O crocodilo

O crocodilo Fiódor Dostoiévski




Resenhas - O Crocodilo


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Jardim de histórias 28/12/2022

Notas de inverno sobre impressões de verão. 
 viagem profunda no pensamento do homem supérfluo sob influência europeia. Uma descrição crítica publicada em 1862/63 que mostra a cultura europeia atrelada aos grilhões do capitalismo, como uma classe proletária com delírios burgueses. Para aprofundar na história, é necessário voltar a Rússia no início século VIII durante o império de Pedro o Grande, que durante suas viagens a França, iniciou-se, o período de reforma modernista.
Com um olhar bastante crítico, Dostoiévski, não só direciona a sua crônica ácida de presunção pomposa europeia, mas também para figuras da própria Rússia, como poetas, críticos, figurões, sobrou até para Tolstói. Em geral, Dostoiévski transmite sua impressão de uma sociedade subvertida pela cobiça e consumida pela vaidade de um status quo da perfeição moral. Um verdadeiro retrato de uma burguesia que sobrevive da pilhagem assombrada pela classe operária e pelo fantasma do comunismo. Por fim, essa obra é considerada pela crítica, como um documento introdutório de seu período mais criativo. 
Jardim de histórias 28/12/2022minha estante
Estudar a vida e a obra de Dostoiévski, é como me debruçar em uma fábrica de sonhos. Como se em cada história pudesse ouvi-lo pessoalmente.




Amélia Galvão 25/05/2020

São dois textos escritos na década de 1860, a mesma da publicação de "Crime e castigo" (1866). "O Crocodilo" (1865) é uma novela inacabada permeada de aspectos fantásticos e cômicos e é uma sátira genial sobre o capitalismo. "Notas de inverno sobre impressões de verão" (1863) é um relato de viagem que transborda ironias e críticas à alta sociedade russa e à burguesia europeia, principalmente a francesa.

Eu amei a novela "O crocodilo"! Seu estilo cômico e fantástico foi inspirado nos textos de Nikolai Gógol e Dostoiévski disse, inclusive, que queria imitar a novela "O nariz" e fazer algo apenas para rir. Mas, estamos falando de Dostô, então é lógico que esse texto não provoca apenas risadas, mas várias reflexões também.

A leitura do crocodilo pode ser feita em várias camadas. Pode ser apenas um texto divertido ou podemos mergulhar mais a fundo e ver as metáforas e os símbolos empregados pelo autor. Ambas as leituras são prazerosas, mas confesso achar muito mais interessante e divertida essa última. Para a conseguirmos fazer é necessário um pouco de conhecimento sobre a Rússia nesse período e também sobre o que Dostoiévski pensava.

Aviso que a novela não foi finalizada e que isso não diminui nem um pouco a sua qualidade, apenas nos deixa com o sentimento de quero mais. A história é sobre Ivan Matviéitch, um pequeno funcionário público russo, o qual, antes da sua viagem para a Europa, decide visitar uma exposição de animais estrangeiros onde há um crocodilo. O problema se inicia quando esse réptil o engole.

Sem a pretensão de fazer uma análise detalhada, quero mencionar alguns aspectos. Alerto que nada está no texto por acaso, as descrições, as palavras, tudo é escolhido a dedo por Dostoiévski, como, por exemplo, o fato de Ivan pretender viajar à Europa, da exposição ser de animais estrangeiros e de ser propriedade de um alemão. Ao meu ver o crocodilo é uma representação do capitalismo europeu engolindo a Rússia. Inclusive, uma personagem do livro, colega de Ivan, afirma que ele "só tratava de 'progresso' e de umas certas ideias, e eis aonde conduziu o progresso", ou seja, Ivan era um ferrenho defensor das ideias ocidentalistas, acreditando que a Europa ocidental seria o modelo de progresso a ser seguido, mas ele acaba engolido por aquilo que ele defendia.

Na história é explicado que a palavra crocodilo vem da raiz francesa croquer, a qual significa comer ou devorar e é descrita como característica fundamental do réptil o engolir gente, que as suas entranhas deveriam incessantemente engolir e se encher de tudo o que esteja à mão. Para mim, Dostoiévski está aqui enfatizando a voracidade, a selvageria do modelo burguês europeu, o qual engole tudo que está ao seu alcance.

