lucca 28/02/2024
"i remember everything."
quotes:
Foi a incômoda desconfiança que senti ao finalmente perceber, tanto ali como na conversa despreocupada perto dos trilhos do trem, que o tempo todo, sem que parecesse, sem nem mesmo admitir, eu já estava tentando ? sem sucesso ? conquistá-lo.
Você vê a pessoa, mas não a enxerga de verdade, ela simplesmente está por ali. Ou até enxerga, mas nada bate, nada ?chama a atenção? [...]
? Você não pode simplesmente tocar Bach como Bach compôs?
Estávamos ? e ele deve ter reconhecido os sinais muito antes de mim ? flertando.
Naquela noite, escrevi em meu diário: Eu estava exagerando quando disse que achei que você tinha odiado a peça. O que eu quis dizer foi: achei que você me odiava. Esperava que você me convencesse do contrário? e me convenceu, por um tempo. Por que não vou acreditar nisso amanhã de manhã?
Não fomos escritos para um único instrumento; eu não fui, nem você.
[...] porque gosto de fazer as coisas para você, farei qualquer coisa por você, é só pedir, gostei de você desde o primeiro dia e, [...]
[...] por favor, por favor, me diga que estou errado, me diga que imaginei tudo isso porque não pode ser verdade para você também e, se for verdade para você também, então é o homem mais cruel que já existiu.
Faça o que quiser comigo. Sou seu. Basta perguntar se eu quero e esperar pela resposta, mas não me faça dizer não.
É como a sensação de voltar para casa, como voltar para casa depois de anos entre troianos e lestrigões, como voltar para casa onde todos são como você, onde as pessoas sabem, simplesmente sabem? [...]
O silêncio poderia me expor. Mas o esforço para superá-lo na frente dos outros certamente me expunha ainda mais.
Será que tinha percebido que eu estava pronto não só para ceder, mas para me moldar ao corpo dele?
Esse foi o sentimento que registrei em meu diário naquela noite: chamei de ?o desfalecer?.
O verão em que aprendi a amar pescar. Porque ele amava. A amar correr. Porque ele amava.
Como ele seria capaz de perceber tantos caminhos tortuosos nos outros a não ser que também os percorresse?
Talvez não houvesse nada ali, talvez eu tenha inventado tudo. Mas nós dois sabíamos o que o outro tinha visto.
? Será que devemos?
Foi o mais perto que cheguei de dizer Fique. Só fique aqui comigo.
Mas antes do dia em que ele saiu daquele táxi e entrou em nossa casa, nunca teria parecido minimamente possível que alguém tão jovem e tão em paz consigo mesmo desejaria compartilhar seu corpo comigo tanto quanto eu desejava entregar o meu.
? Eu quis.
Ele quis, pensei.
Que o verão nunca acabe, que ele nunca vá embora, que a música toque para sempre, estou pedindo tão pouco, e juro que nunca mais vou pedir nada.
Talvez eu quisesse que ele ao menos falasse que não havia nada de errado comigo, que eu não era menos humano que qualquer outro cara da minha idade.
Eu era Glauco e ele era Diomedes. Em nome de um culto obscuro entre homens, eu trocava minha armadura de ouro por seu bronze. Troca justa.
Pois logo chegará o dia em que levantarei a cabeça e você não estará mais ali.
Eu sabia que não tinha nada que o prendesse, nada a oferecer, nada que o atraísse.
Eu não era nada.
Só um garoto.
Eu queria que ele morresse também, então se eu não conseguisse parar de pensar nele e de imaginar quando o veríamos novamente, ao menos a morte colocaria um fim nisso.
O que eu não percebia era que essa vontade de testar o desejo nada mais é do que um ardil para conseguir o que se quer sem admitir o desejo.
Então seria ele meu lar, meu regresso? Você é meu regresso, Oliver.
