Guilherme.Myranda 27/08/2021
Somos quebra-cabeças complexos, não conjuntos supérfluos
Até que ponto nossa felicidade se baseia em outra pessoa? Até que ponto o amor pode ser um sentimento saudável sem se tornar uma necessidade? Podemos ser felizes com nós mesmos? ?História é tudo que me deixou? é um livro essencial para todos aqueles que se sentem incompletos e dependentes de algo que os fazem feliz. A autossuficiência é um processo que aprendemos aos poucos, somos treinados a acreditar que nossa felicidade estará totalmente completa ao encontrarmos o amor de nossas vidas, basta assistirmos um filme na Sessão da Tarde para concluir isso.
Seguindo com essa lógica, Griffin se sente completamente destruído logo após seu ex-namorado e melhor amigo Theo, morrer. A vida parecia sufocante, as chances de sua longevidade eram inóspitas, a simplicidade havia sido massacrada por um suspiro passageiro. Adam Silveira constrói uma história complexa, divertida, romântica, simples, complexa, apaixonante e avassaladora; a maneira de intercalar os capítulos com o passado e presente se torna incrivelmente essencial para o entendimento da complexidade dos personagens e suas relações. Somos colocados dentro da cabeça de Griffin, já que a narração é em primeira pessoa, sentimos tudo o que ele sente, desejamos tudo o que ele deseja, precisamos de tudo o que ele precisa.
Sabemos que o luto pode ser o começo de um fim para nós e, é exatamente o que acontece para o nosso protagonista, ele se sente sozinho, incompreendido, sem motivações, sem ânimo, sem nada. Sua construção e evolução é maravilhosamente bem escrita e desenvolvida, surpreendente foi sua trajetória na história. Há também a presença de Jackson e Wade na narrativa, personagens maravilhosos que apresentam tamanha complexidade como Griffin e Theo; simplesmente amo meus meninos. Adam não escreve perfeições inatingíveis e irreais, seus personagens são realistas, têm qualidades e defeitos humanos, decisões boas e ruins, impulsos e vontades falhas, o que garante uma imersão e identificação perfeita.
O roteiro nos trás muitos plots e desfechos imagináveis. A jornada até o fim, pelo menos para mim, foi demorada. Eu o li em aproximadamente 9 dias, tempo maior do que realmente levo, mas não foi por falta de vontade ou procrastinação, mas a história foi um espelho de meus sentimentos, um reflexo da minha cabeça, uma realidade alternativa que minhas ações se rumariam; precisei ler relativamente pouco por dia, para refletir sobre tudo, descansar meus neurônios, treinar minhas concepções sobre a vida.
Não. Eu não preciso idealizar minha felicidade na vida de outra pessoa. Eu não preciso estar com alguém para ser feliz. Eu posso sentir a vida me chamando nas coisas mais fúteis do universo. Eu sou autossuficiente. Eu sou meu próprio poço de felicidade. Nada disso significa que preciso seguir sozinho em minha jornada para a completude, muito pelo contrário: o amor, a amizade e a família são as fundações de qualquer pessoa. Mas o autoconhecimento e a autoaceitação são os pilares do nosso coração, nossos sonhos e quereres são nossas coberturas invisíveis. Não há limite aos nossos sonhos, não existem barreiras para nossas expansões; somos seres complexos e inalcançáveis, impossíveis de sermos definidos em palavras, somos galáxias individuais em processos de Big Bang.
Esta leitura mudou minha vida, me treinou a ver a felicidade em simples músicas no Spotify, me fez me entender como sou, com meu TOC, com minhas inseguranças, com minhas manias; somos seres em busca de evoluções, em busca de mais, em busca do infinito. Griffin ficou sem o Theo, sem sua pessoa favorita, sem seu primeiro amor, o processo foi doloroso e, dói até hoje, mas ele sabe que precisa seguir em frente, sabemos que precisamos seguir em frente; a vida é dura e, não podemos desperdiçar nossos preciosos minutos pensando no irreparável, devemos ao Theo, que não pode mais aproveitá-los, mas principalmente, devemos à nós mesmos, aproveitar cada segundo de nossas vidas. ?As pessoas são quebra-cabeças muito complexos, sempre tentando ter uma noção do conjunto, mas, às vezes, entendemos errado e, às vezes, ficamos incompletos. Às vezes, é melhor assim. Algumas peças não podem ser encaixadas à força, ou pelo menos não deveriam, pois não fariam sentido.?