Bruna 05/01/2023
Esse é aquele tipo de livro que você sente que deveria ter lido há muito tempo, no dia que te recomendaram. Eu achava que não tinha o que se aprender sobre o amor, como se ele fosse um sentimento tão inerente a raça humana, a ponto de não precisar de qualquer tipo de explicação ou ensinamento, mas como eu estava errada? O quanto eu aprendi com esse livro ? e se não há o que se aprender sobre o amor, há o que se aprender sobre a conduta amorosa ? Quantas turbulências e mal-estares eu não a teria poupado, se tivesse lido esse livro antes.
O livro começa desmistificando conceitos tradicionais de namoro e casamento e, ao longo dele, mostra o valor de conceitos bem mais simples, como ?felicidade? e ?liberdade? e mostra que o amor vem como consequência. Aquele amor que vemos em filmes, séries, músicas, contos de fadas, livros, o tal do Amor Romântico, é extremamente problemático, uma vez que, nele, você idealiza a pessoa amada, projeta nela tudo o que gostaria que ela fosse e atribui a ela características de personalidade que na verdade ela não possui. Assim, você não se relaciona com a pessoa real, mas com a inventada por você. Só que esse tipo de amor não resiste à convivência, que torna inevitável enxergar a pessoa como ela é. O amor romântico pesa, também, em diversas crenças a respeito do amor que nos são ensinadas como verdadeiras, como ?Quem ama não sente desejo sexual por mais ninguém? ou ?Qualquer coisa só tem graça se a pessoa amada estiver junto?. O resultado dessas crenças em um relacionamento gera vários danos, porque se espera da pessoa coisas que ela não pode dar. Com isso, concluí que o amor romântico não passa de uma ilusão, e traz mais sofrimento do que alegria. Só que como a maioria de nós acha que o amor romântico é o certo, e pra manter a ilusão de que o outro nos completa, nada mais nos interessa e, inicialmente, abrimos mão de coisas importantes, como amigos e atividades que gostamos. Como eu nunca havia namorado antes, achei que seria pra sempre aquela emoção e intensidade toda, aquela coisa de inicio de namoro, quando a gente vê roupinha de bebê e já quer comprar kkkk Mas esse livro me mostrou que, além da calmaria não significar falta de amor, querer unir, a qualquer preço, intensidade e duração é recusar a passagem do tempo e se expor ao desespero. E que essa intensidade avassaladora que liga duas pessoas no início de uma relação costuma se transformar em outro vínculo tão lindo quanto, como cumplicidade, tranquilidade e segurança.
Seguindo, o livro propõe que o dilema atual dos relacionamentos se encontra entre a vontade de se fechar na relação com a pessoa que amamos e o desejo de ser livre para viver variadas experiências, e é AÍ que entra o tão temido Relacionamento Aberto, ou Livre, como queiram chamar. Na monogamia, as possibilidades de ter um novo parceiro são trair ou terminar. Já nas relações livres, o que motiva o fim da relação é a perda da sua qualidade. Para a maioria das pessoas, pelo menos no Twitter, as relações abertas são um terror. Surgem aquelas cutucadas na confiança do casal que adota o relacionamento livre: ?E se ela se apaixonar por alguém? Isso não é traição permitida?? É? a ideia de amar uma pessoa e fazer sexo com outra assusta, e bastante, a primeira vista. A gente tem medo que ?retirar? um limite torne iminente a transgressão de todos os outros. Só que a base de um relacionamento aberto é a honestidade e a transparência entre o casal, sem que se sintam magoados ou enganados. Nós não podemos controlar os impulsos sexuais de ninguém. Quem sou eu pra determinar que a pessoa que eu amo não sinta mais atração por outra? O livro entende que Relacionamentos Livres podem trazer diversão, momentos emocionantes, e até renovação da paixão a uma relação, mas trará desafios que colocarão a relação à prova, demandando tempo, energia e cuidados para evitar ou tratar eventuais decepções.
Um adendo sobre inícios de relacionamentos, muitas vezes as duas partes se envolvem tanto que se fecham na relação. Afastam-se dos amigos, deixam de fazer coisas que gostam, porque acharam algo que eles gostam mais. Aquela ideia de que os dois se completam obriga as partes a se desenvolverem num espaço limitado. Quando dois viram um, não há com quem estabelecer um vínculo. Só que uma das características fundamentais para uma boa relação é se livrar dessa ideia de fusão, de unidade, e preservar a individualidade, algo que em um momento eu não fiz. O respeito à individualidade do outro, mesmo com o risco de separação ou perda, é indispensável. Algumas pessoas realmente se sentem amarradas e presas quando estão numa relação, como se não pudessem mais aproveitar a liberdade, e absorveram a ideia de que conviver significa abster-se de sua individualidade. Por isso, diz o livro, que a principal coisa a fazer é que os dois não tentem ser um só. As diferenças de cada um não devem ser obstáculos, e sim motivo de encantamento pela surpresa que causam. E passar um tempo sozinho também é compreensível e saudável, até porque nem os nossos melhores amigos temos vontade de ver sempre, há certos dias em que você só não quer? e com um namoro é a mesma coisa.
