Crônica do Pássaro de Corda

Crônica do Pássaro de Corda Haruki Murakami




Resenhas -


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fabio.orlandini 22/05/2020

A busca de si mesmo.
Alguns livros do Murakami me prendem já na primeira página. Não foi o caso desse. Entretanto, é um livro que nos leva a muitas reflexões sobre nosso papel no mundo.
Caroline 24/05/2020minha estante
Estou lendo esse livro mas não está me prendendo. Vale a pena insistir na leitura?


fabio.orlandini 26/05/2020minha estante
Desculpa a demora. Também foi o Murakami que mais se arrastou para mim. Ele até melhora, mas não achei um livro inesquecível.


Caroline 26/05/2020minha estante
Entendi... Muito obrigada!


Helenapessoa 11/08/2020minha estante
Qual o livro dele que mais te prendeu?


fabio.orlandini 11/08/2020minha estante
Gostei muito de 1Q84, mas meus dois favoritos do coração são O incolor Tsukuro... e o outro é Kafka à beira mar.


Helenapessoa 12/08/2020minha estante
Muito obrigada!




Thiago 19/04/2020

Maravilhoso!!!
Para amantes do realismo fantástico ou surrealismo, é um livro incrível.
Paty Cambuy 23/09/2020minha estante
Conta mais! Acabei de adquiri-lo


Thiago 25/09/2020minha estante
Excelente livro, o Murakami consegue ir para o surrealismo de uma maneira que você se envolve, e acredita que aquilo é possível.


Paty Cambuy 26/09/2020minha estante
Eu estou devorando este livro. É maravilhoso mesmo!!! Ob


Paty Cambuy 28/12/2020minha estante
Genial! Terminei até que enfim hahha




Paulo 06/03/2021

"A realidade nem sempre era verdade, e a verdade nem sempre era realidade"
Foi uma boa experiência ler esta obra de Haruki Murakami. Primeiro romance asiático que leio.

O livro tem um ritmo lento, mas isso não é demérito algum. Se tivesse sido escrito por qualquer outro autor, de forma diferente, a história talvez me parecesse entediante ou exaustiva pela quantidade de detalhes nas descrições - descrições essas que podem parecer enrolação para alguns leitores. Para mim, o autor escreveu de forma vívida e que muito me prendeu à leitura. Além do mais, as descrições aqui têm papel importantíssimo! Conforme avançamos na história vamos percebendo que qualquer detalhe ou fala mencionados anteriormente podem desempenhar grande influência na imagem geral da história. São tantos detalhes que termino o livro com a leve sensação de que posso ter deixado alguma coisa passar despercebida.

Enfim, a narrativa em primeira pessoa caiu como uma luva nesta história. O leitor e o narrador caminham juntos, com a mesma ignorância dos fatos, aos poucos tentando montar um quebra-cabeças de toda essa situação confusa, acompanhando o personagem principal numa jornada de autodescobrimento. Além de Toru Okada, aqui todo personagem é peculiar à sua maneira, cada um com sua personalidade e com uma história para contar de seu passado, com seus pensamentos próprios e desejos. Mesmo com tamanha diversidade, é como se a história de todos eles estivessem ligadas por algum fio. O destino, talvez?

O livro tem muitas referências histórias, o que dá mais realismo à história; curioso também notar a influência ocidental na cultura japonesa desde o pós-guerra, através das referências citadas de livros, músicas, óperas e filmes ocidentais no dia a dia do nosso herói - desde a primeira página quando ele assobiava La gazza ladra de Rossini até posteriormente quando ele conversa com Noz-Moscada enquanto almoçam em um restaurante italiano no centro de Tóquio.
Mel Guerra 14/03/2021minha estante
Estou lendo Tokio blue e até agora o autor tem me parecido agradável, gosto de como ele desenvolve a história com delicadeza e simplicidade.


Paulo 14/03/2021minha estante
Concordo, Guerra. O autor escreve sem pressa, desenrolando a história de forma delicada e simples. Pretendo ler no futuro outros livros dele. Pode bem ser Tokio Blues, quem sabe haha


Mel Guerra 14/03/2021minha estante
E eu acho que vou ler uma crônica do pássaro do corda. Haahah




Alexandre Kovacs / Mundo de K 09/12/2017

Haruki Murakami - Crônica do Pássaro de Corda
Editora Companhia das Letras (Selo Alfaguara) - 768 Páginas - Tradução direta do japonês por Eunice Suenaga - Lançamento no Brasil: 21/11/2017.

