Gabriel.Maia 17/08/2022
Muita ficção...
A canção da espada é o livro com mais elementos fictícios da saga até agora, de acordo com o próprio Bernard Cornwell, e para mim isso se traduziu em uma narrativa um pouco menos emocionante do que as três últimas, o que nos mostra como a realidade pode ser mais interessante do que a ficção.
A narrativa se passa 5 anos após os acontecimentos do terceiro livro. Vemos um Uhtred já perto dos 30 anos, mais maduro e se fazendo alguns questionamentos que não fazia antes, além de nos mostrar um lado mais sentimental, afetivo por AEtheflaed, a filha do rei Alfredo. O rei Alfredo está aumentando as defesas de Wessex por meio da construção de Burhs, que eram fortes muito bem protegidos espalhados por todo o seu domínio, e Uhtred fica encarregado da construção e manutenção de um desses Burhs em Coccham, na margem sul do rio Tâmisa. Logo no começo descobrimos que a cidade de Lundene, na Mércia, foi tomada por dois irmãos noruegueses, Sigefrid e Erik, que se aliam a Haesten, antigo servo de Uhtred, para tentarem uma nova investida ao reino de Wessex, mas para isso precisam da ajuda de Uhtred e de suas conexões com Ragnar. Bjorn, o morto mensageiro, é apresentado a Uhtred por Haesten que alega que Bjorn é um homem que morreu mas que volta à vida para trazer mensagens do além, e a mensagem que o morto tinha para Uhtred era que ele seria rei da Mércia, que atualmente era governada por Aethelred, primo de Uhtred e genro do rei Alfredo. Não preciso nem dizer que não tinham muitas chances de isso dar certo né?
É um livro muito bom, acompanhamos um Uhtred bem mais respeitado por todos e mais reservado, além de muito feliz em seu casamento com Gisela, que lhe concebeu dois filhos e está novamente grávida no decorrer do livro. Aethelred é um personagem detestável e em vários momentos queremos simplesmente que Uhtred quebre a cara dele, e mesmo que ele não nos proporcione essa cena, temos algumas bem interessantes em que nosso protagonista coloca o primo em seu devido lugar com ótimas sacadas na frente de Alfredo. Temos algumas cenas incríveis como a invasão de Lundene pelo rio, orquestrada por Uhtred, ou a batalha do padre Pyrlig no começo do livro, mas o que mais se destacou para mim nesse livro foi um romance improvável surgido de um sequestro, e o desfecho dessa história de amor me deixou de queixo caído.
Os novos inimigos são incríveis, tanto Sigefrid quanto Erik, que apesar de serem irmãos, não se parecem nem um pouco. Sigefrid é o mais velho e é o imprevisível, sedento por batalhas e estressado. Erik é a razão, aventureiro e muito inteligente, que não tem vontade de ser rei, e acabamos nos apegando a esse personagem por sua personalidade cativante e quase inocente, se o compararmos com outros vilões já apresentados.
Mais uma vez Cornwell reutilizou muito bem vários personagens antigos, a exemplo de Haesten, que consegue nos causar uma sensação estranha de que ele está sempre tramando algum plano, e Steapa que tem poucas aparições nesse volume mas em todas ele está sempre muito presente.
Como eu disse no começo, é um livro bom, mas não tão bom quanto os últimos três, e acho que isso se deve ao fato de já termos um Uhtred mais estabelecido, o que tira um pouco da magia de vermos o personagem se reerguendo e enfrentando as dificuldades. Porém isso se ameniza com o lado humano do personagem que vem muito à tona, e nos mostra que nem só de raiva e sangue vive um guerreiro.