Guilherme Ramos 08/03/2019
Romance anti-clichê, recomendo!
Almas de aço conta a trajetória de vida de uma senhora de 88 anos de idade, Luciana, que no auge da terceira idade apresenta uma ótima conduta de vida e uma disposição quase fora do comum, uma mente completamente lúcida e nada leiga, uma espiritualidade ímpar que traça sua personalidade, daí o nome, almas de aço, em alusão à fé e a espiritualidade forte da nossa personagem que foi lapidada ao longo de sua vida através da dor e do sofrimento, do desapego e das desilusões, mas, também através das alegrias e das pessoas que auxiliaram em sua trajetória.
Luciana é aquele típico de Vó que desejamos ter, dinâmica, compreensiva, brincalhona, mas, acima de tudo sábia e conselheira. Não conheci minhas avós, paterna e materna e durante a leitura fiquei imaginando como seria ter uma avó, como diversas vezes imaginei no decorrer da vida, mas, dessa vez imaginei como seria ter uma avó como Luciana, acho que seria fantástico.
O livro vai tratar assuntos como preconceito com a terceira idade e como nossa sociedade muitas vezes descartam esse público em uma série de coisas; Luciana com a sua lucidez vai abordar muito isso e sobretudo resistir e debater contra tudo isso, através de sua conduta muito além das suas sábias palavras e experiência de vida e no decorrer da estória vamos ampliando nossa mente e avaliando alguns pontos de vistas, ou ideia fixas, opinião formada e etc; que possuímos mesmo que inconscientemente sobre o público da terceira idade e começamos a entender melhor o universo desse público que não é tão diferente do nosso, apenas um pouco mais sensível e delicado, mas, que também pode ser mais forte que aço, pois no traço desse público tem a transparência e a sabedoria, que é indispensável com a maturidade.
É um livro fantástico, trás outros temas como depressão e suicídio, traição, desapego e dependência emocional, mas, toda a narrativa gira em torno de Luciana e sua história de vida, o que faz o livro entrar no hall dos anti-clichês, principalmente com um final imprevisível e ao mesmo tempo simples e comum. Fiquei positivamente muito impactado com essa leitura. Lembro que na noite que terminei de ler esse livro, havia acabado de descer da condução e alguns metros a frente, estava parado um ônibus de viagem, executivo e um agente de viagem retirando a mala de uma senhora que julguei ter por volta de 70 anos de idade, cabelo longos, compridos, totalmente alvos, sem uma gota de tintura, ela sorria, feliz por chegar e eu não sei se chegava de viagem ou se chegava para a viagem, mas, sorria e estava só, sem marido ou esposa, sem filhos nem netos, sem táxi ou qualquer outro carro a esperar, era só ela e o agente de viagens e logo mais seria apenas ela e só, independente e até astuta, absoluta. Nela eu vi Luciana, a personagem desse livro, como que para completar minha leitura, minha lição. Fisicamente só, espiritualmente amparada. Mente sã e uma alma de aço escondida num corpo aparentemente frágil, parecia poesia, parecia devaneio, mas, era real, apenas minha consciência se expandindo mais uma vez...
Parabéns Ana cristina Vargas, livro lindo!