Sem dúvida um dos livros mais delirantes e criativos de Haruki Murakami, originalmente publicado em três volumes no Japão, de 1994 a 1995, foi traduzido para o inglês em 1997 e chega finalmente ao Brasil, depois de uma década de atraso, nesta edição traduzida diretamente do japonês por Eunice Suenaga. É recomendado para os fãs e também iniciantes no universo ficcional do autor que encontrarão nas quase oitocentas páginas, o estilo inconfundível que mais aproxima as culturas do ocidente e oriente com sua mistura de realismo mágico e literatura policial noir. Nesta obra, uma grata surpresa mesmo para os leitores já iniciados, muitas passagens de um excepcional romance histórico, alternando o foco da narrativa entre a cidade de Tóquio em 1984 e a região da Manchúria, ao final da Segunda Grande Guerra, quando o Japão é derrotado pelas forças da União Soviética, marcando o final da violenta ocupação da China. É claro que essas são localizações geográficas do mundo real e este, assim como todo bom romance de Haruki Murakami, também utiliza como cenário outras dimensões e mundos paralelos.

Uma série de estranhos acontecimentos tem início com o desaparecimento do gato de estimação do casal formado por Toru Okada e Kumiko Wataya, eles dividem um cotidiano simples e sem maiores aspirações, juntos há seis anos não tiveram filhos como tantos outros casais na sociedade moderna japonesa, a única diferença é que ele cuida da casa enquanto ela sai para trabalhar. Tudo isso está prestes a mudar quando Toru Okada que prepara o seu spaghetti, com música de fundo de Rossini, interpretado pela Orquestra Sinfônica de Londres, é perturbado por uma ligação telefônica de uma desconhecida que pede apenas dez minutos do seu tempo. À partir deste ponto, várias personagens, incluindo duas irmãs videntes e uma adolescente da vizinhança, irão ajudar o desnorteado protagonista de trinta anos a desvendar o mistério da casa dos enforcados e o fundo do poço abandonado, encontrar o gato e sua própria esposa, que também desaparece sem deixar vestígios.

"Tirei a roupa. Pois é... Não me pergunte por que, nem eu sei direito o motivo. Então... não me pergunte nada e deixe que eu conte até o fim... então tirei tudo o que cobria meu corpo, saí da cama e me ajoelhei no chão, bem onde estava a poça branca da luz da lua. O aquecedor do quarto estava desligado e provavelmente fazia frio, mas não senti nada. Parecia que havia algo especial na luz da lua que se insinuava pela janela, e esse algo me envolvia e me protegia completamente com uma espécie de película fina. Permaneci ali assim, totalmente nua, e depois comecei a expor várias partes do meu corpo, uma a uma, para essa luz. Como posso explicar... isso me pareceu a coisa mais natural a fazer. A luz da lua era lindíssima, de verdade, e eu precisava fazer isso. Expus cada parte do meu corpo à luz da lua: o pescoço, os ombros, os braços, os seios, o umbigo, as pernas, o quadril, e até aquele lugar, como se a luz lavasse tudo. (...) Continuei ajoelhada por muito tempo no mesmo lugar, sem me mexer. Sozinha e sem nenhuma roupa, eu era banhada pela luz da lua, que tingia meu corpo de uma cor curiosa. Minha sombra, longa, nítida e preta, se projetava no chão e ia até a parede. Mas não parecia ser a minha sombra, e sim a de outra mulher, com um corpo mais maduro e adulto, contornos mais arredondados, seios e mamilos bem maiores, tudo bem diferente do corpo de uma mulher virgem como eu." - Trecho da carta de May Kasahara para Toru Okada (Pág. 748)

"A Crônica do Pássaro de Corda", independente dos devaneios ficcionais de Murakami é uma fábula sobre a força do destino e a nossa capacidade de livre-arbítrio. Muitas vezes realizamos atos contra a nossa vontade para atender às demandas da sociedade, assim como "bonecos de corda postos em uma mesa". Os personagens tentam escapar de uma realidade implacável, muitas vezes precisam se transformar em outras pessoas para se libertar. Enquanto isso, o pássaro de corda, lentamente dá outra volta e coloca o mundo em movimento todos os dias. Um lindo romance que, apesar da extensão, se lê com muita velocidade, deixando aquela sensação de pena quando chegamos ao final.
Paulo Sousa 09/12/2017minha estante
mais um ano terminando e não li nada do Murakami. na verdade, preciso ainda adentrar o universo ficcional oriental. para tanto, comprei dois livros do tanisaki...


