia moderna.

Nesse desabafo, digamos assim, do autor Theodore Dalrymple (que também é um psicólogo) vemos o quanto a psicologia respalda atos que são imorais, infantis e até vergonhosos sem nenhuma base de verdade ou realidade nesses "diagnósticos".

E mesmo que seja explicado isso a todas as pessoas que pudermos, ainda assim, pela forma maçante que se propagaram essas idéias pela mídia e livros, as pessoas não entenderiam o que o autor se propôs a explicar, seja por falta de conhecimento, seja por mau-caratismo mesmo.

Claro, somos todos humanos, é muito mais fácil para nós deixar a culpa dos nossos atos, ou falta deles, para alguma doença, vício ou condição psicológica do que nos comprometermos 100% com a responsabilidade e moralidade que deveríamos ter na nossa vida. Adoramos culpar o meio ao invés de nós mesmos. E, não desmerecendo os psicólogos e psiquiatras sérios, mas existe um vasto segmento da psicologia que estuda bobagens que não provam nada, que correm atrás do rabo, e que só existe para retirar do ser humano a culpa das suas mazelas e fracassos.

Já é sabido hoje em dia, que a depressão, a maioria esmagadora dos casos, não é "curável" através dos remédios antidepressivos porque a "doença" não é simplesmente falta de serotonina no cérebro. Isso não é o autor quem diz, foram estudos, não só desse ano 2022, mas estudos muito mais antigos. Isso mostra que nem tudo que nós passamos e vivemos é explicável pela medicina moderna, nem os médicos entendem o mecanismos. O que o autor diz é que não se pode classificar isso massivamente e diagnosticar qualquer desordem como isso ou aquilo.

Enfim, eu achei esse livrinho muito interessante, eu recomendo e acho que todos que seriamente lerem esses capítulos vão entender a causa de tantos problemas na sociedade atual.
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Clio0 09/05/2022

Esse livro parece ter sido escrito num momento de raiva. Como se todo o desgosto que o autor sente por justificativas (que ele nomeia como evasivas) fosse destilado nas frases mais mordazes possíveis, em que o desprezo jorra a cada parágrafo.

O título não coloca exatamente o dimensionamento da obra. Teria sido melhor usar algo parecido com "Como a Psicologia é usada para denegrir a Moralidade".

Não foi exatamente o objetivo do autor rebaixar a Psicologia como ciência... não que não haja numerosas alusões, alfinetadas e menções sobre o fato de que a Psicologia não é considerada, per se, ciência. Mas sim como as diferentes Escola de Pensamento criaram uma cultura de "justificativa/desculpa" que o sistema penal/social não pode absorver (ou absolver) dentro de uma sociedade.

Cada capítulo define como as abordagens de "teorias" psicológicas foram moldadas para criar uma noção ideal do "Eu". Assim, nas palavras do autor a população aderiu a ideia de que o "eu-real" é o eu "dopado", "não-institucionalizado", "condicionado", "não-traumatizado", "talvez-educado", etc.

É uma contra argumentação interessante acerca da formação do individuo.
Peter.AraAjo 18/01/2023minha estante
Não sou da área e me interessei pelo autor por razões políticas. Estou no capítulo 4 do livro e tenho exatamente essa mesma impressão: o autor parecia estar com bastante raiva de seus colegas e das "ciências da mente". ?




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Vinícius 05/12/2021

A psicologia subversiva
A psicologia e psicanálise são parte do foco do livro. O psiquiatra Anthony Daniels que usa o pseudônimo de Theodore Dalryple, mergulha a princípio na psicanálise freudiana e seus métodos de estudo controversos utilizando pacientes e familiares, as distorções causadas nos últimos anos nas abordagens da autoestima, testes neurológicos famosos que fizeram de pessoas comuns, potenciais torturadores sem escrúpulos, dentre comentários sobre o uso dos anti-depressivos que agem na serotonina e noradrenalina, avaliando a real necessidade destes em casos não tão complexos. Livro interessante para que trabalha na área de psicologia e psiquiatria.
Roberta 13/12/2021minha estante
Ótima dica!


Vinícius 13/12/2021minha estante
??




Marcella.Pimenta 30/09/2021

Ninguém explica o homem, nem a psicologia
Não é necessário conhecimentos prévios sobre as teorias da psicologia para compreender o que Dalrymple quer nos dizer.

Parte das ideias deste livro você encontra em outras obras dele, como "Podres de Mimados". A diferença é que aqui o autor defende que a psicologia ajuda o ser humano a criar desculpas para os seus problemas, evitando responsabilizar-se.

O cérebro, a genética, as condições sociais ou qualquer outra corrente científica, sozinha, não explica porque o indivíduo é como é.

