Carous 04/07/2019Mackenzi Lee se superou com este livro.
Em "The Gentleman's Guide to Vice and Virtue" eu achei o texto dela muito engessado, a tradução muito sem emoção, então foi muito difícil a história me cativar. Mas Monty foi um personagem agradável, embora me irritou as situações delicadas em que o trio se deparou foram geradas por decisões imprudentes de Monty que sequer conseguia pensar em como contorná-las. Porém, esse era o personagem. Perry era água de salsicha no enredo todo de tão irrelevante (o que é uma pena); ampliando esta definição ao romance entre ele e Monty.
Felicity foi uma princesa sem defeitos e neste livro focado nela foi promovida a rainha sem defeitos.
Mentira, ela tem defeitos sim. Mas todos compatíveis com o quadro histórico. Por exemplo, claro que ela não ia aplaudir o romance homossexual do irmão e do amigo de infância, mas como heroína da história, também não iria rechaçar.
Gostei também de como Mackenzi Lee trabalhou o feminismo da personagem, incluindo as personagens Johanna Hoffman, Sim e Sybylle Glass como contrapontos. Todas elas duvidavam da "Inferioridade do gênero feminino", e suas atitudes provavam que elas valiam tanto quanto qualquer homem e sua inteligência não era inferior a ninguém.
Mas Felicity atrelava feminilidade ao motivo da sociedade inferiorizar as mulheres. Por isso não teve problemas com Sim, mas entre ela e Johanna houve faísca. Porque não é bem assim o feminismo, mas não vou me prolongar neste assunto. Só sei que gostei da crítica inserida no livro.
Aliás, gostei de todas as críticas e pensamentos do livro, bem pertinentes e bem colocadas. O livro avançou para assuntos como homossexualidade, assexualidade, arromantismo, machismo, racismo, a colonização europeia...
Felicity não é uma princesa sem defeitos, no fim das contas. E tal qual seu irmão privilegiada no quesito cor de pele, situação financeira e nacionalidade. Nem sempre ela percebia antes de cometer uma gafe, mas tal qual Monty, foi amadurecendo. E tal desconstruindo.
Monty e Percy aparecem neste livro e felizmente muito melhor retratados do que no anterior. Finalmente consegui enxergar a doçura do romance entre eles, finalmente Percy deixou de ser tão insosso e ganhou vida.
O livro é simplesmente maravilhoso e eu não consegui largar dele. Também não sei se consegui passar através da resenha o quanto ele é importante.
Pra finalizar, um elogio à Mackenzi Lee, uma autora inglesa, branca e cis (não sei sua orientação sexual) que mergulhou de cabeça nas pesquisas para retratar com precisão os anos 1700 e incluir negros, LGBTQ+s, muçulmanos, feminismo. Ela poderia passar batido por isso e dizer que não escreveu porque não era familiarizada com essas questões, mas fez melhor.