Clarice 05/01/2018minha estante
Muito obrigada por compartilhar sua experiência de leitura. Fiquei muito motivada a iniciá-la, no ano passado não li nada do Murakami, mas desde 2016, quando li Minha querida Sputnik, sinto saudades da escrita dele!




Vic 12/01/2022

Um romance enigmático, insano, claustrofóbico e inquietante
O romance "Crônica do Pássaro de Corda" de Haruki Murakami é ambientado no Japão, mais especificamente em Tóquio, durante os anos 80, gravitando em torno de Toru Okada, um homem com cerca de trinta anos, casado com a reservada Kumiko em meio a uma rotina banal. A ordem de seu cotidiano é quebrada quando o gato do casal some, o que desencadeia uma série de eventos estranhos, enigmáticos e insanos, com personagens ainda mais excêntricos e improváveis.
A obra é repleta de elementos do realismo fantástico, onde fantasia e realidade estão tão entrelaçadas que a fronteira entre uma e outra é muito turva, como se uma fosse extensão da outra, um reflexo, cuja ordem é sempre invertida: o que é real parece irreal, o que é sonho é mais tangível.
Há uma série de mistérios, metáforas e discussões filosóficas, tornando a trama intrigante e fascinante, transmitindo um magnetismo incrível que atrai e sorve a atenção do leitor, conduzindo-o em uma espiral insana constituída por um mosaico de histórias aparentemente desconexas, mas que são costuradas pela linha enviesada do destino, que mesmo com eventos improváveis, a lógica da narrativa permanece intacta.
Ao meu ver, Murakami transmite em sua obra, como um todo, o cerne do "ens?", o círculo, uma prática oriental da tradição zen, que é a iluminação por meio de um processo que no ocidente chamamos de catarse, cujo o sofrer resulta no florescer de virtudes. O protagonista, Toru Okada, é retratado inicialmente como um homem submergido na letargia do cotidiano, estagnado no tempo, imerso no automático, que metaforicamente só percebe as rachaduras e fendas depois que o templo converteu-se em ruína. Ele passa por um longo processo, guiado por personagens atípicos e acontecimentos surreais, ele é guiado para as profundezas, para os meandros abandonados de si mesmo, se depara com seu próprio desmoronamento para reencontrar-se, uma busca catártica por autoconhecimento.
É um deleite acompanhar o desenvolvimento desse personagem, sua jornada é habitada por uma série de duplos (dopplegängers), simbolismos, metáforas, ciclos que se conectam e relações especulares, por meio de elementos do fantástico e do surrealismo, com uma ótima dose de contexto histórico, abrangendo alguns períodos obscuros do oriente. Como o ens?, Toru passa por um processo que não é baseado na perfeição, é repleto de percalços, erros, desníveis, tensões e sofrimento, mas que muda Okada para sempre, propiciando autoconhecimento e transformando sua relação com os elementos da exterioridade.
Por meio de uma trama não-linear em inúmeras passagens, Murakami aborda em seu romance temas como a liquidez da atualidade, com seus relacionamentos vazios e raquíticas conexões, crise de identidade, autoconhecimento, a ambiguidade da natureza humana e a profunda violência que transpassou o Japão em seu passado durante os conflitos bélicos. O autor consegue transmitir genialmente uma atmosfera claustrofóbica, enigmática e inquietante, que se enquadra perfeitamente no conceito freudiano de estranho familiar, assim como as obras discutidas pelo grande criador da psicanálise em seu ensaio.
É uma obra espetacular que propicia uma experiência marcante, revelando o poder que a literatura tem de remexer em nosso âmago e nos desestabilizar. Recomendadíssima! Sem dúvidas, já é um dos livros da minha vida! Com certeza muitas releituras estão por vir. Se algum dia for adaptada aos cinemas (e aguardarei ansiosamente por esse dia) serei a primeira a comprar os ingressos.
Samuel Chaves 12/01/2022minha estante
Iniciei a leitura da obra dele chamada "sono". Eventos estranhos, enigmáticos e personagens excêntricos parecem ser uma marca bastante presente nas obras dele. Pois alguns elementos que você relatou, também já começam a aparecer no livro que estou lendo. Estou gostando muito até agora.