Enquanto a psicologia se deixar levar pelo sentimentalismo e pelo que o paciente quer ouvir, não o ajudará.
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Danilo Andrade 23/06/2021

Ironicamente evasivo
Primeiramente, parabéns ao escritor e editores, por habilidosamente elaborarem um título que aparenta, em toda sua contundência, ruir com todo o arcabouço teórico da psicologia, construido e reavaliado por séculos, em pouco mais de cem páginas. Confesso que me enredei facilmente pelo chamariz do título, e devorei cada parágrafo do livro com intensidade jamais vista, esperando encontrar a tal moralidade que seria subvertida, e a tal "psicologia" que não valia uma patavina.

A frustração veio acompanhada de uma importante lição de exercício interpretativo, onde levar em consideração a intenção do autor em suas críticas, é de suma importância para delinear suas incongruências, visto que sua forma de tece-las baseia-se na hipersimplificação de conceitos e extrapolação para todas as demais áreas da psicologia, que ele insiste em agrupa-las como sendo homogêneas, ou seja, a sua intenção é a mesma de um piromaníaco numa loja de fogos de artíficio, movido pelo prazer de vê-la em chamas, e somente.

Algo que me impactou negativamente durante a leitura, foi o uso recorrente de argumentos ad hominem com a intenção de desqualificar pensamentos, teorias, ideias, usando exemplos pessoais que nada corroboram para uma análise honesta, o que demonstra inabilidade ou falta de consideração em estruturar suas críticas de forma responsável e sustentável.

Em meio à muitos acessos de raiva, o autor procura expor sua insatisfação em relação à forma nociva que alguns conceitos psicológicos são aplicados e capilarizados na forma de agir dos indivíduos em relação ao autoconhecimento, e na busca pela harmonia entre seus elementos psíquicos, o que é válido, em contextos recentes, de constante reforço da positividade, da fuga de responsabilidades, do investimento massivo em "receitas para a felicidade", que irremediavelmente conduzem indivíduos à condições mentais insalutíferas, com o bombardeamento de informações que o Zeitgeist atual se incumbe... entretanto, feito de forma simplória e reacionária, o que torna a obra pouco contundente na profundidade de suas considerações, visto que aborda a psicologia sem suas nuances e acaloradas divergências, presentes, muitas das vezes, nas mesmas correntes teóricas.

Esperava descritivas acerca da moralidade que ele busca conservar, e que a psicologia tende à destruir e subverter, mas me pareceu evasivo a falta deste tópico no livro.

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Roberto Soares 06/06/2021

Pode propor uma boa reflexão, mas com uma base seriamente pobre
Ou "Falácias Admiráveis: como Theodore Dalrymple subverte a Psicologia".

