Ilsa Cunha 16/03/2016
Estou maravilhada como um homem como Giovanni Papini não se entregou à ideia absurda de não ter ideia, e de viver receoso sobre o pensamento de gente conformada com a mesmice.
Ele foi o maior escritor italiano do século passado. Uma coisa ‘indispensável’ é saber que ele tem cara de cientista maluco. Era um cético até de si, mas pelo curso natural das coisas - quando a morte não as interrompem - ele virou um cristão fervoroso. (Amém!)
Me sinto em uma gangorra, indo e vindo, entre a biografia e tantas ideias do livro! O personagem é tão singular que não dá para acreditar que pelo menos em parte o autor não pense igual.
GOG é uma abreviação proposital do nome Goggins, pois o personagem se agrada da alegoria com Gog - o Rei de Magog, da Bíblia. Trata-se de contos satíricos e filosóficos, e um tanto realistas, na verdade, Gog é um maluco realista.
Eu não vou enrolar com nenhum hipérbato nem tentar surpreender leitores, mas este livro me encanta porque é de um malvado parecido comigo. Ele é cheio de ideias malucas, mas com muito sentido.
Os contos se desenrolam através de um empresário muito² rico que decide não acabar sua vida no ócio e viajar pelo mundo – não como turista, mas em busca de segredos, mistérios, sabedoria e, principalmente, um sentido para vida.
Acho Gog demais por existencialista, ele até sabe que precisa de uma religião. Porém, mesmo considerando a mais perfeita e sublime das religiões, desdenhou o cristianismo por considerá-lo supremo demais; diz que ele responde todas as questões filosóficas e existências, no entanto, a duras penas suporta os seus amigos, quem dirá amar os inimigos.
Por onde ele passava, lunáticos tentavam vender-lhe ideias e tirar-lhe alguns milhares de trocados. Dentre tantas ideias, me agradei sobremodo de uma das comparações entre os homens e as estrelas: ‘Existem ainda massas estelares que nunca chegam à temperatura mínima de 2700 graus, indispensável para que possamos vê-las. Essas correspondem, na geração humana, aos abortos’.
Antes que você pense que concordo com raciocínios peculiares encontrados no livro, como o extermínio em massa, casas para proteção em desastres (como os ufologistas!!!), gostaria de dizer que há ideias aproveitáveis e que deveriam ser aplicadas em nossa vida, como a ideia do direito penal; Gog diz que tudo deveria ser simplificado, aplicando penas leve, moderada ou grave para os crimes, a fim de reduzir despesas, burocracia e intervenções injustas de advogados. Há ainda meias verdades no livro, como por exemplo, sobre o uso de doenças como remédio; da necessidade do homem de curar a consciência; de ver beleza onde a maioria já não é capaz; da humilhação de não sermos capazes de influenciar quase nada; que quase tudo o que havia para ser descoberto, já o foi e que nossas ideias são notas de rodapé nas ideias alheias etc., mas o que ele demonstra conhecer melhor é a egolatria. Em um momento de tristeza, chegou a pagar para que pessoas que estavam em estado pior do que o seu lhe fizessem companhia, assim a dor alheia poderia amenizar seu sofrimento por saber ele não estar em condição semelhante.
Este é o livro que me fez amar mais meu marido só por recomendar-me. Não digo que ninguém leia nem que leia. Há lunáticos e “illuminaticos” demais para este século.