Também há muitas ironias e críticas à burocracia russa, bem como àqueles que pensam ser tudo melhor na Europa ocidental. Algumas personagens apresentam ideias desumanas e colocam o "princípio econômico" acima de tudo, pregando a exploração e o sacrifício do homem russo pelos estrangeiros. Inclusive, uma chega ao cúmulo de caracterizar Ivan como alguém vil por ter "se deixado" engolir pelo crocodilo e lhe causar sofrimento, ou seja, há uma clara inversão de papéis.

É uma novela, infelizmente, ainda bastante atual, a qual critica não só o pensamento ocidentalista e a burguesia europeia, mas principalmente a desumanidade das pessoas, o descaso delas em relação ao próximo e a não valorização do indivíduo, o qual é visto apenas como uma ferramenta descartável.

Já "Notas de Inverno sobre impressões de verão" é um texto muito próximo a um ensaio e em que a falta de algum conhecimento sobre a Rússia e sobre Dostô pode dificultar a percepção das ironias e diminuir a graça e a compreensão do texto. Trata-se de um relato de viagem, no qual ele comenta suas percepções da França, Inglaterra e Alemanha e as relaciona com aspectos da sociedade russa.

Eu também amei essa leitura e sua ironia e acidez me lembraram Machado, já as descrições da sujeira e miséria das cidades me lembraram o Dickens. Nesse relato, Dostoiévski se utiliza da viagem para criticar principalmente os ocidentalistas russos e a burguesia francesa e inglesa. Os ocidentalistas viam a Europa ocidental como o exemplo de progresso a ser seguido e desejavam importar vários comportamentos, teorias e modelos, fossem no ramo das artes, da ciência, filosofia, economia ou outras áreas.

Dostoiésvki faz várias críticas a veneração cega que muitos russos tinham pelos europeus, principalmente pelos franceses e da necessidade de andar com rédeas alheias. Ele critica a valorização dos ideais burgueses, os quais prezavam, entre outros, por um comportamento de aparências, pela exploração dos menos favorecidos e pela submissão da mulher. Ele compara Petersburgo com Paris e Londres, justamente por sua criação se basear nos moldes das metrópoles europeias. Era para ela representar a modernização e o progresso da Rússia. No entanto, o que se enxerga em todas elas são miséria, sujeira e sofrimento. São pessoas passando fome, prostituindo-se e sendo exploradas enquanto a única coisa que importa é o acúmulo de capitais e bens.

Ele critica também a falsa moralidade, o falso pudor e o falso cristão. Critica os nobres russos que se dizem tão avançados por se vestirem como burgueses e seguirem esses pensamentos, mas que continuam a tratar com crueldade seus criados, utilizar-se das mesmas maneiras patriarcais com suas famílias e tratar com tirania suas mulheres. Que espécie de progresso é esse? Dostoiévski nos mostra que a alta sociedade russa acusava seu povo de barbárie, ridicularizava a cultura local e adorava cegamente a civilização europeia, no entanto o que ela fez ao tentar os imitar foi apenas trocar alguns preconceitos e baixezas por outros ainda maiores.

Há reflexões sobre o socialismo, o comunismo, a burguesia, a autocracia, o cristianismo, o papel da mulher e natureza do ser humano. Ele acreditava que o problema da sociedade estaria ligado à natureza do homem, à estruturação da sociedade na razão ao invés do sentimento. Para ele o homem ocidental teria uma natureza individualista, a qual o impede de uma fraternidade autêntica. Seria preciso que "se tenda instintivamente à fraternidade, à comunhão, à concórdia [...]", em síntese: é preciso amar.

Enfim, é uma leitura densa, divertida, reflexiva e essencial para aqueles que desejam conhecer mais o autor. Recomendo muito, mas não como uma porta de entrada. Acredito que seja melhor começar com o "Crime e Castigo" por ser uma obra mais palatável da sua fase madura.
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Adriana Scarpin 22/05/2021

O Crocodilo
Para os que pensam que foram os comunistas a inventar a burocracia russa, Dostoievski já a satirizava muitos anos antes. O Crocodilo me parece mais próximo de Kafka do que do próprio Dostoievski, toda essa gama de elementos burocráticos oriundos de um elemento insólito: fazer-se engolir por um crocodilo permanecendo vivo e enredado pelas situações de fora, o próprio homem era funcionário público e burocratizava a si mesmo dentro do crocodilo.
É quase uma versão menos bem acabada de A Metamorfose de Kafka.