O autor parece compartilhar da ideia de que o homem moral é aquele que toma totalmente para si a responsabilidade por sua própria condição e ações, sem se esquivar "culpando as estrelas", como Edmundo denuncia em "Rei Lear". Com isso, entendo que o que ele chama de subversão à moralidade são certos discursos cada vez mais propagados que fazem um mal-uso de conceitos das psicologias para afrouxar a responsabilidade dos sujeitos com as próprias condições e comportamentos.
Seria uma discussão extremamente pertinente e rica, se o autor não a tivesse construído sobre uma base tão porca. Discordo de grande parte das visões de Dalrymple, mas ainda assim sou leitor constante de sua obra, pois sua vasta experiência sempre traz reflexões muito oportunas para minha atuação pessoal e profissional. Acho importantíssimo consumirmos materiais com opiniões e teses que diferem das nossas (por isso adquiri o livro), porém também acredito que toda opinião e tese deve estar baseada em argumentos sólidos, ou pelo menos sensatos, e não é o que acontece aqui. "Evasivas Admiráveis" realmente me decepcionou pela frustrante exibição de falta de conhecimento efetivo do autor no assunto que ele se propôs a discutir de maneira tão veemente (e desrespeitosa): a saber, as psicologias, usando críticas reducionistas, falaciosas e sem nenhuma fonte registrada para desmoralizar meia-dúzia de escolas da área, acreditando assim invalidar toda essa complexa ciência que possui dezenas de correntes diferentes.
Porém uma reflexão (talvez a única) que o livro suscitou em mim é em como certos termos psicológicos, como ansiedade, depressão, gatilho, etc., vêm se tornando cada vez mais popularizados, em especial nas redes sociais, de forma, a meu ver, simplista e irresponsável. Acho impossível negar que há um fenômeno de patologização das frustrações cotidianas inerentes à existência humana, mesmo as mais comuns. O mal-estar que tais frustrações causa é rápida e levianamente rotulado como manifestação de sofrimento mental e tratado como tal, e um sujeito de má-fé (ou "devassidão", conforme citado por Dalrymple da peça de Shakespeare) pode rapidamente usar desse diagnóstico, muitas vezes autoimbuído, para se evadir de tomar decisões e se haver com sua parcela de responsabilidade tanto por ter chegado na situação em que se encontra, quanto na de sair dela. Como uma evasiva cômoda para não ter de lidar com a angústia e a falta que tais escolhas e responsabilidades podem trazer, eu digo "Não sou eu, é minha ansiedade, e ela apenas, quem me impede de finalizar projetos, ter um emprego e me alimentar bem; por causa dela sou assim e sempre serei." Nem preciso discorrer sobre o perigo dessa forma de encarar a vida, principalmente quando se trata de crianças (o que o próprio Dalrymple ilustra bem em seu livro "Podre de Mimados")
Muitas vezes, estes discursos patologizantes são encorajados por profissionais da psicologia, que fazendo, como eu disse, um mal-uso de termos e teorias da área, parecem cair no modismo e propagar uma certa guerra à frustração, ao invés do reconhecimento da sua inexorabilidade e seu papel na vida humana.
Em outros casos, grande parte destes discursos pregam que a satisfação de todos os desejos individuais deve ser alcançada em nome da saúde mental própria e coletiva, e que se algo surge como um obstáculo ou crítica ao meu desejo de realizar todos os meus impulsos, este algo deve ser encarado com uma ameaça intolerante à minha liberdade de expressão e de "ser eu mesmo".
Logo, as condições básicas para uma vida civilizada, o pensamento coletivo e o controle dos impulsos, caem por terra sobre o peso do politicamente correto e da felicidade total como um direito inalienável.
Julgo que não é preciso, claro, expor aqui o óbvio: de que as configurações externas da vida humana hoje, em especial neste período de pandemia, sejam sim um cenário potencializador de sofrimento mental. Também defendo que toda essa reflexão deve ser encarada com bastante responsabilidade e discernimento, para não tornar "vitimismo" as manifestações genuínas do transtorno mental de um indivíduo e sua conscientização, bem como as reivindicações de certos grupos pelo respeito e a livre expressão de suas identidades individuais.
Porém também devemos nos atentar a não encarar como sintomas de adoecimento em si aquelas angústias e sofrimentos regulares que fazem parte da existência humana. Claro, acolhendo-os em nossos consultórios e dando ao sujeito todo o suporte para que consiga sair dessa situação, mas sem perder de vista os aspectos que distinguem estes sofrimentos daqueles realmente frutos de um quadro de transtorno mental grave (por exemplo, o "estar deprimido" não é o mesmo que "estar com depressão", etc.).
Entretanto, como escreveu o próprio Dalrymple, "é claro que se pode dizer que a deformação popular de uma ideia ou prática não invalida a ideia ou prática." Pena que o autor não seguiu a própria sugestão.
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Alan kleber 14/04/2021

Nesse livro Dalrymple escreve sobre como a psicanálise está mais no campo da superstição do que no campo da ciência. E como várias correntes psicológicas que surgiram ao longo das épocas pioraram ao invés de ajudar a compreensão do homem sobre si mesmo, dando explicações falsas pra diversos comportamentos, atitudes, e formas de pensar equivocadas dos pacientes. Falhas de caráter são consideradas doenças, e assim precisam de tratamento e de remédios pra subverte-las, criando o consumo indiscrimindo de medicamentos.
A idéia do eu, do ego, da auto-estima, são formas de subverter a moralidade.
Mas Dalrymple não é contra a psicologia quando usada pra tratar coisas específicas como os transtornos de ansiedade e a depressão severa, ele critica quando a psicologia virá tratamento para o trivial.

" O behaviorismo era um sintoma da perpétua impaciência metafísica do homem.?
?Qualquer pessoa com acesso à internet, cuidado e determinação pode simular muitas das chamadas neuroses.?
" De acordo com os modos mais tradicionais de pensamento, aprender a se perdoar é aprender a agir sem escrúpulos, como forçar o próprio rumo sem se importar com as outras pessoas, como ? de fato ? se tornar um psicopata. Aliás, o multiculturalismo tem a mesma consequência lógica.?
?Ninguém pode dizer que qualquer conquista humana foi fruto da autoestima. Uma boa dose de dúvida sobre si mesmo é bem mais conducente (mas não suficiente) para tal conquista.?
" Faço aqui uma mera observação: pessoas muito ruins estão cheias de autoestima; criminosos famosos, por exemplo que se orgulham de seus feitos. Autoestima do mal é arrepiante.?
"Os rumores de grandes avanços na compreensão logo vazaram para a população geral, que desenvolveu grande apetite por drogas de autoajuda.?
" Creio que não há necessidade de apontarmos novamente a conveniência de uma hipótese de infelicidade e conduta indesejável para aqueles que buscam ?responsabilizar uma estrela por sua devassidão?. Em outras palavras, não sou eu, são meus meus transmissores.?

" Isso tudo é tão absurdo que nem precisa ou merece ser refutado. Mas podemos facilmente enxergar que esse tipo de baboseira, com sua cortina de fumaça de elaboração e sofisticação, serve para diminuir as dores da responsabilidade do homem sobre si mesmo de maneira individual e coletiva.?
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