spoiler visualizarSaulo.Fragoso 28/01/2024
Uhtred nasceu como o segundo filho de um ealdorman (um título que designava oficiais de alta posição da coroa que exerciam funções judiciais, administrativas e militares e que, mais tarde, tornou-se sinônimo de conde) da Nortúmbria, mas, numa rápida sucessão de acontecimentos, perdeu o irmão mais velho, tornando-se, então, o herdeiro, e o pai. No entanto, as coisas não acontecem como deveriam e no mesmo dia em que seu genitor é morto, ele é levado pelo homem que o assassinou, um líder viking chamado Ragnar, o Intrépido, que, diferentemente do esperado, acaba se tornando um verdadeiro pai para ele e o moldando à sua imagem e semelhança (um guerreiro pagão), motivo pelo qual, mais tarde, entre outros nomes, ele torna-se conhecido como Uhtred Ragnarson; ao mesmo tempo, ele tem seu título e suas terras usurpados pelo tio que planeja assassiná-lo. A partir daí, acompanhamos sua jornada em busca de recuperar aquilo que lhe foi roubado e se vingar do homem que fez isso e, enquanto isso, testemunhamos em primeira mão a luta dos anglo-saxões para recuperar o controle dos reinos cada vez mais ameaçados pelos vikings e por seus demais inimigos, tendo como figura central, além do próprio Uhtred, o rei Alfredo e seus descendentes.
Bernard Cornwell consegue mesclar fatos históricos com ficção de uma forma tão incrível que, a menos que sejamos um especialista em história inglesa ou confiramos batalha por batalha, é impossível diferenciá-los. Tem a capacidade única de pegar pessoas que realmente existiram, dar-lhes uma personalidade cativante (ou odiosa) e inseri-los nas histórias para interagir com nosso herói e com os demais personagens que saíram de sua mente brilhante, tornando-os extremamente reais para nós. E o homem realmente sabe construir uma narrativa empolgante e nos surpreender a cada página; as cenas de batalha, por exemplo, são viscerais, sem dúvida as melhores que li na vida. É o tipo de trama em que sempre está acontecendo alguma coisa importante, de modo que a leveza e os momentos de respiro ficam por conta do toque sarcástico que Bernard Cornwell deu à personalidade de Uhtred. Eu gosto muito de toda a ironia utilizada pelo autor. As tiradas do Uhtred em relação à hipocrisia da Igreja ou excessos religiosos, por exemplo, me divertem horrores.