Ana Ruppenthal 25/12/2017
Ótimo
Essa resenha é parte de um trabalho acadêmico:
Escrita por Fernand Braudel em 1977, “A dinâmica do Capitalismo” é o relato histórico, numa perspectiva eminentemente econômica e social, dos quatro séculos que moldaram a civilização moderna – de 1400 a 1800. Muito embora se centre na Europa Ocidental, o relato abrange todo o mundo.
Na parte I, intitulada "Repensando a vida material e a vida econômica", o autor aborda as restrições materiais da vida cotidiana. Assim, Braudel partiu do cotidiano: o hábito, a rotina, costumes inconscientes que o autor chama de vida material. Seria a vida ativa dos homens.
Essa matéria humana em perpétuo movimento comanda, sem que os indivíduos tomem consciência disso, uma boa parte dos destinos de conjunto de seres vivos. Alternadamente, o jogo demográfico tende para o equilíbrio, por serem demasiadamente numerosos os seres vivos, mas o equilíbrio raras vezes se atinge .
Nesta parte, Braudel esboça o que é quase uma história social do mundo. Inicia com um capítulo sobre demografia, que ele vê como fundamental para a com-preensão da história. Dois capítulos são dedicados à alimentação: um para a subsis-tência básica, sob a forma das três grandes culturas de cereais - trigo, arroz e milho - que alimentam a maioria das pessoas do mundo; o outro para os "luxos" - coisas como modas de mesa, sal, carne e especiarias. Mais dois capítulos abordam fontes de energia, metalurgia, transporte e as inovações tecnológicas críticas – pólvora, impressão e, acima de tudo, navegação marítima – o que contribuiu para o a expan-são europeia. O último capítulo examina o crescimento das cidades, que Braudel considera um instrumento e um claro marcador de mudança.
Em seguida, a parte II, intitulada “Os jogos da troca”, fala sobre o comércio e a economia de mercado (que é sinônimo de capitalismo). O autor inicia com a cultu-ra material de câmbio, desde lojas, mercados e mascates (ou vendeores ambulan-tes) até feiras e bolsas de valores. Ele então explora os mais altos níveis de comér-cio: redes de comerciantes, circuitos comerciais, letras de câmbio, oferta e demanda, saldos comerciais, a relação entre moedas de ouro e prata e assim por diante. Dois capítulos lidam com o capitalismo. O primeiro explora seu alcance e sua relação com a agricultura e as primeiras formas de indústria e, em particular, por que não conseguiu se apoderar desses domínios. O segundo considera o capitalismo no seu lar em finanças e comércio internacional, em um mundo de parcerias e empresas, de monopólios e controle, com uma influência muito desproporcional ao seu tamanho relativo. O último capítulo coloca a vida econômica no contexto da sociedade como um "conjunto de conjuntos", conectando-a com as hierarquias sociais, o estado e a ampla dinâmica da mudança cultural.
Por fim, a parte III, intitulada "O tempo do mundo" tem uma abordagem global, que vê o mundo como um sistema. Braudel começa argumentando pela existência de múltiplas "economias mundiais" e descreve suas dimensões geográficas e temporais. Ele então traça o desenvolvimento da economia mundial europeia e das "cidades do mundo" que o governaram sucessivamente: Veneza, Antuérpia, Gênova, Amsterdã e, por fim, Londres. Isto é seguido por uma análise das economias emergentes nacionais e sua relação com o capitalismo internacional, com uma comparação detalhada da França e da Inglaterra. Braudel volta para o resto do mundo - as Américas, a África negra, a Rússia, o Islã, o Extremo Oriente - e sua relação com a Europa, antes de retornar para uma análise da revolução industrial à luz da análise anterior do capitalismo. Aqui Braudel parece um pouco mais especulativo sobre suas conclusões do que ele tinha escrito nos volumes anteriores.