Percebi que ter aprendido praticamente TUDO errado sobre o amor gerou alguns problemas na minha relação: Eu sempre me preocupei com a possibilidade de ela se envolver mesmo mesmo com alguém, mesmo ela sendo muito mais racional do que eu. Mas a gente quer passar muito tempo juntas ainda, e é utópico pensar que ao longo desse tempo não vamos sentir atração por outras pessoas. Eu não quero que ela deixe de viver essas coisas tão legais, e acho que ela pensa o mesmo. Até porque, eu só tenho 21 anos, e só vou beijar e transar com uma pessoa pro resto da vida? Não, né?! E pior ainda seria ter que fingir que não quer se quiser fazer isso. Outro ponto que me pegou foi que percebi o quão hipócrita eu sou em relação ao ciúme. O livro descreve o ciúme como ?basicamente o sofrer por uma situação hipotética, advinda das interpretações enviesadas que o ciumento faz dos sinais que percebe. No ciúme não existe um fato real, apenas indícios que geram sofrimento?. Percebi minha hipocrisia quando me peguei pensando que só eu sou especial, e que só eu consigo me relacionar com qualquer outra pessoa sem criar qualquer tipo de sentimento, mas que pras outras pessoas não funciona assim também. E eu sei muito bem que pode haver desejo ou prazer sexual desvinculado de qualquer aspiração romântica, só que as coisas parecem diferentes quando o nosso tá na reta, né?! kkkkkkkk Só que em vez de nos preocuparmos se quem a gente ama beijou outra pessoa, deveríamos pensar em só duas coisas: ?Me sinto amada?? e ?Estou feliz??. Se a resposta for sim para as duas, por que ficar insegura, se as duas só mantêm uma relação porque se amam e sentem prazer em estar juntas?! Por isso, é importante não ficar remoendo o que pode ser apenas uma neura, uma insegurança.
O livro fala, também, sobre o quanto somos ?castrados? ao longo da vida. Somos ensinados a nos controlar, a domar nossos impulsos. Obedientes, disfarçamos nossos desejos e os escondemos, só que todo mundo, ou pelo menos Freud, sabe que isso não dá certo. Entendi, então, que a monogamia é o mais difícil dos arranjos conjugais. Mas mesmo assim, a maioria de nós prefere matar uma relação a questionar sua estrutura. E isso é uma loucura, né?! Porque, tipo, a única coisa que importa *numa relação* é a própria relação, as duas estarem juntas porque gostam da companhia uma da outra. Por que você vai reprimir um desejo? O amor não nos dá direito algum sobre o desejo do outro. Nós não temos controle nem sobre os nossos desejos, quem dirá sobre os desejos dos outros. A sexualidade da pessoa que amamos não nos pertence. Ela não existe só para nós, muito menos em torno de nós. O que o outro deseja ou faz quando não está comigo não me diz respeito. Além do mais, ninguém tem acesso à subjetividade do outro. Outra coisa que eu fazia que percebi no livro que era ruim, é querer saber tudo. O livro explica que quando o impulso de compartilhar vira obrigatório, quando os limites pessoais já não são respeitados, quando só se reconhece o espaço da relação e o privado é negado, a fusão substitui a intimidade e a posse sufoca a relação. O que não podemos viver com o outro temos que viver dentro da nossa privacidade. Agora percebo que nunca vamos dividir tudo com o outro, por maiores que sejam o convívio e a intimidade na relação, e certos fatos e lembranças só têm valor para nós. A verdadeira aceitação da própria individualidade e da do outro e a independência são as únicas bases sobre as quais se pode construir um relacionamento.
Outra concepção errada que eu tinha, era de achar que o sentimento era proporcional a quanto ele era dito, talvez por vir de uma família que reforça, até demais, seus sentimentos? mas ao valorizar só o que é falado, eu estava prestando um desserviço a mim mesma. Sendo que o amor não tem como base a sua verbalização, na verdade, o amor se baseia em dois pilares: entrega e autonomia. Ao mesmo tempo que temos necessidade de união com o outro também temos necessidade de distanciamento. Aprendi também que, quanto mais você se apega, mais você tem a perder, até porque a suspeita de ser abandonada e rejeitada são os pesadelos da infância, mas também os fantasmas da maturidade. Então, tentamos tornar o amor mais seguro, tentando prender ele de alguma forma, abrindo mão de um pouco de liberdade em troca de um pouco de estabilidade. Só que, para diminuir a ansiedade, não adianta tentar controlar o outro. Quanto mais abafamos a liberdade do outro, mais difícil é para a pessoa respirar dentro da relação.
Enfim, muito bom o livro! Super esclarecedor e didático :)