TalesVR 27/04/2019
Bom com ressalvas
A República de Renato Janine Ribeiro é um livro dispensável, ao mesmo tempo que consegue ser prático. Faz parte de um conjunto de publicações encomendadas pela Folha, chamadas de Folha Explica, onde a intenção é ser didático, de fácil acesso para qualquer um. Sendo assim, o tema não é explorado ao máximo e não serve como guia definitivo para se entender o que é a República, mas é preciso confessar que o livro pelo menos cumpre a sua função de, em poucas páginas, distribuir o tema ao leitor.
Entendo também a necessidade de contextualizar o tema, mas exemplificar com partidos políticas atuais foi, pelo menos ao meu ver, um problema grave, fazendo com que a obra não passe pelo teste do tempo.
Mesmo assim, com todos os pesares, constrói-se a ideia do que é a República, passando pelas experiências romanas, francesas e brasileiras. Notável a admiração de Janine Ribeiro pela ideia americana do ''self-made man'', que não vingou no Brasil mas que ele propõe como possível solução para os problemas republicanos atuais. A República é a vitória do bem comum sobre o sentimentalismo da vida privada, mas isso não significa, principalmente pela ótica ocidental contemporânea, que a vida privada deva morrer. Pelo contrário, o bom funcionamento de uma República depende da participação dos seus cidadãos na manutenção da coisa pública. É um conceito que chega até a ser bonito, sendo uma lástima os problemas de corrupção e patrimonialismo vivenciados na experiência brasileira (e em tantos outros lugares).
Por fim, é uma obra que abre espaço, mesmo não sendo esse o objetivo, para a investigação da ''democracia deliberativa'', conceito bem mais explorado por Jurgen Habermas. Inevitavelmente chega-se a conclusão de que é preciso de cidadãos éticos e conscientes do seu dever, dotados de autonomia, para exercerem de fato a vida na Res publica, lugar que ao mesmo tempo que não é de ninguém, é de todos.
Frase que registra bem como deveria ser encarada a situação é a de Eduardo Portella, então Ministro da Educação durante o Regime Militar: ''Não sou ministro, estou ministro''. Não é possível enxergar a coisa pública como propriedade privada de quem quer que seja, sendo isso a degeneração do modelo e sua consequente ruína. Saio das páginas desse livrinho como um republicano, que tomará porradas da vida tentando efetivar os nobres ideais dessa doce ''ilusão'' política.