Adriana dos Anjos 13/10/2021
Gostei muito da escrita da autora. Ela conseguiu transmitir as emoções que cada personagem desepenhou na trama. A descrição dos lugares e os costumes da época também não deixaram a desejar, apesar de acreditar que a Vauline poderia ter explorado mais alguns personagens.
Super entendi o objetivo de trazer personagens com personalidades e ações que correspondem a sua época vivida, apesar de irritar um pouco a leitora que está aqui no século 21. Acho que o realismo nessa questão deu super certo, todavia em outras situações não.
Até os 60% da estória estava tudo muito bem, até exatamente a cena dos protagonistas no estábulo, para ser mais específica. Só que a partir daí algumas coisas começaram a me incomodar.
Não dei cinco estrelas por alguns motivos:
1º Porque achei o final muuuuuuito corrido. A autora usou bastante páginas no desenvolvimento de alguns núcleos no início da estória que mais para frente não tiveram tanto impacto com o restante do enredo. Poderia ter sintetizado mais no início para elaborar com mais vagar o final. Não sei se o formato e-book tem limite de páginas a serem publicadas por livro, mas a impressão que deu é que a autora se empolgou demais ao longo do início e meio da estória, e quando percebeu tinha poucas páginas para finalizar.
2º Achei que muitos personagens ficaram com muitas pontas soltas, coisas que um único parágrafo ou até dois poderia ter sido suficiente e resolvido algumas questões que vão surgindo ao longo da leitura. A questão do Renato, por exemplo. Porque Domitila e Otelo o escolheram para o seu plano? Falta de dinheiro? Cai por terra essa suposição tendo em vista o lado financeiro das duas famílias. O problema financeiro é do pai da Domitila e não de todas as ramificações da família. E o Renato deixa a entender que não passa por problemas financeiros ao observarmos o seu modo de vestir, o conhecimento que possui, a maneira de se portar. Então, é uma pessoa que tem um "certo nível social". Ou teve, pelo menos? Se tem, porque se presta a esse tipo de coisa? Porque é um cafajeste mesmo ou a sua vida pessoal não foi escolhida por ele? Mesmo ele sendo um homem e os homens dessa época tendo o privilégio de escolher com quem casar? E essas mudanças repentinas de comportamento que não exisitiam de forma alguma na primeira fase da estória? Desculpa, não tem como uma pessoa ser louca e em nenhum momento, mesmo no início não deixar transparecer nenhum indício disso. Quem convive, ou já conviveu com pessoas desequilibradas mentalmente, sabe do que eu estou falando. Você pode se negar a enxergar algumas atitudes, mas elas sempre estiveram lá. É um fato. Foi um recurso literário clichê e o acho válido se é esse o caminho que o escritor (a) está propondo, desde que ele seja bem escrito, bem formulado.
3º Eu entendo a proposta da autora ao encerrar a estória da forma como foi. Até porque um livro é a idealização do que nasceu da imaginação, do coração e da alma do escritor (a). Porém, quando leio um romance (e essa é uma opinião extremamente pessoal) tenho o propósito de me desconectar da realidade. Eu gosto de finais felizes ao estilo contos de fadas, "E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE" e blá blá bla porque relacionamentos perfeitos, de fato, como a Vauline mesmo pontuou, NÃO EXISTEM. Amar é sacrifício, é difícil, dá muito trabalho. Por isso mesmo que prezo por estórias que não tragam essa carga tão "realista" nos seus finais. Se é um romance clichê, que seja clichê, sabe? Se eu quiser vir realismo nos relacionamentos é só eu ligar minha televisão e assistir o Cidade Alerta ou Brasil Urgente, sei lá...programas desse tipo. Nos livros não.
Foi o meu primeiro contato com a escrita da autora e não sei se estou certa, mas acredito que talvez este tenha sido o seu primeiro livro, ou um dos primeiros a ser escritos, porque esses pontos que eu levantei me parecem ser provenientes de uma escrita que está começando a amadurecer. Por conta disso existem os pequenos furos citados acima, e que de forma alguma diminue ou impacta a beleza do enredo, dos personagens e da escrita com pouquíssimos erros de digitação.
É um bom livro que além de me proporcionar entretenimento, também me instigou a ter curiosidade de ler outras obras da autora, o que eu acho muito legal. É sempre bom ler novos escritores nacionais.