Emme, o Fernando 11/11/2017Um "shake" de cavalaria e teatro nacionalista !Por ser descendente direto dos reis capetos Filipe IV, o Belo, e Filipe III, o rei inglês Eduardo III reivindica o trono francês, dando início à Guerra dos Cem Anos.
A peça toda é repleta do nacionalismo inglês típico da época. Essa é uma das peças do primeiro ciclo histórico (em ordem cronológica dos temas: Eduardo III, 1º Henrique VI, 2º Henrique VI, 3º Henrique VI e Ricardo III), escritas todas no início da carreira de Shakespeare.
É possível perceber vários pontos "típicos" de Shakespeare (algumas construções, algumas imagens, o efeito dramático em desconsideração dos factos históricos...), e é uma peça que tem valor por si.
A construção da trama se utiliza de factos históricos para construir uma peça "histórica", mas é possível perceber, embora eu não tenha visto isso em nenhuma crítica, uma base que vem dos contos medievais de cavalaria.
Nos dois primeiros atos, a ação se dá em torno da paixão carnal do rei Eduardo III pela condessa de Salisbury e eu vi muitos comentários de pessoas que assistiram à peça na Inglaterra e EUA dizendo que isso não fazia muito sentido (a peça passa os dois primeiros atos em uma resistência amorosa e os outros três nos campos de batalha franceses).
Mas se a gente se lembra da construção dos contos medievais de cavalaria (e.g. Sir Gawain e o Cavaleiro Verde), isso passa a fazer sentido: assim como Gawain, Eduardo III, vence suas paixões carnais, mostrando ser uma pessoa honrada e depois segue para a batalha em que a coragem, a força e a palavra deve ser mantida como prova da honradez do caráter.
Claro que isso se dá ao modo de Shakespeare: é na verdade a condessa de Salisbury que se recusa a dormir com o rei com uma retórica bastante inteligente (como Shakespeare muitas vezes gostava de imprimir em suas personagens mulheres).