Brenniee 03/05/2022
Você tem um minuto para ouvir a palavra de Susan Cain? ''Introvertidos não são antissociais, eles apenas interagem à sua própria maneira''.
''Nossa cultura tornou uma virtude viver apenas como extrovertidos. Desencorajamos a jornada interior, a busca por um centro. Então perdemos nosso centro e temos que encontrá-lo novamente.'' - Anais Nin. Eu havia perdido o meu centro, e só percebi isso quando li esse livro; me arrependo de não tê-lo lido assim que comprei, mas culpo o terceiro ano do ensino médio por isso. Estava muito preocupada com o vestibular, e no tempo livre, estava psicologicamente muito cansada, por me forçar a lidar com muitos estímulos sociais em prol de uma pseudoextroversão motivada pelo Ideal da Extroversão. E talvez você também não tenha nenhum interesse em ler esse livro. Concordo que a capa transmite a ideia de que se trata apenas de mais um livro de autoajuda que não ajuda em nada. Mas é o que dizem: ''não julgue o livro pela capa!''. E, surpresa!!! O conteúdo do livro é mil vezes mais interessante do que a capa. E, caso você tenha achado o livro interessante, mas não tenha certeza de que vale a pena gastar seu tempo lendo-o - como foi o meu caso - leia pelo menos o capítulo de Conclusão: ''O País das Maravilhas'', porque ele resume relativamente bem o conteúdo do livro.
Apesar de saber disso tudo, não sei por onde começar a decifrar a explosão de sentimentos que foi esse livro. Tenho certeza absoluta de que foi uma das leituras com que eu mais me identifiquei; foi uma das que mais me deu vontade de viver e também a que mais me deu orgulho de ser quem sou. Conforme lia, um milhão de momentos que vivi, pessoas que conheci e até mesmo personagens de livros, filmes e séries que já vi foram surgindo na minha mente, e eu me identificava cada vez mais a cada palavra que lia.
Esse livro me resgatou de mim mesma, porque eu estava presa em um ciclo de autonegação e pseudoextroversão infinito, que me cansava e me fazia infeliz comigo mesma. E, como mencionado por Susan Cain: só vale à pena inventar uma persona pseudoextrovertida em situações que envolvem alguma paixão, algo que você não viveria sem. E mesmo nesses casos, é preciso ter o cuidado de criar nichos restauradores e ''pontos doces''. Mas, no meu caso, eu inventei essa persona pelo motivo errado: eu achava que tinha algo errado comigo por ser mais quieta e reservada. Só que não tem nada de errado. ''O truque para os introvertidos é serem fieis ao próprio estilo em vez de permitir que ele seja varrido pelas normas prevalescentes.'' Por mais que o ideal da extroversão me diga para ser mais sociável, assertiva, eloquente... Não tem NADA de errado em não ser, em ser o completo oposto.
Esse livro me forneceu estratégias para (sobre)viver em um mundo que preza pela extroversão, como por exemplo: ir às festas mas voltar mais cedo por me sentir cansada mais rapidamente por estar estar em uma situação de lidar com muitos estímulos ao mesmo tempo. Ou fazer acordos comigo mesma sobre a quantidade de interação social que farei em determinadas situações e em seguida me reservar mais, e mais tarde não me sentir culpada por não ter interagido em certos momentos. Diversas sutilezas que tornam esse livro uma peça essencial no meu processo de autodescoberta e autoaceitação.
A palavra da Susan ensina que a introversão nada mais é que uma maior sensibilidade a estímulos, sejam eles lugares, situações ou pessoas - porque pessoas são muito estimulantes, como mencionado: ''Considere que a mais simples interação social entre duas pessoas requer a realização de uma impressionante quantidade de tarefas: interpretar o que a outra pessoa está dizendo; interpretar a linguagem corporal e as expressões faciais; se revezar entre falar e ouvir, de forma sutil; responder ao que a outra pessoa disse; perceber se você está sendo compreendido; determinar se está sendo bem-recebido e, se não, encontrar uma forma de melhorar ou se retirar da situação. Pense no que é necessário para processar tudo isso de uma só vez! E isso em uma conversa com uma só pessoa. Agora imagine a quantidade de tarefas simultâneas que é necessária em uma configuração de grupo como um jantar''. Ou seja, por causa dessa maior sensibilidade, os introvertidos se cansam com muita facilidade das situações que contenham muitos estímulos. Convém ressaltar que a Susan também explica através de pesquisas científicas, o motivo da maior sensibilidade dos introvertidos em relação aos extrovertidos. ''Uma vez que você entende a introversão e a extroversão como preferências por certos níveis de estímulos, você pode começar a tentar se situar em ambientes favoráveis a própria personalidade - nem superestimulante, nem subestimulante, nem entediante, nem causador de ansiedade. Você pode começar a organizar sua vida de acordo com o que os psicólogos da personalidade chamam de ‘níveis ótimos de estimulação’ e que eu chamo de ‘pontos doces’, sentindo-se assim mais vivo e cheio de energia do que antes''.
Não tem um intervalo sequer, entre no mínimo 10 páginas, em que eu não tenha feito nenhuma marcação. Enfim, são diversos motivos que tornam esse livro a 11ª maravilha do mundo. Recomendo demais a leitura àqueles que têm curiosidade em conhecer mais a introversão, porque afinal, o mundo não é 100% extrovertido. Com certeza você conhece (ou é) um introvertido, e, seja para conhecer mais o próximo, ou para ter mais autoconhecimento, o livro é excelente nos dois propósitos. ''O amor é essencial, a sociabilidade é opcional. Valorize aqueles que são mais próximos e queridos para você. Trabalhe com colegas de quem gosta e a quem respeite. Procure entre seus novos conhecidos aqueles que podem cair na primeira categoria ou de cuja companhia você goste. E não se preocupe em socializar com todos os outros. Relacionamentos deixam todos mais felizes, inclusive extrovertidos, mas pense mais na qualidade do que na quantidade. O segredo da vida é colocar a si mesmo sob a luz certa''.