Vic 12/01/2022minha estante
Não conhecia essa obra, mas pretendo ler outros textos do autor, acredito que esse vou gostar bastante, já que amei esses elementos. Murakami é incrível, tem um estilo muito único.




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Reginaldo Pereira 04/03/2023minha estante
Se você gostou do Pássaro de Corda, provavelmente vai gostar ainda mais de Kafka à Beira Mar!!!!!!!???


Antonia 04/03/2023minha estante
quero muito ler esse livro tbm ?




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Joana 01/08/2021minha estante
também noto muitas semelhanças entre Murakami e David Lynch. As cenas no outro mundo me lembram muito algumas cenas da 3ª temporada de Twin Peaks




Sarah | @only_a_snowflake 17/02/2021

"No inferno, o poço não tem fundo" | Booktalk sem spoilers
Meu primeiro livro do Murakami e já compreendo o motivo de tanta aclamação. Crônica do Pássaro de Corda é uma odisseia ao mais profundo do ser humano. Por quase 800 páginas, acompanhamos Toru Okada e seu processo de desconstrução e construção. No fim das contas, ele precisou se livrar de tudo que ele era para se tornar o que ele deveria ser.

Não acompanhamos somente o Toru, mas também outros peculiares personagens como May, Kumiko, Noboru, as irmãs Kanô, Noz-moscada, Canela, Mamiya, Honda, Boris... Cada personagem tem seu mistério e carrega seu próprio fardo.

De maneira geral, Crônica do Pássaro de corda nos leva a refletir sobre a inércia da vida, e que como uma situação pode ser interpretada de diferentes maneiras, dependendo do ponto de vista do observador. A metáfora do poço, de precisar se desligar do mundo exterior para se conectar com o nosso interior, é bastante válida, principalmente no frenesi do mundo atual, onde tudo é no automático.

No fim do livro ficaram algumas dúvidas, e algumas coisas que deveriam ser detalhadas foram deixadas no ar. Talvez porque não precisassem ser ditas, talvez porque não precisávamos saber. Nunca descobriremos.



"Será que é possível uma pessoa entender completamente a outra? Quando tentamos compreender alguém e dedicamos muito tempo e esforço sincero, até que ponto podemos nos aproximar da essência do outro? Será que sabemos mesmo a parte que realmente importa de quem acreditamos conhecer bem?" (p.30)

BGM: "Shogeki" (Yuko Ando)
//Countless birds burned their wings
Scattering ashes and smile so peacefully
Someone's spreading
The proof of my existence that I was here//
Douglas 10/03/2021minha estante
Excelente resenha, Sarah!!




Isabela 25/01/2021

aiai prazer aiai dor consegue distinguir?
É nesse livro fica naquele limbo, naquela linha tênue da distinção. O Murakami é mto leve em descrição mas mto forte em essência, transmitida pelos personagens. Cada um, até mesmo o gato, tem sua própria dor introspectiva, e é tratada abordada no livro de uma forma mto lúdica e... simples. Cada um parece "quebrado" de sua própria maneira, personagens imperfeitos, humanos mesmo...
Não me entretém mto as partes de descrição da guerra, afinal, guerra, poço e sexo são constantes nas narrativas do murakami, mas nunca vi tanto poço em um livro quanto nesse. Será que o próprio murakami já entrou em um poço e ficou lá no fundo como ele descreve nesse livro?
Vale mto a pena, a quantidade "maior" de páginas nao desestimula, as últimas páginas do livro eu fiquei com coração na mao devorando a leitura.
Douglas 10/03/2021minha estante
Adorei sua resenha ?




Encantada 03/01/2021

Surpreendente
Há muito a ser dito sobre esse livro, mas posso dizer que mais uma vez Murakami soube fazer uso do fantástico e deixou a história muito bem arquitetada.

Alguns dos mistérios eu descobri de primeira e só confirmei no final, mas em momento algum isso tirou meu interesse no livro porque não tem como saber o que vai acontecer, é tanta coisa imprevisível que só lendo para descobrir.

Os personagens são únicos, bem construídos, porém ainda acho que ele deve modificar sua abordagem no quesito da sexualização da mulher da parte dos personagens homens. Ao mesmo tempo que ele descreve mulheres fortes, independentes, que superam n desafios na vida, trabalham e atingem sonhos, ele infelizmente as deixa hiper sexualizadas.
Douglas 10/03/2021minha estante
Excelente resenha ?




