Livros da Julie 03/04/2024Uma fantasia não tão distante dos nossos dias-----
"muito da história não está escrito."
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"Há uma arte em sorrir de uma forma que os outros vão acreditar. É sempre importante incluir os olhos; caso contrário, as pessoas vão saber que você as odeia."
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"O fim de uma história é apenas o começo de outra. (...) Pessoas morrem. Velhas ordens passam. Novas sociedades nascem."
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"Nunca se esqueça do que você é."
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"As pessoas que nos amam são as que mais nos machucam"
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"O amor é uma mentira. Não é sólido como uma rocha; em vez disso, ele se dobra e se dissolve, fraco como metal enferrujado."
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"O mundo não é justo, e por vezes não faz sentido."
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"é sempre um ato de boa liderança tratar os outros, todos os outros, com cortesia."
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"Lar são as pessoas (...) Lar é o que você leva consigo, não o que deixa para trás."
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"Quando a mente racional é forçada a confrontar o impossível repetidas vezes, não tem escolha a não ser adaptar-se."
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"nem mitos nem mistérios chegam aos pés da mais infinitesimal faísca de esperança."
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"O corpo esmorece. Um líder que perdura depende de algo mais."
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"Necessidade é a única lei"
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"[A dor] é o que nos molda"
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"Em qualquer guerra há facções: aquelas que querem a paz, aquelas que querem mais guerra por inúmeras razões"
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"Honra em tempos de segurança, sobrevivência em tempos de ameaça. É melhor um covarde vivo do que um herói morto."
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"às vezes, sobreviver requer mudanças."
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"sobreviver não é o mesmo que viver."
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A quinta estação é o primeiro livro da série A Terra Partida, lido com as @mafaguifinhos, @nleituras e @tatinessie.
No mesmo dia em que uma falha geológica é deliberadamente aberta de um lado a outro do continente com o propósito de destruir a civilização, uma mulher chamada Essun encontra seu filho de três anos morto dentro de casa. Tudo indica que o assassino tenha sido o pai da criança, que fugiu levando a outra filha. Essun parte em busca dos dois para recuperar a menina, mas a tarefa promete ser bastante difícil em meio à destruição e ao caos gerado pelo fim do mundo.
O prólogo do livro é bem atordoante, pois a autora já traz inúmeras informações geográficas e históricas sobre esse mundo alternativo chamado Quietude. Muito do que é dito no início só é compreendido bem depois, valendo, inclusive, voltar a ele de vez em quando para captar melhor as sutilezas do que foi relatado.
A autora divide o enredo em três narrativas paralelas, que oferecem diferentes perspectivas sobre a vida na Quietude e o papel dos orogenes, uma etnia detentora de um poder extraordinário, de difícil controle. Em princípio, não se sabe se as tramas ocorrem simultaneamente ou se vão se cruzar em algum momento. De todo modo, a alternância dá ritmo à leitura e contribui para aumentar o suspense em torno dos acontecimentos.
Jemisin utiliza um subterfúgio incomum, mas muito interessante para contar a história: o narrador sempre se dirige a uma segunda pessoa, ou seja, se refere a algo que "você" fez, quando está falando sobre Essun. Essa estratégia coloca o leitor na posição da protagonista, envolvendo-o no texto e tornando o drama mais pessoal.
No mundo criado por Jemisin, já ocorreram vários eventos catastróficos que quase dizimaram toda a população. Os poucos que sobreviveram precisaram enfrentar períodos de muita escassez, chamados "estações". A sabedoria advinda das melhores práticas de sobrevivência é passada adiante, geração após geração, e trechos desses ensinamentos são inseridos nos capítulos para amarrar a história, ao estilo de "Duna", "A parábola do semeador" e "Oryx e Crake".
Há uma grande correlação entre o mundo real e o ficcional, confirmada pela própria narrativa. Há classes abastadas e classes operárias, bem como errantes e indigentes, que não pertencem a nenhum grupo. Há preconceitos velados e escancarados de raça, cor, origem e orientação sexual. Há regras estabelecidas há tanto tempo que se incorporaram ao senso comum como uma religião à qual ninguém ousa questionar. Há uma educação rígida que mantém o status quo da ordem vigente. Os problemas geológicos e climáticos foram causados pelo descaso da humanidade com o meio ambiente.
À medida que a narrativa avança, é possível compreender melhor o universo descrito e se colocar no lugar dos personagens, identificando-se com seus problemas, questionamentos e dificuldades. As revelações, surpreendentes, surgem aos poucos, trazendo novos pontos de vista. Em contrapartida, a quantidade de informações aumenta próximo ao fim, tornando-se difícil reter as novidades e compreender suas implicações.
O livro não tem um final propriamente dito. A história apenas se interrompe para ser retomada no próximo volume. Este primeiro, porém, já é suficiente para nos tornar fãs da autora (com os devidos parabéns ao trabalho de tradução, especialmente pelas nomenclaturas). Com sua escrita envolvente, Jemisin conseguiu criar uma trama original, complexa e empolgante, repleta de fantasia e alegorias, mas bastante humana em seu cerne.
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