Luan 12/05/2020
Mar e sol
1969, a família Faldérault se prepara para sua viagem de verão ? atrasada em alguns dias por conta da arte-finalização de Pierre, assistente de gibis do personagem Zagor.
A construção de Zidrou nesse roteiro é paradisíaca. A começar pelos personagens: Vovô buelo, pai de Pierre, espanhol exilado na Bélgica por conta da ditadura Franquista e que apanha com o idioma local e proíbe seus filhos de pisarem na Espanha enquanto Franco estiver no poder. Temos também o casal Rufus e Ramona e seu pomar "invadido" por esses belgas viajantes. Esses simpáticos velhinhos, com suas preciosas sugestões, irão influenciar o destino o próximo destino da viagem. Seria injusto não mencionar nesse programa a ilustre presença de Marius, irmão de Rufus e vice-versa.
É incrível como essa leitura enriqueceu a experiência do volume anteiror? em Rumo ao Sul, primeiro exemplar da série, temos a viagem feita em 1973, nela, os momentos de outras viagens são citados. Já em Calanque, vemos esses momentos citados acontecendo, ou seja: temos a experiência contemplativa dos acontecimentos, em tempo real, que viriam a ser essas memórias relatadas. Impossível não ler o volume dois sem revistar o primeiro.
A maneira como Zidrou brinca com a concepção de tempo e narrativa parece simples, mas é muito sofisticada e permite ao leitor outras formas de leituras, como por exemplo, ler cronologicamente; aqui, em 1969, Paulette, a Pepete, ainda não existe, Louis tem uns 4 anos, Nicole 7 e Julie em torno de 10. Já em 1973, a Paulette tem de uns 3, Louis 8, Nicole 11 e Julie 14. É muito legal ver essa transformação mostrada de maneira divertida, pois a mentalidade e persona das crianças são diferentes com o passar do tempo. A arte(espetacular!)de Jordi intensifica essa percepção e é muito útil, pois ao longo do livro a idade dos filhos não é revalada e cabe a nós pescar informações implícitas e ficar atento quanto aos detalhes. Dão verossimilhança à trama os registros Históricos inseridos em contexto, como a primeira vez em que o homem foi à Lua, em 1969, no dia 20 de julho, em paralelo à viagem familiar de Madô, seu esposo e filhos.
Uma leitura alternativa, invertendo a ordem dos volumes, não afeta em nada o entendimento, mas muda a experiência.