Eitalizandra 15/08/2023

O que houve?
Eu não consigo nem explicar qual é o rolê desse livro, muito doido. Terminei o livro com várias pontas soltas ou eu q não fui inteligente o suficiente e não entendi! Mas amei!
Jéssica 30/08/2023minha estante
Ah não estou gostando livro mas quero terminar pq quero ler os livros da lista da amazon. Prefiro as histórias dos personagens secundários do que do principal




nelisa.magest 21/03/2024

Entendi nada
Comecei a ler não entendendo nada, quando cheguei no final, parecia que eu estava no início.
Fui ler resenhas e quem escreveu as resenhas quis fazer que entendeu, mas acho que tbm não entenderam nada.
MAAS isso não o torna um livro ruim, a história é sem pé nem cabeça, mas muito legal. Estou indicando para todo mundo, pq quero mais pessoas confusas junto comigo ?
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Renata (@renatac.arruda) 21/03/2018

Não dá para fazer uma resenha apressada desse livro, ele exige um pouco mais de reflexão, de leitura e de pesquisa. Há um tanto de realismo fantástico, do absurdo presente nas obras de Kafka, de literatura policial e não deve ser por acaso que a história começa em 1984. É tudo muito alegórico e achei curioso perceber que alguns dos elementos simbólicos presentes na história são discutidos em outro livro que estou lendo, o "Mulheres que correm com os lobos": o poder do nome (ou de nomear as coisas), o sono, as lágrimas, os sonhos. Há muitos outros e é preciso colocar a cabeça pra funcionar para tentar encaixar as peças.

Por ora, digo que é uma leitura muito prazerosa, que mescla fatos verídicos ocorridos durante a Segunda Guerra com o estranho universo construído por Murakami em uma narrativa caleidoscópica sobre destino, livre-arbítrio, escolhas, poder e consequências.

"Seu canto, ouvido apenas por algumas pessoas, as conduzia para inevitáveis catástrofes. Nesse mundo do pássaro de corda, o livre-árbítrio não existia (...). As pessoas realizavam atos que não tinham desejado e seguiam direções que não haviam escolhido, como bonecos de corda postos em uma mesa. Quase todos que ouviram o canto do pássaro de corda se depararam com a ruína e a perdição. Muitos morreram. Caindo da mesa, como bonecos de corda".

@prosaespontanea https://www.instagram.com/p/BflkSaGBKSN/

site: https://www.instagram.com/p/BflkSaGBKSN/
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Shaqit 28/04/2018

Leve ruptura no real
Abri um novo livro para ler mas acho que ainda não me curei da ressaca do último que li, Crônicas do Pássaro de Corda, terminado há alguns dias. Gosto demais dos livros de Haruki Murakami e esse foi um dos que mais me absorveram. E acho que absorver é o termo exato.
Murakami gosta de construir cenários onde as paredes entre a realidade e o absurdo, o fantástico e o imaginativo são tênues. A fronteira é apenas um borrão. E isso eu aprecio bastante. Os protagonistas de Murakami costumam ser sujeitos perdidos dentro desse mundo em que o fantástico surge em cada lugar e nos momentos mais improváveis. E eles sempre parecem aceitar o absurdo, não resistem a serem engolidos por essa realidade nova que se desdobra. Acho que Murakami tem um diálogo muito bom com o Realismo Mágico. A postura aqui não é a da ruptura da realidade que os latinos americanos inovam ao trazer e que os africanos também conseguem sustentar. Nestes, a realidade sempre teve um quê de absurda e só o mágico pode explicar.

Murakami já parece perceber o Fantástico enquanto forma de fugir da racionalização absurda que a sociedade japonesa decide apresentar. Depois do boom econômico dos anos 1980, onde tudo foi transformado em mercadoria e o valor social é apenas valor monetário, só o maravilhoso salva. Culturalmente o Japão possui toda uma tradição religiosa mística/fantástica. O conceito de kami (entidades seria uma boa tradução) é bem mais fluído e cotidiano que os das sociedades ocidentais. E parece que abrir uma brecha dentro da sociedade-ápice do capitalismo tardio para esse tipo de flutuação fantástico e onírica é a forma de Murakami (ou dos seus personagens) tentar reordenar o mundo onde o único valor real de qualquer coisa é o de mercado.

Ao ler Murakami me parece que estou sempre andando cautelosamente em um terreno irregular, onde posso pisar em falso a qualquer momento e cair em uma realidade totalmente distinta. Onde o próprio conceito de realidade me é posto em xeque. Achei, e ainda acho, incrível.
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