Você me faz gostar de quem eu sou, de quem me torno quando você está comigo. Se existe alguma verdade no mundo, ela existe quando estou com você, e se eu tiver coragem para contar minha verdade a você um dia, me lembre de acender uma vela em cada altar de Roma para dar graças.
Mas eu também sabia que estava me protegendo atrás da ideia de tente de novo depois, e que meses, estações, anos inteiros, uma vida passariam e eu não teria nada além de tente de novo depois carimbado em todos os meus dias.
? Às vezes a única maneira de entender um artista é se colocar no lugar dele, estar dentro dele. Então todo o resto flui naturalmente.
As coisas que você sente e pensa que só você sente, acredite, vivi e sofri todas elas, mais de uma vez; algumas nunca superei e de outras sei tão pouco quanto você, mas conheço cada curva, cada pedágio, cada compartimento do coração humano.
Diga alguma coisa, me toque, Oliver. Olhe para mim por tempo suficiente para ver as lágrimas marejando meus olhos.
Se a juventude se limitar ao trote, quem andará a galope?
Se eu não era mais transparente e agora conseguia disfarçar parte tão considerável da minha vida, então finalmente estava a salvo, deles e dele ? mas a que preço? E eu queria mesmo estar a salvo de qualquer pessoa?
? Se você ao menos soubesse quão pouco sei sobre as coisas que realmente importam.
? Você sabe muito bem que não vou a lugar nenhum.
Se isso não é mais uma confissão, o que seria?
? Não. Ninguém gosta de ficar sozinho. Mas aprendi a conviver com a solidão.
? Você é sempre sábio assim?
Eram momentos como esse que faziam eu me sentir tão vulnerável, tão exposto. Você me provoca, me deixa nervoso e, se eu não revidar, você já me expôs.
Talvez os antigos estivessem certos: não faz mal sangrar de vez em quando.
[...] e conte histórias de pessoas inquietas que sempre acabam sozinhas e odeiam estar sozinhas porque é a si mesmas que não suportam?
Era aqui que eu sonhava com você antes de você entrar na minha vida.
[...] me disse a única coisa que eu jamais teria adivinhado até então: que não pagar o preço de dar a ele o que eu queria dar poderia ser o maior crime de toda a minha vida.
O que eu queria preservar era o suspiro pesado em sua voz que ficou comigo por dias, e se pudesse tê-lo assim em meus sonhos toda noite, passaria o resto da vida nos sonhos e desistiria da realidade.
? As pessoas que leem se escondem. Escondem quem são. Pessoas que se escondem nem sempre gostam de quem são.
? Por quê? Acho que você pode me machucar e não quero me machucar. ? Então ela pensou por um instante. ? Não que seja sua intenção machucar alguém, mas por estar sempre mudando de ideia, sempre pulando de uma coisa à outra, ninguém sabe onde encontrar você. Você me assusta.
Não me importava com ele nem com seus ombros nem com o branco de seus braços. A sola de seus pés, a palma de suas mãos, a parte inferior do seu corpo? eu não me importava.
Quero conhecer seu corpo, quero conhecer seus sentimentos, quero conhecer você e, através de você, conhecer a mim mesmo.
? Me chame pelo seu nome e eu vou chamar você pelo meu.
? É a sua cara não saber. Não quero me arrepender de nada? incluindo aquilo que você não permitiu que eu falasse hoje de manhã. Mas me assusta pensar que eu possa ter perturbado você. Não quero que nenhum de nós dois tenha que pagar de um jeito ou de outro.
Ou a presença do outro, que ontem de manhã quase parecia um intruso, se torna cada vez mais necessária porque nos protege do nosso próprio inferno, e a mesma pessoa que causa nosso tormento ao amanhecer é quem o alivia à noite?
Talvez fôssemos amigos em primeiro lugar e amantes em segundo.
Mas talvez os amantes sejam exatamente isso.
? Recusei tantos convites. Nunca fui atrás de ninguém.
? Veio atrás de mim.
? Você deixou.
