spoiler visualizarYanne0 13/02/2023
Originais
O penúltimo livro de uma saga geralmente costuma abordar os mistérios que já rondavam a série desde o início, fornece mais respostas ao leitor e o prepara para o que vem a seguir, com o final da história. Aqui, de fato, nós recebemos algumas respostas, mas temos também diversos furos e explicações inconsistentes que, a meu ver, atrapalharam esse livro de ser, até o momento, o melhor volume da série.
Logo de início, a autora nos apresenta o novo ambiente onde metade da história vai se desenvolver: as instalações da organização Daedalus. Há pouca passagem de tempo entre o final de Opala e o início de Originais, portanto o leitor não perde praticamente nada do que aconteceu desde o instante em que Katy foi capturada pelos guardas do lugar após a invasão mal-sucedida que ocorreu no final do volume anterior. Apesar de todo o sofrimento que a protagonista sofre enquanto é treinada, a mudança de ar foi bem-vinda, uma vez que a vida de Katy tinha a cansativa rotina de ir e vir entre a escola, as horas que ela passava lendo ou do lado do Daemon.
Diferente dos demais volumes da série, em Originais, os capítulos são intercalados entre os pontos de vista de Katy e Daemon. A mudança de perspectiva traz um dinamismo até certo ponto, já que não há uma grande diferença na voz desses dois personagens. Em vários momentos, precisei parar para lembrar quem estava narrando, por conta da semelhança que há entre elas. E, embora Daemon tenha ganhado uma parte dos holofotes, a autora não usa isso para nos entregar informações relevantes sobre os Luxen ou a respeito dos mistérios que ainda rondam a organização Daedalus. Admito que não gosto do personagem, mas eu esperava que a diferença de ponto de vista mostrasse algo além do romance e do amor entre os dois protagonistas. Ou seja, Daemon faz parte do arco sobrenatural do livro, no entanto, são poucas as contribuições que ele dá ao enredo. Praticamente, tudo que ganhamos é um personagem que, a toda a hora, endeusa sua namorada, mesmo que ela não faça nada de muito extraordinário. Daemon não traz profundidade aos outros personagens que já conhecemos e, exceto por algumas informações bem pontuais que ele escuta dos antagonistas, toda a contribuição do protagonista está concentrado no aspecto romântico.
Os personagens secundários que foram incluídos desde o início da série, neste volume, até um pouco mais da metade, não aparecem muito no enredo. Por um lado, isso foi bom. Ao menos, Jennifer teve menos personagens para dar atenção. Gostei da apresentação de Archer, mas a participação e a motivação desse personagem na história não foi nem um pouco surpreendente para mim, e isso traz de volta uma característica que é bastante presente na escrita da autora: ela não consegue construir um bom suspense para nos pegar desprevenido na hora da reviravolta simplesmente porque costuma entregar demais desde o começo.
Duas coisas que eu estava esperando para esse volume, felizmente, aconteceram: a morte de Blake e a explicação da origem de Luc, o adolescente misterioso que aparece pouco em Opala. Blake, desde o segundo volume, se mostrou um antagonista fraco e a volta dele, no terceiro livro, foi um grande desserviço. Ele não acrescentou em quase nada e só serviu para repetir o que fez em Ônix, ou seja, trair Katy e os Luxen. Ele só tinha dois caminhos para esse quarto livro: ou encher linguiça na história ou morrer.
Já a origem de Luc respalda em um dos experimentos da organização Dedalus: a criação dos originais, que são os filhos dos Luxen e dos híbridos. Eles são seres super instáveis e conseguem ser mais poderosos do que os próprios Luxen. Eu realmente não sei qual vai ser o papel deles para o próximo livro. As explicações para a importância desses personagens são apresentadas, mas a gente tem a sensação de que não é tudo aquilo que Katy escutou. De acordo com o que é mostrado na história, os originais são feitos para seguirem carreiras de sucesso. Eu não sei se foi intencional e, se foi isso, que a resposta apareça no próximo livro, porque aqui só gerou uma ponta solta. Especialmente na parte que Katy e Daemon conseguem fugir do prédio do Daedalus com a ajuda de Archer. Durante a fuga, eles libertam as crianças originais... contudo, depois disso, a gente não sabe o que foi feito delas. Ninguém sabe, ninguém viu. Eles desaparecem na narrativa.