Notas de Inverno sobre Impressões de Verão:
Um diário de viagem para quem estuda a fundo Dostoievski, as notas sobre a burguesia parisiense dariam orgulho a Proust.
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Cíntia 24/05/2023

"Em primeiro lugar, o crocodilo, para meu espanto, é completamente vazio."
"Enquanto se procura uma solução, o tempo passa."
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Lipe 29/01/2021

Projeto: Dostoiévski em Ordem Cronológica
Obra que reúne dois textos de Fiódor Dostoiévski. "O Crocodilo" (1865) trata-se de uma novela inacabada do autor e possui características do realismo fantástico mesclado à comicidade, porém sem deixar de ter críticas sociais, mais especificamente, à burocracia estatal; modernização da Rússia segundo os costumes e valores europeus; e apatia do ser humano ao sofrimento alheio - "individualistas e de atos financeiros". Apesar do texto não se restringir somente a essas camadas, acredito ser as que mais saltam aos olhos do leitor. Apesar de se tratar de um texto inacabado ele não perde sua qualidade e boa construção. Já o texto "Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão" (1863) encontramos um relato de viagem do autor à Europa Ocidental, com observações, críticas, esboços e comentários a respeito do modo de vida (personalidade) francês, inglês e alemão. De prosa mais incisiva o autor o escreveu após ser desafiado por amigos a fazer tais registros de impressões de uma viagem realizada em 1862.
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Jaqueline 30/04/2022

Mesmo tendo pesquisado antes sobre as duas histórias para entender melhor o contexto e o momento histórico em que elas ocorriam, a leitura foi extremamente difícil para mim. Normalmente gosto de elementos fantásticos, porém em O Crocodilo eles eram tão absurdos que acabaram dificultando um pouco a minha compreensão do aspecto satírico utilizado na crítica a sociedade da época. Já em relação às Notas de inverno sobre impressões do verão, senti que o autor quis trazer muitos elementos que acabaram tornando a leitura cansativa e até mesmo confusa em alguns momentos. Da cronologia que fiz até agora, definitivamente essa foi uma das leituras que menos gostei.
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Tellys 15/09/2020

Duas obras de um Dosto irônico e até engraçado
Dostoievski em versão politicamente engajada, formulando mediante críticas mordazes e inteligentes, sua opinião sobre o embate existente na Rússia de sua época entre a cultura europeia e a eslavófila que disputavam a prevalência do debate público.
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Cris 26/02/2024

26.02.2024
Gostei bastante das impressões que Dostoiévski menciona em sua viagem à Europa, Alemanha, Londres, França e Itália. Em relação ao conto O Crocodilo, é uma sátira que beira o absurdo. Alguém em sã consciência gostaria de morar dentro de um crocodilo?
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Pedro.Yes. 10/01/2010

(...) com o murmurejar das águas, lhe recordam que... etc. etc
Admito que fiz um esforço para terminar essas duas obras. Ambas satíricas, tive a sensação de entrar em um território estrangeiro, loooonge longe demais para mim; mas teve suas vantagens.

"O Crocodilo" é um conto inacabado que retrata muito bem falsos valores presentes até hoje na sociedade. Apesar de não ser conclusivo, seu objetivo geral é percebido em suas páginas.

"Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão" é o que me realmente me passou a sensação incialmente descrita. Dostoiévski relata sua viagem pela Europa, principalmente pela Alemanha, França e Inglaterra. Não possuo conhecimentos literários e históricos aprofundados quanto a esses países e isso constituiu uma difculdade no acompanhamento de seus relatos ironizados e críticos.
No entanto, foi possível aproveitar muitos de seus discursos, principalmente no que se trata do sonho Russo de se igualar ao resto da Europa no século XIX e da sua sociedade burguesa.