? [...] São pessoas que reconhecemos imediatamente, embora nunca as tenhamos visto, e não há palavras para o que causam em nós nem para o que parecem querer de nós.
? Acho todo esse papo sobre São Clemente bem charmoso, e gosto da ideia de que a vida às vezes é gentil o suficiente a ponto de oferecer metáforas funcionais para nos ajudar a ver quem somos, o que queremos, para onde estamos indo. Mas uma metáfora é uma coisa, e a vida é totalmente outra.
[...] comecei a me perguntar o que todo aquele papo sobre São Clemente tinha a ver conosco ? como nos movemos no tempo, como o tempo se move através de nós, como mudamos e seguimos mudando e voltamos a ser os mesmos.
Três dias antes, pegamos exatamente aquele trem. Eu me lembrei de ter olhado pela janela e pensado: Em alguns dias, você vai estar de volta, e vai estar sozinho, e vai odiar estar sozinho, então não permita que isso o pegue de surpresa. Esteja preparado.
E se eu não fosse capaz de suportar a noite sem ele ao meu lado, dentro de mim? E aí?
Pensar na dor antes da dor.
[...] como se o gesto me dissesse Eu acredito com cada célula do meu corpo que cada célula do seu não deve, nunca deve morrer, e se tiver que morrer, que seja dentro do meu corpo.
? Vocês dois tinham uma amizade bonita.
? Você é inteligente demais para não saber como era raro e especial o que havia entre vocês.
? Inteligente? Ele era mais do que inteligente. O que havia entre vocês tinha tudo e nada a ver com inteligência. Ele era bom, e vocês dois tiveram sorte de se encontrar, porque você também é bom.
? Acho que ele era melhor do que eu, pai.
? Tenho certeza de que ele diria o mesmo sobre você, o que diz muito dos dois.
? Não tenha medo. Virá. Pelo menos eu espero que venha. E quando você menos espera. A natureza sabe como encontrar nossos pontos mais fracos. Apenas se lembre: estou aqui. Agora talvez você não queira sentir nada. Talvez você nunca tenha desejado sentir nada. E talvez não seja comigo que você vai querer falar sobre essas coisas. Mas você sentiu algo, sim.
? [...] No seu lugar, se houver dor, cuide dela, e se houver uma chama, não a apague, não seja bruto com ela. Arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos das coisas mais rápido do que deveríamos, que declaramos falência antes mesmo dos trinta e temos menos a oferecer a cada vez que iniciamos algo com alguém novo. A abstinência pode ser uma coisa terrível quando não nos deixa dormir à noite, e ver que as pessoas nos esqueceram antes do que gostaríamos de ser esquecidos não é uma sensação melhor. Mas não sentir nada para não sentir alguma coisa? que desperdício!
? [...] Como você vive sua vida é problema seu. Mas lembre-se, nossos corações e nossos corpos nos são dados apenas uma vez. A maioria de nós teima em viver como se tivesse duas vidas, uma é a maquete, a outra a versão final, e todas as versões entre elas. Mas a vida é só uma, e antes que você se dê conta, seu coração se cansa e, quanto ao seu corpo, chega um momento em que ninguém mais olha para ele, muito menos quer chegar perto dele. Agora há tristeza. Não invejo sua dor. Mas invejo sua dor.
O tempo nos deixa sentimentais. Talvez, no fim, o tempo seja o motivo pelo qual sofremos.
? Você é a única pessoa de quem eu gostaria de me despedir quando morrer, porque só assim essa coisa que chamo de vida vai fazer algum sentido. E se eu ficar sabendo que você morreu, a vida como a conheço, o eu que está falando com você agora, vai deixar de existir.
? Cor cordium, coração dos corações. Nunca disse nada mais verdadeiro a ninguém na vida.
Encontramos as estrelas, você e eu. E isso só acontece uma vez na vida.
? Sou como você ? disse ele. ? Eu me lembro de tudo.