Julia G 20/03/2018Divina EssênciaEmbora Helena Andrade tenha publicado outro livro pela Ler Editorial, com resenha aqui no blog, somente agora com Divina Essência tive oportunidade de conhecer por mim mesma a escrita da autora. Gostei muito da forma como a autora construiu a sua história e me senti tocada em diversos momentos, mas alguns detalhes também me incomodaram. Esse conflito entre coisas boas e não tão boas tiraram um pouco o brilho da leitura, e tornou um livro que poderia ter sido marcante em apenas um bom livro.
Divina Essência é narrado em primeira pessoa por Melissa, uma bióloga que busca em uma planta rara a cura para a talassemia, uma doença genética que influenciou muito alguém que ela amava. Durante a pesquisa, que envolve uma equipe bem diversificada, ela conhece Lorenzo e Giovanni, que se tornam muito importantes para ela e para a pesquisa. Melissa só não poderia imaginar que teria um novo motivo pessoal para continuar a busca de uma cura para essa doença, que criou implicações em outras áreas de sua vida.
Pode parecer um pouco contraditório o que vou dizer, mas acompanhar essa história foi um processo complexo para mim. Isso porque, a cada característica dada à obra pela autora, eu tinha sentimentos bastante conflitantes e, ao mesmo tempo em que achava algo muito bom, achava também algo que, de alguma forma, não se encaixava. Por exemplo: achei que o casal protagonista se apaixonou rápido demais e, por um tempo, não consegui acompanhar esse sentimento. Por outro lado, em outros momentos me senti tão envolvida que sofri junto dos personagens. E não foi algo linear, que eu compreendi com o tempo e passei a sentir depois; foi mais como uma montanha russa, ora eu estava completamente envolvida pelo romance, ora era quase indiferente, intercalando esses momentos durante a trama.
Outro aspecto que trouxe esse conflito para mim, foi eu ter imaginado que o livro seria muito mais voltado para pesquisa do que para romance. Eu gostei disso por um lado, porque as cenas que falavam da busca pela flor me deixavam um pouco entendiada; em outros momentos, eu senti falta daquele "estalo", daquela descoberta que mudaria todo o rumo da trama, o que só aconteceria se o foco da narrativa fosse o estudo.
Também achei que a autora se estendeu em alguns pontos que não eram essenciais, criou personagens dispensáveis e acabou arrastando a história além do necessário. Por alguma razão, era como se eu não estivesse na mesma frequência da autora e, enquanto ela me dava alguma coisa, eu queria outra. Acredito que esses pontos impediram meu envolvimento completo com a trama, mas pode ser culpa também do meu humor inconstante durante a leitura.
De todo modo, acredito que tenha sido de grande relevância mostrar a questão da talassemia, as implicações do doença, ainda sem cura, o cuidado constante que se faz necessário. Foram essas passagens que mais me tocaram, que mais me alcançaram como leitora e que, em várias cenas, me emocionaram. Senti também meu peito apertar por Lorenzo, mais do que por Giovanni, e fiquei emocionada com o final entre Afonso e Melissa. Só de escrever sobre isso agora me vem lágrimas nos olhos e um aperto à garganta, pois a mensagem que ficou foi de esperança e de amor.
Aliás, acho que o ponto alto do livro de Helena Andrade foi a construção das relações interpessoais. A autora soube mostrar as amizades e os vínculos familiares de uma forma complexa e por vários vieses, sem se deter em uma construção superficial. Os conflitos eram bastante reais e intensos, o que, como acontece na vida real, não minimiza o sentimento existente entre as pessoas.
Divina Essência trouxe sim um conflito para mim como leitora, com aspectos ótimos e outros que poderiam ter sido melhor desenvolvidos, mas nada tira a certeza de que se trata de uma obra linda e tocante.
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