Possivelmente leitores mais assíduos do autor aproveitarão melhor "Notas...", ou então estudantes de História. Acredito que seu segredo - na verdade, sua peça fundamental - está no contexto do livro.
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pirocadeperuca 10/01/2023

as críticas em O Crocodilo são expressas de modo mais leve, mais cômico, em meio a um conceito absurdo. de leitura agradável, me é mais querido.
já Notas de Inverno, alem de ser maior, é até um pouco maçante. ainda assim, em diversos pontos, dosty maceta.
aqui um excerto:
"Roubar é feio, ignóbil, e leva às galés; o burguês está disposto a perdoar muita coisa, mas não perdoará o roubo, ainda que você ou os seus filhos estejam morrendo de fome. Mas, se você rouba por virtude, oh, então tudo lhe é perdoado! Você deseja faire fortune e acumular muitos objetos, isto é, cumprir um dever da natureza e da humanidade. Eis por que no código estão discriminados com toda a clareza os artigos referentes ao roubo por um motivo baixo, por algum pedaço de pão, por exemplo, e o roubo movido por uma alta virtude. Este último está protegido no mais alto grau, estimulado e organizado de modo extraordinariamente firme."
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Lilianefonz 18/10/2020

"O princípio econômico em primeiro lugar"
Um conto satírico e bem humorado de uma sociedade Russa da época.
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Davi 29/07/2022

O Crocodilo
Uma inteligente crítica à ocidentalização/europeização da cultura russa, ou mesmo da cultura oriental em geral; como um jacaré que engole um homem, que se mantém vivo nas entranhas do animal.
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Pedro 17/08/2020

O crocodilo foi meu primeiro contato com a escrita do autor, logo no início do conto ja é perceptível a questão da ganância. Através do chamado princípio econômico, que os personagens usam para justificar atos individualistas de interesse financeiro. O crocodilo poderia ter um fim, porém por mais inusitado que seja, acho que sua ausência de um desfecho geral é o que torna o texto único, e a forma como acaba ja nos permite imaginar toda a sequência. É uma novela totalmente atual, onde as críticas a construção social capitalista estão estampadas nos interesses de cada personagem.

Sobre as notas de inverno, foi uma leitura particularmente gostosa de se fazer. Os textos são quase conversas com o autor, onde em muitos momentos ele se refere ao próprio leitor, como se fôssemos amigos íntimos. Sua habilidade na escrita é impressionante, de forma que existe um capítulo em que ele reserva só para escrever sobre coisas supérfluas e consegue com maestria fazer dele um momento relevante do relato de viagem. Suas descrições vão além do propósito do texto, dão abertura para reflexões sobre a sociedade inglesa, francesa e russa da época.
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Edna 05/05/2020

Bizarro e satírico
"O Crocodilo" ? Uma novela com gênero fantástico satírica que ficou inacabado. A idéia de escrita surge das leituras de Gogol como O Nariz que inspira Dostô que desafia a crítica que o tinha como um escritor sorumbático na época.

Um Crocodilo que exposto em uma galeria por um empresário alemão em uma dessas apresentações engole o funcionário público Russo,
que se acomoda no estômago do Crocodilo e se comunica com a esposa e com o amigo e surpreendentemente se sente à vontade no interior do animal, e diz que agora sim, pode trabalhar e ser útil, o que nos faz refletir que o que Ele queria era o fama, os falsos valores, queria ser notado, o que consegue, vira matéria dos jornais e dos rádios corredores. E ninguém se preocupa com a situação dele, veem logo uma vantagem e um novo investimento para melhorar a economia. esposa que já se sente viúva no dia seguinte ao ocorrido, é muito bizarro embora a crítica esteja presente
"Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão" ? É um ensaio que relata uma viagem no verão de 1862 que Dostoievski fez pela Europa, passando pela Alemanha, França, Canal da Mancha, Itália, Suíça e Inglaterra e Rússia e em alguns pontos vai estar na volta também, uma viagenzinha básicas de mais de dois meses pela Europa e Ocidente no século XIX.

Ele narra os detalhes dos cenários, e ao aprofundar a leitura você percebe uma avidez que Ele observa sim mas principalmente os costumes das pessoas dos Russos que insistem em imitar os Europeus, e aborda bastante o Francês de Paris que Ele acentua qualquer francês pobre ou rico tem um aspecto nobre, faz crítica dos casamentos por interesse e da falsa nobreza. Muita história embutida.

É isso! Gostaram?

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