Quanto às perguntas que eu tinha, algumas delas são respondidas, algumas são apenas uma afirmação do que a autora já tinha mencionado em Opala. Daedalus usa os Luxen para criar híbridos, estudam a ligação que pode existir entre um Luxen e um humano (ligação essa que é vista como algo negativo) e treinam os híbridos. Bem, na questão do treinamento, a explicação é consistente. Pelo visto, a Terra está prestes a ser tomada pelos Luxen e são os híbridos que vão salvar o dia. Quanto às demais explicações, eu tive a impressão de que cada personagem possuía um propósito diferente, o que deixou tudo confuso. Sem falar dos furos narrativos no enredo.
Jennifer sempre salienta que os híbridos e os Luxen precisam passar por um processo de assimilação para, só então, conviverem entre os humanos. Pois bem. Isso vai contra a aparição de Carissa em Opala. Ela sofreu uma mutação e, aparentemente, não teve o mesmo tratamento que os demais híbridos, já que a personagem aparece do nada na casa de Katy e se autodestrói. Outro furo é a fuga conveniente dos protagonistas. A autora sempre usa seus personagens para relembrar ao leitor que o prédio da organização Dedalus é revestido de Ônix em forma de gás, uma substância que é muito agressiva para os Luxen e os híbridos. Mas os dois protagonistas, em nenhum momento, são impedidos de continuar porque existe a presença de Ônix no ar. Outro furo é em relação ao personagem William, que morreu no livro passado. A motivação dele é se tornar um híbrido e, para isso, ele precisaria que Daemon o curasse. Mas ele trabalhava para a organização, então por que não recorreu a ela?
Enfim, antes do fim da história e logo após a fuga dos protagonistas, temos um espaço para a calmaria. Sendo sincera, depois de acompanhar a vida de Katy e Daemon presos na organização, ver esses dois tirando um tempo para si e, lógico, ignorando o mundo à sua volta, deixou minha leitura arrastada. Como falei na resenha anterior, eu gostei do desenvolvimento do romance entre os dois protagonistas. Aqui não foi diferente, embora seja bastante cansativo ler sobre ele. Os dois funcionam como um casal, não nego, mas o nível de açúcar é tão grande que chega uma hora que se torna insuportável. E a maior parte desse doce vem do pov de Daemon. Se no primeiro e no segundo livro, ele humilhava Katy e era insuportável, respectivamente, neste volume a gente tem uma repetição das mesmas declarações apaixonadas do começo ao fim da história. A personalidade do Daemon se tornou "endeusar a Katy". É engraçado, apesar de eu enxergar um avanço consistente na relação dos dois, não consigo gostar das interações desses personagens. As provocações não funcionam comigo. O Daemon não me encanta de jeito nenhum. A Katy continua sendo chata e boba. E as piadas são mal inseridas, quase sempre usadas em momentos de tensão.
Como mencionei acima, os personagens secundários retornam depois da metade do livro e ajudam Katy e Daemon a fugir da cidade. Aparentemente, Jennifer reviu a conversa que não teve entre Dee e Katy em Opala e, neste volume, as duas de fato fazem as pazes. Com o retorno de Dee, temos também o trio que não acrescenta nada à história: Matthew, Ash e Andrew. A participação deles não foi diferente aqui e a traição, que não é bem uma traição, da parte de Matthew foi tão insossa que só me veio a mente que a autora queria dar um fim rápido para o personagem e escolheu esse. Quanto a Ash e Andrew, eles se sacrificam durante o confronto que antecede o final do livro. Infelizmente, não consegui ficar triste por nenhum deles. Os três desde o início foram construídos de forma bastante unilateral. Só estavam ali para preencher páginas, tendo em vista que não ajudavam nem atrapalhavam. Bethany, a namorada de Dawson, é outra que parece não crescer na história e a notícia da gravidez dela não foi uma "revelação chocante" que me pegou de surpresa.
O que eu espero para o final dessa saga é basicamente duas coisas: saber para que o Luc queria tanto o LH-11 e que as pontas soltas sejam amarradas. Fora isso, o que vier é lucro.